SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Manifestantes convocados por movimentos sociais, presidentes de partidos de esquerda e parlamentares se reuniram na avenida Paulista, neste domingo (21), para protestar contra o Congresso Nacional, o projeto de anistia e a PEC da Blindagem.

Os manifestantes começaram a se reunir por volta das 13h em frente ao Masp, cartão postal de São Paulo, com faixas e cartazes com os dizeres “Congresso inimigo do povo” e “sem anistia”.

Também entraram no rol de pedidos dos manifestantes o fim da escala 6×1 de trabalho, a taxação dos mais ricos e a isenção do imposto de renda para quem ganha até R$ 5.000 por mês –pautas do governo Lula (PT) que seguem paradas no Congresso.

O ato foi convocado pelas frentes Povo Sem Medo e Brasil Popular, ligadas ao PSOL e ao PT e que reúnem movimentos como o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) e o MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto), em pelo menos 22 capitais.

Na Paulista, ao menos oito quarteirões, entre as ruas Padre João Manoel e Alameda Joaquim Eugênio de Lima, estavam tomadas pelos manifestantes, que entoavam gritos de “sem anistia e sem dosimetria”, “a bandeira é nossa” e “vai ser preso” –em referência a Bolsonaro.

O carro de som foi posicionado em frente ao parque Trianon, do outro lado do Masp, onde parlamentares e artistas se revezaram nos discursos, que iniciaram por volta de 14h30.

Levantamento do Monitor do Debate Político do Cebrap e a ONG More in Common calculou que o público deste domingo na Paulista ficou entre 37,3 mil e 47,5 mil participantes. A contagem foi feita a partir de fotos aéreas realizadas em quatro horários diferentes. O mesmo levantamento apontou 42,2 mil pessoas no ato pró-anistia do 7 de Setembro.

Estiveram presentes neste domingo os deputados federais Guilherme Boulos, Ivan Valente, Luiza Erundina, Luciene Cavalcanti (PSOL); Orlando Silva (PCdoB) ; Rui Falcão e Juliana Cardoso (PT); o ex-presidente do PT José Genoíno, além dos presidentes do PT e do PSOL, Edinho Silva e Paula Coradi.

O carro de som com autoridades, artistas e assessores começou a balançar, lotado, e os organizadores pediram um revezamento do público que estava em cima do trio. A organização, segundo apurou a reportagem, não esperava que tanta gente fosse comparecer e, por isso, contratou apenas um carro de som.

O padre Júlio Lancelotti pediu que os presentes, independentemente de suas respectivas religiões, levantassem as mãos em uma bênção pela paz.

Manifestantes portavam cartazes chamando de “traidores” os 12 deputados federais do PT que foram a favor da PEC da Blindagem, também chamada de PEC da Bandidagem por permitir ao Congresso barrar prisões de parlamentares e processos criminais no STF (Supremo Tribunal Federal) contra deputados e senadores. Nenhum dos 12 deputados petistas compareceu ao ato.

Questionado sobre a votação dos deputados do PT a favor da PEC, o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL) disse ter sido um erro e ressaltou que, na bancada do PL, todos votaram “sim”.

“Considero um erro, tanto que votei contra. Agora o PL em peso, totalmente, 100% votou a favor da ‘PEC da Bandidagem’. Então nós temos que ter foco nessa discussão”, disse o psolista.

A deputada federal Tabata Amaral (PSB-SP) concordou que foi um erro de cálculo da esquerda e que a bancada do PSB votará contra a PEC no Senado. Ela também afirmou que, sobre a ideia de transformar o projeto de anistia em discussão sobre a dosimetria das penas, “não há diálogo com golpismo”.

Edinho Silva, presidente do PT, disse que o presidente Lula entende que a discussão sobre dosimetria deve ocorrer, mas não na atual conjuntura.

“O presidente tem dito que se tiver um projeto para debater a situação da dosimetria, ele entende que tem que debater, mas não no ambiente de hoje, não no pós-julgamento, porque vai ser lido como um projeto para neutralizar o julgamento do Supremo. Aí nós somos contra”, disse ele.

Ele acrescentou que “não há sequer espaço para debater qualquer reforma do Código Criminal”.

“Quanto mais de um PL que vai discutir uma situação específica, que é o pós-julgamento do Supremo, não tem ambiente no país para debater. Quanto mais colocar isso a voto, o PT é contra o projeto.”

Os petistas que votaram a favor da PEC da Blindagem desobedeceram a orientação do partido, que tem 68 deputados federais, de ir contra o texto. O grupo argumentou ter feito um acordo com o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), para não votar a anistia, priorizada por bolsonaristas após a condenação de Jair Bolsonaro (PL) pela trama golpista, na semana passada.

O grupo alega ter sido traído por Motta, já que no dia seguinte à votação da PEC, a urgência para votar a anistia foi pautada e aprovada na casa.

O ministro do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira, fez uma rápida aparição na manifestação em São Paulo. Ele foi o único ministro de Lula a comparecer. O governo havia orientado os ministros a não participarem dos atos para não acirrar ainda mais a relação com o Congresso Nacional.

Durante o período em que ele esteve no carro de som, choveu na Paulista. Os manifestantes se abrigaram sobre marquises e barracas. Também estiveram no ato os cantores Otto e Nando Reis.

Perto do fim da manifestação, viaturas da GCM (Guarda Civil Metropolitana) interromperam o protesto e passaram no meio dos manifestantes, de sirenes ligadas. Os presentes vaiaram e, no carro de som, parlamentares pediram que não cedessem a provocações.

“Eles querem atrapalhar o nosso ato, mas não vamos cair em provocação”, disse o deputado Orlando Silva (PCdoB) no microfone.

Policiais militares, na sequência, pediram que o protesto se encaminhasse para o fim porque a Paulista precisaria ser liberada até 17h para a passagem de carros. Os manifestantes pediram para que a via ficasse fechada por mais meia hora, para ter uma parte de músicas.