BUENOS AIRES, ARGENTINA (FOLHAPRESS) – Após dias consecutivos de alta tensão no mercado, o ministro da Economia da Argentina, Luis Caputo, saiu à público para dizer que o governo de Javier Milei se manterá firme diante do momento de incertezas econômicas, financeiras e políticas.
Em um canal de streaming apoiador do mileísmo e que se tornou um substituto de entrevistas coletivas da pasta, ele disse que não está considerando mudanças a curto prazo no plano econômico, apesar das críticas e números recentes desfavoráveis.
Ele disse que, conforme aconteceu nos últimos dias, o BCRA (Banco Central da República Argentina) vai intervir no mercado sempre que o dólar extrapolar o limite das bandas de flutuação. “Vamos vender até o último dólar no teto da banda, o plano foi pensado dessa forma”, afirmou ao streaming Carajo. “Há dólares suficientes para todos.”
Desde a última quarta-feira, o dólar oficial no atacado (vendido para bancos e casas de câmbio) ultrapassou o marco do 1.471 pesos argentinos. Nesta sexta-feira (19) atingiu os 1.475 pesos. O dólar para os pequenos compradores (varejo) fechou em 1.523 pesos, pela média do banco central.
Nesta sexta, pelo terceiro dia consecutivo, a autoridade monetária confirmou que interveio no mercado, desta vez com a venda de US$ 678 milhões. As três jornadas de venda de dólares que o BCRA fez desde quarta-feira (17) somam US$ 1,1 bilhão.
Caputo reiterou que “o dólar flutua”, ressaltando que há dólares suficientes nas reservas para conter uma escalada da moeda. O mercado, no entanto, já opera com a perspectiva de que o regime de bandas, imposto em 14 abril após o novo acordo do país com o FMI (Fundo Monetário Internacional), será abandonado talvez antes das eleições legislativas nacionais de 26 de outubro.
O ministro tentou acalmar o mercado, enfatizando que não irá alterar o programa econômico, apesar das dificuldades. Ele, que fez parte do gabinete de Mauricio Macri, volta viver um cenário familiar de alta no valor do dólar, sete anos depois.
“Entendo a preocupação do lado das pessoas que têm títulos, mas já presumimos que não teríamos refinanciamento. Há três meses que trabalhamos para poder garantir o pagamento dos vencimentos das obrigações de janeiro. Também vamos procurar garantir o pagamento desses para julho do próximo ano. Não anunciamos porque ainda não finalizamos.”
Analistas de diferentes vertentes têm alertado para uma falta de clareza sobre como o governo irá acumular mais reservas e lidar com os pagamentos da dívida, o que gera preocupações sobre a política econômica e a taxa de câmbio.
Em julho, Caputo afirmou que quem considerava que o dólar estava barato deveria comprar a moeda. Desde então, a moeda subiu mais de 10%.
Conforme a situação se deteriorava, o valor do dólar subiu vertiginosamente, levando à necessidade de implementar várias medidas, incluindo aumento das reservas obrigatórias para bancos e taxas de juros mais altas.
A tensão atual leva a um dilema sobre como manter a confiança do eleitor, ao mesmo tempo em que equilibra as expectativas de investidores. O risco de investimentos na Argentina, no entanto, fechou a semana em 1.516 pontos-base -abaixo apenas, na região, ao da Venezuela.
Em um evento na Bolsa de Comércio de Córdoba, Javier Milei disse que o “pânico político” tem gerado um descompasso no risco-país. O governo batizou o indicador medido pelo Embi (do JP Morgan) de “risco-kuka”, pelo temor de um retorno do kirchnerismo ao poder.
“Os processos de mudança sempre geram resistência do status quo e quanto mais forte o processo de mudança, obviamente a resistência é ainda maior”, disse o presidente.
Ao jornal “La Voz do Interior”, de Córdoba, Milei defendeu a fala de Caputo e disse que o país está trabalhando em um acordo para receber recursos do Tesouro dos Estados Unidos.
“Tínhamos claro que este ano ia ser complicado e começamos a desenvolver estratégias para cobrir o pagamento de dívidas da Argentina no ano que vem, de US$ 4,5 bilhões em fevereiro e de US$ 4 bilhões em julho. Até que esteja confirmado não vamos fazer o anúncio. Estamos trabalhando fortemente e estamos avançando e é uma questão de tempo também.”