SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O Conselho de Segurança das Nações Unidas aprovou, nesta sexta-feira (19), a reimposição de sanções econômicas ao Irã em retaliação ao programa nuclear do país. As principais potências europeias e Teerã ainda têm oito dias para tentar chegar a um acordo sobre um adiamento da punição.

Reino Unido, França e Alemanha, trio conhecido como E3 e signatário de um acordo de 2015 que visa impedir Teerã de obter armas nucleares, afirmam que o Irã violou os compromissos assumidos no tratado. Com base nessa acusação, o grupo acionou, no final de agosto, o chamado snapback, um mecanismo que permite a retomada das sanções suspensas há dez anos.

Os países se ofereceram para adiar o restabelecimento das sanções por até seis meses, para dar espaço para negociações sobre um acordo de longo prazo, se o Irã restaurar o acesso dos inspetores nucleares da ONU, abordar as preocupações sobre seu estoque de urânio enriquecido e iniciar negociações com os Estados Unidos.

“Sem que essas condições básicas sejam atendidas, não há um caminho claro para uma solução diplomática rápida. Lamentamos que o Irã não tenha tomado essas medidas até o momento e o instamos a agir agora”, disse a embaixadora britânica na ONU, Barbara Woodward, ao Conselho. “Estamos prontos para novos compromissos, diplomaticamente, na próxima semana e além, para buscar resolver as diferenças.”

Qualquer adiamento exigiria uma resolução do Conselho de Segurança. Se um acordo sobre uma extensão não for alcançado até o final de 27 de setembro, todas as sanções da ONU serão reimpostas.

A embaixadora interina dos EUA, Dorothy Shea, afirmou que, embora os EUA tenham negado a resolução nesta sexta, isso “não impede a possibilidade de uma diplomacia real”, acrescentando que o retorno das sanções ao Irã “não impede a remoção posterior por meio da diplomacia”.

O embaixador do Irã na ONU, por sua vez, reagiu com indignação, chamando a medida de “ilegal”. “A ação de hoje é precipitada, desnecessária e ilegal. O Irã não reconhece nenhuma obrigação de implementá-la”, disse Amir Saeid Iravani ao Conselho de Segurança, referindo-se ao que Teerã considera uma “política de coerção”.

Apesar disso, ele disse a jornalistas que a porta para a diplomacia não está fechada e que o ministro das Relações Exteriores do Irã, Abbas Araqchi, se reunirá com seus colegas europeus à margem da Assembleia-Geral. Há quase duas semanas, no dia 7 de setembro, o chanceler afirmou que o país aceitaria o controle de seu programa nuclear em troca da suspensão de sanções internacionais.

Rússia, China, Paquistão e Argélia votaram a favor do texto que tentava encerrar as sanções. No total, nove membros votaram contra, enquanto dois se abstiveram, e a resolução falhou por não obter o mínimo de nove votos necessários.

Já Israel, que travou uma guerra de 12 dias com o Irã este ano com o objetivo declarado de destruir suas capacidades nucleares, pediu que o mundo impeça “para sempre” que Teerã adquira uma bomba atômica.

“O programa nuclear do Irã não tem fins pacíficos. Um Irã com armas nucleares significaria que o regime mais perigoso possuiria a arma mais perigosa, o que minaria radicalmente a estabilidade e a segurança globais”, escreveu o Ministro das Relações Exteriores israelense, Gideon Saar “O objetivo da comunidade internacional não deve mudar: impedir para sempre que o Irã adquira capacidades nucleares.”

O acordo de 2015 está em ruínas desde que os EUA se retiraram do tratado em 2018, durante o primeiro mandato de Donald Trump, e reimpuseram sanções ao Irã. Há muito potências ocidentais e Israel acusam Teerã de buscar armas nucleares, uma alegação que o país persa nega.

Após a retirada dos EUA, Teerã gradualmente recuou de seus compromissos assumidos no acordo e começou a intensificar suas atividades nucleares. Desde o conflito entre Irã e Israel em junho, a tensão tem sido a norma.

A guerra também prejudicou as negociações nucleares de Teerã com os EUA e levou o Irã a suspender a cooperação com a agência nuclear da ONU, a Aiea (Agência Internacional de Energia Atômica).