SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A Cosan SA fechou um acordo para levantar até R$ 10 bilhões para melhorar as finanças do conglomerado, que enfrenta dificuldades. O BTG Pactual Holding, que tem como sócio o bilionário André Esteves, investirá R$ 4,5 bilhões, e o Fundo Perfin Infra adicionará outros R$ 2 bilhões, informou a Cosan em um comunicado.
Os recursos serão usados para reduzir a alavancagem, informou a companhia, que terminou o segundo trimestre deste ano com dívida líquida de R$ 17,5 bilhões.
O acordo também inclui R$ 750 milhões do family office do controlador da Cosan, Rubens Ometto. Haverá uma oferta subsequente de até R$ 2,75 bilhões, de acordo com o documento.
Hoje, do total de 1,8 bilhão de ações da Cosan, 36% estão com o grupo de controle. Outros 64% estão distribuídas no mercado financeiro.
Segundo a Cosan, Ometto permanece como sócio majoritário, com 50,01% de participação nas ações ordinárias, e mantém sua posição como presidente do conselho. BTG e Perfin entram com participação combinada de 49,99%. Os três sócios firmaram acordo de acionistas e em conjunto passam a deter 55% do capital social da Cosan.
“A Cosan tem um histórico de parcerias bem-sucedidas, que foram fundamentais para o seu crescimento ao longo do tempo. Estou certo de que este movimento vai reforçar essa trajetória”, disse Ometto em nota.
“Ter o BTG e a Perfin como sócios me dá grande satisfação e a segurança de que estaremos bem-posicionados ao longo dos próximos anos para seguirmos investindo no desenvolvimento do país. Isso mostra nossa capacidade de se readaptar e a nossa preocupação com a perenidade do grupo”, acrescentou.
A Cosan informou que a oferta de ações tem como meta reforçar sua estrutura de capital e reduzir o nível de endividamento. A companhia disse ter conduzido, junto de seu controlador, um processo de sondagem privada com potenciais investidores para garantir a entrada de sócios dispostos a apoiar a operação.
Segundo a empresa, os recursos captados devem dar maior flexibilidade financeira ao grupo, aumentar a liquidez dos papéis em bolsa e destravar valor aos acionistas. A chegada dos investidores âncora também deverá fortalecer a governança corporativa e assegurar um compromisso de longo prazo com a estratégia da companhia, formalizado em acordo de acionistas com a família Ometto.
Nos últimos anos, o grupo de Ometto se transformou em um império econômico com operações no agronegócio, energia, transporte, combustíveis e gás natural. No entanto, a empresa vem sofrendo com altas taxas de juros no Brasil e lucros menores em alguns negócios.
Em declarações recentes, Ometto vem reclamando do atual patamar dos juros no Brasil. Em evento no começo do ano, ele disse que o fator que mais atrapalha o empresário brasileiro hoje é a Selic.
Segundo ele, com juros reais na faixa dos 10%, é impossível administrar qualquer investimento. “Se você tem a condição de aplicar o seu dinheiro a 15%, 16% em alguns casos a 20%, 25% ao ano, você vai ficar vagabundo. Por que você vai correr risco?”, comentou.
A Cosan também enfrenta dificuldades com dívidas desde que adquiriu uma participação na Vale em 2022. Em janeiro deste ano, o grupo Cosan se desfez do investimento. A venda, por R$ 9 bilhões, de uma fatia de 4,05% na mineradora, encerrou uma tentativa frustrada de conseguir influência na companhia.
“Estamos confiantes em nossa decisão de capitalizar a empresa neste momento, o que nos permitirá combinar a desalavancagem com a retomada da trajetória de crescimento da Cosan”, disse Marcelo Martins, diretor-presidente da Cosan, em um comunicado.
Procurado, o BTG não comentou. A Perfin não respondeu até a publicação deste texto.
A Cosan reportou prejuízo de R$ 9,4 bilhões no ano passado e parte do resultado negativo se deve ao desempenho pior que o esperado da Raízen, principal grupo sucroenergético do país, que é controlado pela Cosan.
No primeiro trimestre deste ano, o endividamento da Raízen atingiu seu pior patamar desde que a companhia abriu capital na Bolsa, em 2021, conforme levantamento da Elos Ayta Consultoria, que mostrou que seria preciso que a empresa fosse três vezes maior, em patrimônio, para o pagamento de sua dívida.
A maior processadora de cana-de-açúcar do mundo também luta para reduzir seu endividamento. Nos últimos meses, a companhia vem se desfazendo de usinas para lidar com o problema.
RAIO-X | GRUPO COSAN
Fundação: 1936
Empresas: Raízen (combustíveis), Compass (gás natural), Moove (lubrificantes), Rumo (ferrovias), Radar (gestão de terras)
Prejuízo no 2º tri: R$ 946 milhões
Funcionários: 57 mil