SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) – Um código simples (“pas” ou “paz”) definia se o dia seria de confronto ou tranquilidade entre torcidas organizadas. Essa foi uma das descobertas de uma operação deflagrada pela Polícia Civil do Rio de Janeiro, que investigava desde maio grupos que usavam as redes sociais para marcar emboscadas e brigas em dias de jogo.

O monitoramento das redes sociais revelou códigos disfarçados, como “pas”. “Percebemos que algumas postagens tinham a diferença entre paz ou pas e começamos a notar um padrão desse possível erro de digitação”, explicou ao UOL Álvaro Gomez, delegado da Draco-IE (Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas e Inquéritos Especiais), responsável pela investigação.

“Pas”, em vez de um erro de digitação, seria, na verdade, uma sigla para “Pelotão de Assalto Surpresa”. “Um dos investigados chegou a dizer: ‘nosso pelotão tá pronto para o assalto surpresa'”, diz Gomez. A investigação começou em maio, a partir de informações do setor de inteligência da Polícia Militar em grandes eventos, em parceria com a Draco-IE.

A polícia identificou ainda grupos que usavam fotomontagens com mascotes de torcidas se agredindo para convocar confrontos. As imagens reforçavam a lógica de comentários feitos com a frase: “péssimo dia para vestir a camisa (com o nome do time rival)”. As imagens foram feitas por IA pelos investigados, e as publicações foram compartilhadas com o UOL pelo delegado.

Foram mobilizados mais de 280 policiais, que cumpriram 39 mandados em 80 endereços, incluindo nove sedes de torcidas organizadas. Armas e explosivos foram apreendidos: havia explosivos caseiros, um simulacro de fuzil, porretes e cabos de ferramentas, possivelmente usados em agressões.

Um torcedor do Botafogo foi preso em flagrante por porte ilegal de arma de fogo em sua residência. Além disso, celulares apreendidos tiveram pedido de quebra de sigilo.

Houve confronto em comunidades da Ilha do Governador durante o cumprimento dos mandados e um homem morreu. “Traficantes se assustaram com a presença da equipe e o confronto aconteceu”, disse Gomez.

PRAZER EM VILANIA E BRIGAS SIMULADAS PARA ROUBAR

Segundo Gomez, o objetivo não é punir torcedores comuns, mas identificar quem se infiltra nas organizadas para praticar crimes. “Nossa investigação é macro: identificar, dentro dessas estruturas, quais pessoas estão ali para se aproveitar da torcida e praticar crimes”, explica o delegado.

“Os crimes puramente violentos, brigas, arruaças, depredação de patrimônio, são feitos pelo simples prazer em vilania.”

“Alguns pseudotorcedores se infiltravam nas brigas apenas para roubar celulares e carteiras, aproveitando a confusão”, afirma o delegado. Segundo ele, não se tratava de roubo de ocasião: “Nossa investigação mostrou que esses celulares eram levados para um ponto de revenda e, em 15 minutos, já estavam prontos para serem vendidos.”