NOVA YORK, EUA (FOLHAPRESS) – Simon Stiell, secretário-geral da UNFCCC, o braço climático da ONU (Organização das Nações Unidas), defende que as tecnologias de IA (inteligência artificial) devem ser aplicadas no combate ao aquecimento global, mas desde que usadas com energias renováveis.
“IA não é uma solução pronta e carrega riscos. Mas também pode ser uma virada de jogo. Nós precisamos atenuar seus perigosos limites […] e colocá-la para trabalhar astutamente”, afirmou.
Em discurso durante o primeiro dia da Semana do Clima de Nova York, nesta segunda-feira (22), Stiell também disse que foi criado um grupo de especialistas independentes para avaliar e sugerir mudanças na UNFCCC -o que inclui as negociações da COP, a conferência de clima da ONU e que este ano será em Belém.
A inteligência artificial é alvo de críticas de ambientalistas porque usa uma grande quantidade de energia para alimentar seus data centers -megacomputadores para processamento de dados.
Também há um receio que a IA seja usada para substituir pessoas em setores da economia, o que pode impulsionar o desemprego.
Stiell defende que a tecnologia deve ser usada para construir soluções climáticas, mas precisa se adaptar para mitigar seu impacto ambiental e preservar empregos.
“Se você comanda uma grande plataforma de IA, use [energia] renovável e inove para guiar a eficiência energética”, disse.
“Feita corretamente, a IA libera a capacidade humana, não substitui […]. O mais importante é o seu poder para conduzir soluções no mundo real: gerenciando microrredes, mapeando o risco climático, guiando o planejamento resiliente”, prosseguiu.
Em seu discurso, Stiell também afirmou que no final do ano todas as atenções estarão na COP30, no Brasil. Ele afirmou que uma das principais obrigações do evento será avaliar a situação das NDCs -sigla em inglês para as metas de descarbonização a que cada país se compromete.
Pelo cronograma alinhado no Acordo de Paris (tratado sobre combate às mudanças climáticas), todos os signatários deveriam ter entregado suas novas NDCs atualizadas até fevereiro deste ano.
Até às vésperas da semana de clima, porém, apenas 37 países haviam cumprido com isso -o Brasil é um deles.
Há uma expectativa que a China, país que mais emite CO2 atualmente, mas também um dos líderes no investimento em energia limpa, o faça durante a Semana do Clima de Nova York.
Já a União Europeia não deve entregar sua NDC, o que impede também os países do bloco de fazê-lo.
Em outubro, as Nações Unidas devem produzir um relatório a partir das metas entregues pelos países.
O documento será usado como uma das principais diretrizes para as negociações da COP30. Se apenas um pequeno número de países entregarem suas NDCs, o estudo perde credibilidade e ameaça inclusive atrapalhar os resultados da conferência em Belém.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) irá presidir, junto com o secretário-geral da ONU, António Guterres, um evento sobre as NDCs durante a Semana de Clima de Nova York, que foi idealizado justamente para debater esse panorama e tentar acelerar a apresentação desses documentos.
“As NDCs são um dos pilares do Acordo de Paris. Esse encontro é um momento muito importante porque há muita expectativa de que elas possam ser comunicadas”, afirma a CEO da COP30, Ana Toni.
“Os relatórios-síntese das NDCs saem todo ano. Terão também de adaptação, de implementação. São relatórios do ciclo do Acordo de Paris e que precisamos valorizar”, completou.
Stiell afirma que a COP30 também precisa apresentar um caminho para alavancar o financiamento climático, com o chamado roadmap, relatório que deve determinar como o mundo pode chegar à meta de US$ 1,3 trilhões (R$ 6,9 tri) em recursos para soluções ambientais.
O documento precisa tornar esse financiamento acessível e mostrar onde o progresso pode acontecer e onde é necessário concentrar esforços, com especial atenção aos impactos da mudança climática aos países menos desenvolvidos.
“[A COP] deve falar mais claramente para bilhões de pessoas -mostrando que uma ação climática audaciosa significa empregos melhores, melhor qualidade de vida, ar mais limpo, vidas mais saudáveis, segurança alimentar e transporte e energia acessível”, afirmou.
De forma geral, o secretário defendeu em seu discurso que o debate climático precisa se aproximar da economia real, e lembrou que apesar do mundo ter avançado em soluções ambientais nos últimos anos, os benefícios da transição energética não são igualmente distribuídos no mundo inteiro -que, por sua vez, sofre cada vez mais com impactos de eventos extremos.
Sem citar o presidente dos EUA, Donald Trump, o secretário afirmou que a COP30 precisa “mostrar como o multilateralismo climático continua a entregar, com resultados fortes em todas as [frentes de] negociação”.
Desde que Trump voltou ao poder, ele já anunciou que vai retirar o país da lista de signatários do Acordo de Paris, cortou o investimento em programas ambientais, aumentou o apoio para o setor de combustíveis fósseis e trabalha para desidratar organismos de cooperação internacional.