SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar está em alta nesta segunda-feira (22), com o mercado monitorando falas do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em evento nesta manhã.
A semana carregada de indicadores e eventos econômicos no Brasil e no exterior também pauta as negociações.
Às 12h40, a moeda norte-americana avançava 0,55% e estava cotada a R$ 5,350, na contramão do movimento no exterior. Já a Bolsa recuava 0,8%, a 144.689 pontos, em ajustes após os recordes da semana passada e tendo o tombo de mais de 20% da Cosan como um dos fatores de pressão.
Em seminário promovido pelo BTG Pactual em São Paulo, Haddad saiu em defesa do arcabouço fiscal, o conjunto de regras que controla as despesas e receitas do país.
Segundo ele, não há norma melhor do que a atual, ainda que ela precise ser fortalecida para garantir seu pleno funcionamento. O caminho, para ele, passa pela criação de condições políticas favoráveis para o ajuste das regras junto à Câmara dos Deputados e ao Senado Federal.
Haddad ainda defendeu o combate de “desperdícios” e citou o avanço de pautas que já estão tramitando no Congresso Nacional, como supersalários no serviço público e Previdência de militares.
Ele ainda pontuou que o Brasil precisa de mais crescimento econômico, o que também vai colaborar com os resultados fiscais, e que o governo está alcançando um nível de arrecadação similar ao observado antes do mandato atual do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), embora ainda aquém de períodos marcados por superávit primário.
O ministro também falou sobre a taxa de juros do Brasil. Segundo ele, dados melhores de inflação e o fortalecimento do real ante o dólar estão dando condições para que o Copom (Comitê de Política Monetária) do BC (Banco Central) comece a cortar a taxa Selic.
“As coisas vão melhorar muito a partir do ano que vem”, afirmou. “Eu acho que o juro vai começar a cair, e vai cair, na minha opinião, de forma consistente, de forma sustentável. Então esses números do resultado nominal vão se alterar, e eles vão se alterar para melhor.”
O BC decidiu manter a taxa Selic em 15% ao ano na semana passada, o maior patamar em duas décadas. O comitê prevê a manutenção dos juros nesse nível por um período prolongado, citando a pauta fiscal como um dos pontos de atenção.
A ata da reunião será divulgada já nesta terça-feira (23), com o mercado atento às sinalizações do colegiado para as decisões futuras.
Para o câmbio, a manutenção da Selic em 15% e o corte de juros pelo Fed (Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos), também na semana passada, foram uma boa notícia. Isso porque o ciclo de queda na taxa norte-americana aumenta a diferença entre os juros de lá e os daqui, e, quanto maior essa diferença, mais rentável é a estratégia conhecida como “carry trade”.
Nela, pega-se dinheiro emprestado a taxas baixas, como a dos EUA, para investir em ativos com alta rentabilidade, como a renda fixa brasileira. Assim, quanto mais atrativo o carry trade, mais dólares tendem a entrar no Brasil, o que ajuda a valorizar o real.
Com esse pano de fundo, a moeda norte-americana chegou a tocar os R$ 5,29 na semana passada, e, nesta sessão, passa por um movimento de ajustes e se mantém no positivo também embalada pelos comentários de Haddad.
Além da correção, o mercado está adotando “um pouco de cautela por conta dos indicadores que sairão nesta semana, como ata do Copom, IPCA-15 [Índice de Preços ao Consumidor Amplo-15] e dados dos Estados Unidos”, pontua Cristiane Quartaroli, economista-chefe do Ouribank.
Na Bolsa, o cenário de ajustes é semelhante. Após subir 2,53% no acumulado da semana passada, o Ibovespa renovou o recorde histórico de fechamento na sexta-feira, a 145.865 pontos, e investidores agora embolsam parte dos lucros.
Os bons ventos se justificam pela entrada de capital estrangeiro no mercado doméstico, diz Diego Faust, operador de renda variável da Manchester Investimentos. “O investidor estrangeiro olha para aplicações de longo prazo e precisa achar que compensa. A última temporada de balanços de empresas brasileiras foi a melhor em anos”.
Por outro lado, eventos corporativos internos pautam as negociações. A Cosan, por exemplo, está derretendo mais de 20% no pregão desta segunda após anunciar, na véspera, duas ofertas públicas de ações para levantar capital.
A operação prevê uma capitalização no valor de R$ 10 bilhões, sendo a primeira oferta ancorada por um consórcio de investidores composto pela Aguassanta veículo do controlador da Cosan, Rubens Ometto, BTG Pactual Holding e Perfin Infra, em valor agregado de R$ 7,25 bilhões, a R$ 5 por ação. A precificação da segunda e última oferta, vinculada à primeira, está prevista para 11 de novembro.
Já na cena internacional, os juros do Fed seguem sob os holofotes, com o mercado atento a sinalizações que indiquem os próximos passos da política monetária norte-americana.
Nesse sentido, discursos do presidente do Fed, Jerome Powell, e do novo diretor, Stephen Miran, estão entre os destaques da semana.
O colegiado norte-americano terá uma agenda relativamente pequena de novos dados até a reunião de 28 e 29 de outubro, na qual eles terão que decidir se os riscos para o mercado de trabalho justificam outro corte de 0,25 ponto percentual nos juros um movimento ansiado por investidores.
Miran fala em apresentação nesta segunda. Já Powell discursa em Rhode Island na terça-feira.