BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, afirmou nesta sexta-feira (19) que o Itamaraty acionou o secretário-geral da ONU, António Guterres, e a presidência da Assembleia-Geral da organização para interferir junto aos Estados Unidos quanto às restrições ao ministro Alexandre Padilha (Saúde).

“Estamos através do secretário-geral da ONU e da presidente da Assembleia-Geral relatando o ocorrido. São restrições sem cabimento, injustas e absurdas, e nós estamos pedindo a interferência do secretário-geral junto ao país sede”, disse Vieira, durante entrevista coletiva junto da chefe da diplomacia da União Europeia, Kaja Kallas, que está em visita a Brasília.

Apesar de haver concedido visto ao ministro Alexandre Padilha (Saúde) para participar da Assembleia-Geral da ONU, o governo Donald Trump impôs limitações à sua circulação na cidade de Nova York, sede das Nações Unidas, conforme revelou a Folha de S.Paulo nesta quinta-feira (18).

De acordo com integrantes do governo americano, os EUA decidiram limitar a movimentação de Padilha e familiares que o acompanharem a cinco blocos do local de hospedagem do ministro, além das rotas entre o hotel, o distrito em que fica localizada a sede da ONU, a missão do Brasil junto à organização e a residência do representante brasileiro na organização.

A decisão de entrada e permanência de estrangeiros nos EUA é prerrogativa exclusiva do governo americano. No caso da ONU, existe um acordo internacional que, em tese, obriga os EUA a autorizarem a permanência em Nova York de autoridades que participem de atividades nas Nações Unidas.

Datado de 1947, o tratado estabelece que os EUA não podem impor restrições de trânsito no distrito da ONU para agentes e membros da organização, especialistas que estejam em missão na entidade e outras pessoas convidadas.

Ainda assim, para países alvos de sanções pelos EUA, como Irã, Venezuela e Coreia do Norte, o governo americano impõe restrições de circulação.

Os enviados de Teerã e Pyongyang, por exemplo, não têm permissão de se afastar da ilha de Manhattan —o que significa que a restrição imposta a Padilha é maior do que as delegações de Irã e Coreia do Norte, inimigas dos EUA com as quais Washington não tem relações diplomáticas.

No mês passado, Trump revogou o visto de Padilha para entrar nos EUA, além dos documentos de sua esposa e de sua filha. A justificativa foi a atuação do ministro na criação do programa Mais Médicos, no governo Dilma Rousseff.

Padilha não foi diretamente atingido naquele momento pois seu visto tinha vencido em 2024, mas ficou proibido de obter uma nova permissão de viagem. Na terça (16), ele disse não estar “nem aí” para a resposta dos EUA sobre seu visto.

O governo Lula havia requisitado em 19 de agosto um visto para o ministro para que ele possa estar presente em eventos internacionais. O primeiro deles é a reunião da Organização Pan-Americana de Saúde, no próximo dia 29, em Washington.

O segundo é o debate da Assembleia-Geral da ONU, que ocorre a partir da próxima terça-feira (23) em Nova York. No evento, Padilha deveria participar de uma reunião de alto nível sobre doenças crônicas.