SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Nas alturas ou dentro de espaços fechados, o vale do Anhangabaú, na região central de São Paulo, vive uma efervescência de bares, festas e baladas noturnas.
De endereços históricos a lugares mais alternativos ou populares, as opções brotam nas margens do rio canalizado que dá nome ao vale.
Quando o curador Luciano CortaRuas instalou o Estúdio Lâmina no começo da avenida São João poucos espaços culturais tinham escolhido o centro velho, na região do triângulo histórico.
Sobrevivente até hoje, o Lâmina fica em um prédio em obras constantes, no qual organiza shows, festas, residências artísticas e cursos de artes.
Em novembro, um festival vai marcar os 14 anos do estúdio, que começou em um andar do prédio e foi estendendo para os atuais quatro andares. O festival será num porão, com um mezanino e uma área de teto baixo.
O visual em nada lembra as opções estéticas de alguns de seus vizinhos mais famosos, mesmo que fiquem abaixo do nível da rua, como o Bar do Cofre, dentro do prédio do Farol Santander (no prédio Altino Arantes, antiga sede do Banespa) e o Bar dos Arcos, no Theatro Municipal.
O subterrâneo sofisticado também é a marca do recém-inaugurado Formosa Hi-Fi, em uma galeria na encosta da praça Ramos de Azevedo, com acesso pelo viaduto do Chá. Com acústica cuidadosa, o bar é dedicado à audição de discos e recebe convidados especiais para selecioná-los.
Mas a noite da região não cresce apenas para baixo. No Mirante do Vale, um andar para cima do SampaSky, famoso mirante envidraçado da cidade, funciona o Andar43, um local de festas abertas e privadas com vista para o vale (do outro lado do prédio, a vista é para a zona norte da cidade). Em breve, o local de festas será vizinho do Iccarus, um restaurante e bar de coquetelaria que está para ser inaugurado.
Os criadores desse espaço são os mesmos donos do Ephigenia, que funciona na cobertura de um prédio localizado na margem do largo São Bento do viaduto Santa Efigênia.
O Ephigenia tem pouco menos de dois anos e foi criado por um grupo de amigos que moram no centro e sentiam falta de opções de lazer na região após o horário comercial. Muitos bares, principalmente no centro velho, fecham após o happy hour. O estabelecimento fica na cobertura de um prédio comercial.
Atualmente, o bar já recebe moradores dos mais diversos pontos da cidade, segundo Lucas Amorim, um dos sócios. Para isso, eles criaram um sistema de segurança para ajudar as pessoas que saem da estação São Bento do metrô para ir para lá ou chegam de carro próprio ou de aplicativo.
Ele explica que o cuidado serve principalmente para tranquilizar os frequentadores, já que muitos ainda se sentem inseguros de visitar a região. “Mas eu acho que as pessoas estão perdendo o medo gradativamente de frequentar o centro durante a noite.”
Próximo da outra extremidade do viaduto Santa Efigênia fica a Balsa, outro bar que inclui a cobertura de um prédio. Mais próximos ao viaduto do Chá e à estação Anhangabaú do metrô, ficam o Baronesa e o Espaço Priceless, na cobertura do shopping Light, com bar e restaurante.
A cobertura do edifício Martinelli também foi concedida pela prefeitura para a exploração com festas e shows. O próprio vale é uma concessão à iniciativa privada, que organiza uma programação inclusive com shows, embora a programação geralmente não avance na madrugada.
Para o francês Charly Andral, fundador do Andar43, o uso fragmentado desses espaços ainda é um desafio para a consolidação da região como um centro de lazer noturno. “As pessoas não vão de um bar ou uma festa para outra a pé, somos como ilhas em torno do vale”, diz.
Ele lembra que a própria geografia da região faz com que os deslocamentos a pé sejam mais rápidos e fáceis, mas não é o que tem acontecido.
Andral está há cinco anos em São Paulo, mora próximo ao mirante e costuma percorrer a região a pé. “A gente precisa de mais ponto de atração no térreo, bares e lanchonetes que fiquem abertos durante a noite.”
Um dos bares voltados para a música ao vivo que está no nível da rua é o Provisório, localizado na avenida São João, do lado oposto ao Martinelli e ao Estúdio Lâmina, próximo à praça do Correio. Ao lado dele, o Base Paulistana também passou nos últimos dois anos a ter festas noturnas, de samba na quarta-feira e black music na sexta.
Dona do base há 13 anos, Lucimara Queiroz de Andrade vê uma mudança na região. “Tem mais turistas que estão vindo para esta região e param aqui”, afirma. Por enquanto, segundo ela, apenas os dois bares ficaram abertos até a madrugada naquele quarteirão.