BUENOS AIRES, ARGENTINA (FOLHAPRESS) – Em meio a uma sequência de turbulências no mercado e escalada do dólar na Argentina, Javier Milei espera voltar da viagem aos Estados Unidos com um socorro do Tesouro americano.
Nesta segunda-feira (22), o secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, afirmou que “todas as opções de estabilização estão sobre a mesa”. Essas opções podem incluir linhas de swap (acordo entre bancos centrais para trocar moedas), compras diretas de moeda estrangeira e de dívida pública.
“A Argentina é um aliado sistemicamente importante dos Estados Unidos na América Latina, e o Tesouro dos EUA está disposto a fazer o que for necessário dentro de seu mandato para apoiar a Argentina”, escreveu o funcionário de Trump no X.
O objetivo é dar fôlego às reservas do país e conseguir cumprir com o vencimento de uma parcela da dívida de US$ 4 bilhões em janeiro de 2026 e de US$ 4,5 bilhões em julho, segundo afirmou Milei a um veículo do interior do país.
Milei vai aos EUA para participar da Assembleia das Nações Unidas e também se encontrar com o presidente norte-americano, Donald Trump. Na semana passada, disse que os dois governos estavam cozinhando um acordo, sem detalhar as condições. Segundo fontes próximas ao governo, estariam na mesa desde preferência a empresários americanos em privatizações e explorações de recursos naturais.
A última semana foi de forte turbulência no mercado, com o dólar oficial estourando o teto das bandas de flutuação pela primeira vez desde a adoção do sistema, em abril. O BCRA (Banco Central da República Argentina) teve de intervir, com a venda de US$ 1,1 bilhão em três dias.
Na manhã desta segunda-feira, o dólar oficial era vendido a 1.515 pesos argentinos; o paralelo (blue), a 1.520 pesos. O teto da banda de flutuação está pouco acima dos 1.470 pesos. O ministro da Economia, Luis Caputo, chegou a dizer a um canal de streaming que venderia “até o último dólar no teto da banda”.
Em busca de acumular dólares, o governo da Argentina confirmou que vai zerar os impostos para exportações (as chamadas “retenciones”) para grãos até 31 de outubro, pouco depois das eleições legislativas nacionais, no dia 26.
Manuel Adorni, porta-voz presidencial, anunciou que essa medida visa aumentar a oferta de dólares e reduzir a volatilidade da moeda. A decisão abrange todos os cereais e oleaginosas.
Adorni afirmou que a antiga política tenta criar incerteza para prejudicar o governo, e que não permitirá isso, ao mesmo tempo em que busca oferecer mais dólares durante esse período.
“A velha política busca gerar incerteza para boicotar o programa do governo. Ao fazer isso, eles punem os argentinos: não vamos permitir. Por isso, e com o objetivo de gerar uma maior oferta de dólares durante esse período, até 31 de outubro haverá zero retenções para todos os grãos”, anunciou o porta-voz da Casa Rosada, em sua conta no X.
A Ciara-CEC (que representa o setor) disse que apoia qualquer medida que elimine as retenções, mesmo que temporariamente, e que precisam de mais detalhes sobre como isso funcionará.
Milei enfrenta um momento crítico, pois precisa manter a estabilidade cambial até as eleições legislativas ou mudar sua política cambial. Isso depende da entrada de moeda estrangeira, mas o setor agrícola, principal fonte de dólares, tem sido cauteloso e atrasado suas exportações, complicando a estratégia oficial.
Apesar de os produtores perceberem um aumento no preço da soja, os exportadores esperavam por preços melhores no futuro, levando-os a adiar vendas.
Entre setembro e dezembro, a Bolsa de Valores de Rosário estima que serão vendidos cerca de US$ 9,9 bilhões, abaixo dos US$ 10,3 bilhões do mesmo período do ano anterior. Antes do anúncio atual, havia um decreto que reduzira as retenções de 20% para a cadeia de grãos e 26% para a carne.
O novo decreto estabelece que quem exportar esses produtos deve liquidar pelo menos 90% da moeda estrangeira obtida em até três dias úteis após a declaração de exportação.
Se não cumprir, o exportador deverá pagar a alíquota original anterior ao decreto e não poderá aproveitar o benefício até regularizar sua situação. A medida, segundo o texto no Diário Oficial, tem como objetivo criar condições favoráveis para a produção, comércio exterior e promover a estabilidade econômica.