FLORIANÓPOLIS, SC (FOLHAPRESS) – O que a predileção de lagartos sobre tipos de pizza, a relação entre lactantes e alho, vacas pintadas com listras de zebras, a habilidade de falar idiomas estrangeiros alcoolizado e o impacto de sapatos fedorentos têm em comum?
Todos são objetos de pesquisas laureadas pelo 34º Ig Nobel 2025, a sátira do Prêmio Nobel que premia as investigações científicas mais inusitadas. A lista dos vencedores foi anunciada na noite de quinta-feira (18), em cerimônia na Universidade de Boston, nos Estados Unidos.
Em 2025, nenhum estudo do Brasil recebeu a premiação, ao contrário de edições anteriores. Entre os brasileiros que já receberam o Ig Nobel estão o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Ele recebeu o prêmio-sátira de educação médica em 2020 por “ensinar ao mundo, com a Covid-19, que políticos podem ter mais efeito imediato sobre vida e morte do que cientistas e médicos”.
Na quinta-feira (18), o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Flávio Dino abriu inquérito contra Bolsonaro, filhos e colaboradores, por incitação ao descumprimento de medidas efetivas para o combate à pandemia de Covid-19. A investigação foi aberta a pedido da Polícia Federal e com base no relatório final da CPI da Covid, conduzida pelo Senado em 2021.
A Argentina e Colômbia, porém, representaram a América Latina em estudo sobre a habilidade de morcegos voarem sob efeito de álcool. A pesquisa teve colaboração de estudiosos da Alemanha, EUA, Espanha, Itália, Israel, Portugal e Reino Unido.
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VEJA AS PESQUISAS VENCEDORAS DO IG NOBEL 2025
Literatura
Willian B. Bean (EUA) por registrar a analisar a velocidade de crescimento de unhas ao longo de 35 anos.
Psicologia
Marcin Zajenkowski e Gilles Ganac, representando Polônia, Austrália e Canadá, por investigarem o que acontece ao dizer a um narcisista que ele é inteligente.
Nutrição
Pesquisadores da Nigéria, Togo, Itália e França por estudarem como lagartos escolhem tipos de pizza.
Pediatria
Julie Mennella e Gary Beauchamp, dos EUA, por pesquisarem o que um bebê amamentado sente quando a mãe consome alho.
Biologia
Estudiosos do Japão observaram se moscas evitam morder vacas pintadas com listras de zebra.
Química
Equipe dos EUA e Israel que testaram se comer teflon, um tipo de plástico, pode aumentar o volume de alimentos e a sensação de saciedade sem aumentar o teor calórico.
Paz
Acadêmicos da Holanda, Reino Unido e Alemanha que demonstraram que o consumo de álcool facilita a habilidade de falar um segundo idioma.
Engenharia de design
Vikash Sumar e Sarthak Mittal, da Índia, analisaram, desde a perspectiva de engenharia de design, como sapatos fedorentos impactam o uso de sapateiros.
Aviação
Cientistas da Argentina, Colômbia, Alemanha, EUA, Espanha, Itália, Israel, Portugal e Reino Unido que pesquisaram a habilidade de morcegos voarem alcoolizados.
Física
Equipe da Itália, Espanha, Alemanha e Áustria estudaram o processo físico do molho cacio e pepe.
O clima da premiação é descontraído e os cientistas levam os prêmios na brincadeira. A maioria foi à premiação, outros mandaram discursos.
OK, é possível rir ao ler sobre os trabalhos premiados, mas quem disse que eles não podem provocar reflexões?
Em entrevista à Folha de S.Paulo sobre a edição de 2024, a bióloga e professora da USP (Universidade de São Paulo) Maria Mercedes Okumura defendeu a importância do Ig Nobel. “Não é um prêmio depreciativo nem equivalente ao Framboesa de Ouro [que se contrapõe ao Oscar e premia os piores trabalhos de Hollywood], mas é um prêmio para exaltar a criatividade na ciência”, disse. A docente é curadora da premiação.
“Escolhemos por meio do título e dos resultados inusitados, mas todos são publicados em revistas de verdade, periódicos com revisão de pares e outros critérios.”
Aliás, quem entrega os troféus são vencedores reais do Nobel. Desta vez, participaram os laureados Esther Duflo (Nobel de economia, 2019); Eric Maskin (Nobel de economia, 2007); Svante Pääbo (Nobel de medicina, 2022); Moungi Bawendi (Nobel de química, 2023); William Kaelin (Nobel de medicina, 2019); e Robert Merton (Nobel de economia, 1997).
Todas as edições têm temáticas. A deste ano foi digestão.
Os editores do jornal de humor científico Anais da Pesquisa Improvável (Annals of Improbable Research, em inglês) criaram o evento em 1991 90 anos após a criação do prêmio Nobel de fato.
Só as estatuetas já seriam motivo suficiente para gargalhadas. A deste ano foi um modelo de estômago humano que lembra rostos. De um lado, se vê uma face sorridente. De outro, angustiada. Os ganhadores levam para casa também lenços umedecidos.
Ao serem chamados ao palco, os cientistas tiveram 24 segundos para explicarem os estudos à audiência, em seguida, um resumo em sete palavras.
Mas a curiosidade aguçada pode ser sanada com mais tempo. Os laureados farão palestras sobre as pesquisas no dia 20, no MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts), e em 31 de outubro, na Instituição Real, em Londres. Estão previstos eventos do tipo em Berlim, no começo de novembro, e em Tóquio, em janeiro. Nestes casos, os dias estão indefinidos.
Além do prêmio, a ocasião marcou a estreia da miniópera “O Drama do Gastroenterologista” em que os vencedores do Nobel o sério interpretaram papéis sem canto.
O Ig Nobel é dividido em dez categorias: literatura, psicologia, nutrição, pediatria, biologia, química, paz, engenharia de design, aviação e física. Ao contrário do Nobel, as áreas variam de ano em ano. Em 2024, por exemplo, havia botânica, anatomia, medicina, probabilidade e demografia. Em outros anos, houve arte, antropologia etc.