SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – João Fonseca experimentou, em nove dias, no que se refere ao mundo do tênis, a hostilidade e o aplauso em algumas de suas versões mais estridentes. Xingado em Atenas e ovacionado em San Francisco, o brasileiro de 19 anos deu passos importantes na tentativa de se estabelecer como um dos principais nomes da modalidade.

No fim de semana dos dias 13 e 14, o carioca comandou o Brasil na vitória sobre a Grécia, pela Copa Davis, diante de um público ensandecido no Estádio Olímpico de Atenas. Abraçou as provocações, procurou devolvê-las e fechou o confronto com uma grande vitória sobre Stefanos Tsitsipas, de 27 anos, ex-número 3 do mundo (e atual 27º).

Fonseca perdia o set decisivo por 5/3, mas se mostrou mais pronto do que o experiente rival na hora agá e levou a melhor por 2 sets a 1, parciais de 6/4, 3/6 e 7/5. “Joguei o meu melhor tênis nos momentos mais importantes. Foi uma partida superimportante, provavelmente uma das mais importantes que eu já joguei”, afirmou.

Do tênis competitivo João partiu para uma semana diferente, de tênis festivo. A midiática Laver Cup, criada pelo craque suíço Roger Federer e pelo empresário brasileiro Jorge Paulo Lemann, não vale pontos no ranking mundial, mas um convite para a competição representa prestígio no circuito mundial.

A edição 2025 se deu no Chase Center, em San Francisco. Uma equipe formada por jogadores europeus enfrentou uma de atletas do restante do mundo, em disputa do tipo Passa ou Repassa. Realizadas de sexta (19) a domingo (21), as partidas tinham valor crescente no sistema de pontuação, de modo que a decisão do título ficasse para o último dia.

O resultado geral pouco importava, embora os membros dos dois lados afetassem grande comoção a cada ponto. Fonseca (42º do mundo) era integrante do Time Mundo, ao lado de Taylor Fritz (EUA, 5º), Alex de Minaur (AUS, 8º), Francisco Cerúndolo (ARG, 21º), Alex Michelsen (EUA, 32º) e Reilly Opelka (EUA, 62º).

Os técnicos dessa equipe eram o norte-americano Andre Agassi e o australiano Patrick Rafter. Do outro lado, no Time Europa, o francês Yannick Noah e o inglês Tim Henman comandavam Carlos Alcaraz (ESP, 1º), Alexander Zverev (ALE, 3º), Holger Rune (DIN, 11º), Casper Ruud (NOR, 12º), Jakub Mensik (TCH, 17º) e Flavio Cobolli (ITA, 25º).

“É um prazer estar com esses caras”, disse João, que foi escalado para uma partida. Inspirado, mostrou precisão nos golpes, sobretudo sua potente direita, e derrotou Flavio Cobolli por 2 sets a 0, parciais de 6/4 e 6/3. Mais do que exibir seu talento, viu-se parte de um grupo seleto, convivendo com os líderes do ranking e celebrando o triunfo com uma peitada em Agassi.

Aposentado em 2006, 12 dias após o nascimento de Fonseca, Agassi abraçou o garoto em San Francisco. Vibrou com boas jogadas gritando, em português, “vamooos”. E, ao lado dos demais integrantes do Time Mundo, puxou um coro, imitando os torcedores brasileiros do Chase Center: “Joãããão… Fonseca!”.

Tudo era parte do entretenimento oferecido ao público nos Estados Unidos, uma plateia que incluía estrelas do basquete da NBA. Mas o contato próximo com figuras da elite do esporte, do passado e do presente, parece ter feito bem ao carioca, que recebeu múltiplos elogios pelos golpes e também pela mentalidade.

“Ele é confiante. Não busca a validação de ninguém”, resumiu Agassi, que tem oito títulos de Grand Slam, distribuídos entre os quatro principais torneios do circuito.

Rafter, bicampeão do US Open, foi ainda mais efusivo em sua avaliação do brasileiro. Embora tenha apontado que seu jogo tenha pontos que podem ser melhorados, observou no jovem a disposição e a humildade para ouvir.

“Incrivelmente maduro, muito bom cérebro para o tênis. Ele é calmo, aberto a sugestões, aberto a aprender. E rápido para responder, rápido para aprender. No próximo ano, neste momento, ele vai ser um grande jogador. Daqui a dois anos, vai ser excepcional, porque tem a capacidade de aprender e quer continuar aprendendo. Ele ainda não está pronto, mas eu vi maturidade”, disse o australiano.

Cercado de figuras proeminentes do circuito, João passou a tratar algumas delas com maior grau de intimidade –referiu-se a Francisco Cerúndolo como Fran e chegou a auxiliar no atendimento de De Minaur após um ferimento na orelha. E tratou de escutar, especialmente no contato com velhos campeões do esporte.

“Temos que pegar as coisas feitas por essas lendas e colocar na cabeça. São detalhes que só a experiência traz mesmo. Agradeço muito ao Andre [Agassi] e ao Pat [Rafter]. O que eu posso dizer é que estou apenas ouvindo. Não copiando, mas adquirindo experiência com eles e aprendendo muito”, afirmou.

Fonseca também teve contato com Roger Federer, 20 vezes campeão de torneios Grand Slam. Nessa hora, permitiu-se ser mais um tiete do que um aspirante a número um do mundo.

“Foi um prazer, uma oportunidade. É algo com que toda criança que ama tênis sonha. Quando você encontra seu ídolo, é incrível. Quando me falaram que eu o encontraria, minhas mãos começaram a suar, eu estava tão nervoso. Tivemos uma conversa divertida, ele é um cara superlegal.”