BRASÍLIA, DF (UOL/FOLHAPRESS) – Quando a rede balançou em Brasília, Grazielli Souza abriu um sorriso que traduzia muito mais que um simples gol. Aos 17 anos, a jovem do Amazonas comemorava não apenas o empate por 3 a 3 contra São Paulo, na fase de grupos do futsal da terceira divisão. O verdadeiro triunfo estava em ter reencontrado as quadras depois de quase perder a visão e de enfrentar uma doença que a obrigou a lutar pela própria vida.
Tudo começou em 2023. Ainda aos 15 anos, Grazi passou a enxergar o mundo embaçado. Primeiro um caroço no olho, depois as imagens borradas até que os treinos ficaram quase impossíveis. “De repente, ela já não conseguia acompanhar o jogo como antes. Foi desesperador ver uma menina tão nova, cheia de talento, praticamente sem enxergar”, recorda a treinadora Silmara Maia.
O diagnóstico foi duro: artrite reumatoide, uma doença inflamatória que, além de comprometer a visão, pode atingir diversos órgãos do corpo. Em pouco tempo, Grazi deixou de caminhar sozinha. A família se mobilizou, viajando de Lábrea até Porto Velho e, depois, a Manaus, em busca de tratamento.
Mas a esperança parecia distante quando surgiu outro obstáculo: o custo do medicamento. Cada dose, essencial para controlar os sintomas, custava cerca de R$ 20 mil por mês.
Minha família ficou sem chão, porque não havia como pagar. Mas Deus abriu uma porta e conseguimos pelo governo. É uma injeção que eu tomo toda semana. Se não fosse isso, eu não estaria aqui agora.Grazi, emocionada
O futsal, que sempre foi seu porto seguro, parecia escapar por entre os dedos. Mais do que perder a visão, era como perder sua identidade. “Estar em quadra sempre foi meu lugar de felicidade. Quando pensei que poderia não voltar a jogar, senti que tudo estava desmoronando.”
Mas Grazi decidiu que não seria definida pelas limitações. Aos poucos, entre exames, dores e incertezas, recuperou forças e retornou aos treinos. “neste sábado (20), cada vez que piso em quadra, sinto que já venci. O jogo é importante, mas a verdadeira vitória foi conseguir voltar.”
Essa força é sentida também pelas companheiras. “Tudo o que ela passou inspira a gente. Quando jogamos, não entramos só por nós, mas também por ela. A presença da Grazi nos lembra do quanto é especial estar aqui”, conta a colega de time Nivea Eloise.
Para a treinadora Silmara, ver Grazi em Brasília é um símbolo de esperança. “Chegar aos Jogos da Juventude já é um feito enorme para nós. Saímos de tão longe, enfrentamos tantas dificuldades E poder ver a Grazi em quadra, depois de tudo, é um presente. Essa experiência vai marcar a vida delas para sempre.”