BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – A Polícia Federal concluiu que a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) não atuou na Itália para coagir ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) nos processos em que acabou condenada.
A afirmação foi feita em um relatório enviado nesta sexta-feira (19) ao gabinete do ministro Alexandre de Moraes.
Segundo a PF, apesar de Zambelli ter dito que iria à Itália para atuar contra o Supremo em sintonia com o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), a investigação não encontrou ações efetivas da parlamentar para colocar em risco o seguimento dos processos no Brasil.
“Portanto, embora a intenção de frustrar a aplicação da lei penal tenha sido verbalizada, o comportamento de Carla Zambelli, salvo melhor juízo, não ultrapassou o campo da retórica, inexistindo prova de efetivo êxito na adoção de expedientes, contatos, articulações ou providências aptos a comprometer o regular andamento de ação penal”, diz a delegada Verônica Snoeck Salles.
Zambelli está presa em Roma, na Itália, desde 29 de julho. Ela fugiu do Brasil após ser condenada pelo STF a dez anos de prisão pela invasão ao sistema do CNJ (Conselho Nacional de Justiça) e falsidade ideológica.
A deputada também foi condenada a cinco anos e três meses de prisão pelo episódio em que ela sacou e apontou uma arma para um homem na véspera do segundo turno das eleições de 2022.
O relatório da Polícia Federal mostra que Zambelli usou perfis nas redes sociais para proferir ataques contra o Supremo e exaltar o tarifaço de Donald Trump contra o Brasil, em descumprimento de decisão do STF que proibiu a deputada de usar as plataformas.
A corporação diz que as declarações de Zambelli nas redes sociais revelavam a intenção de escapar de sua condenação no Brasil e continuar suas “condutas criminosas voltadas ao ataque às instituições, mediante a disseminação de desinformação, com o objetivo de interferir no regular andamento de processos em trâmite na Suprema Corte”.
A PF conclui, porém, que Zambelli não conseguiu ser efetiva em sua tentativa de coação. “As condutas identificadas restringiram-se a publicações em redes sociais e manifestações de caráter opinativo […], sem qualquer repercussão prática sobre o curso de ações penais em trâmite no Brasil”, completa.
O relatório da Polícia Federal também descreve que as contas de Zambelli tiveram um “aumento significativo” de transferências via Pix a partir de 19 de maio, quando a deputada solicitou publicamente doações para o pagamento de multas judiciais.
A PF não diz o valor total recebido pela deputada. Relata apenas que Zambelli recebeu 88 transferências de mais de R$ 500, das quais seis foram feitas pela própria parlamentar de uma conta para outra.
“Nesse sentido, verificou-se que, entre 08/05/2025 e 24/05/2025, Carla Zambelli transferiu de sua conta no Banco Itaú Unibanco S.A. para sua conta na Caixa Econômica Federal o montante de R$ 339.500,00”, completa.
A corporação também destaca no relatório que Zambelli recebeu três doações de R$ 5 mil. O dinheiro saiu das contas de Luciano Hang, dono das lojas Havan; de Marcos Adolfo Tadeu Senamo Amaro, empresário e ex-presidente do Museu FAMA; e da empresa LCG Transportes.
O inquérito contra Zambelli foi aberto em 5 de junho por determinação de Alexandre de Moraes após a deputada anunciar que deixou o Brasil para não ser presa. Diante das conclusões da PF, o ministro pode requisitar mais informações ou arquivar a investigação.