SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Em uma escalada sem precedentes na tensão entre a Rússia e a Otan, três caças MiG-31K de Moscou invadiram o espaço aéreo da Estônia nesta sexta-feira (19). Eles permaneceram por 12 minutos sobre o Estado báltico, que é integrante da aliança militar ocidental.
Um número incerto de caças F-35 italianos, que integram a força de policiamento aéreo do Báltico, foi enviado para interceptar os russos, que deram meia-volta, segundo a Otan.
“A violação é uma provocação extremamente perigosa”, escreveu no X a chefe da diplomacia da União Europeia, Kaja Kallas, que foi premiê da Estônia. “Putin está testando a determinação do Ocidente. Nós não devemos mostrar fraqueza”, afirmou.
“A Rússia violou o espaço aéreo da Estônia quatro vezes neste ano, o que é inaceitável em si, mas a violação de hoje é de um descaramento sem precedentes”, disse o chanceler estoniano, Margus Tsahkna.
O incidente, que não foi comentado pelo governo de Vladimir Putin, ocorre pouco mais de uma semana após a intrusão de 21 drones russos nos céus da Polônia. O Kremlin diz que a invasão foi acidental, tendo ocorrido durante um ataque ao oeste da Ucrânia.
A Polônia e vários governos europeus não concordam, e acreditam que a ação visava testar a capacidade de reação do país. Caças F-16 de Varsóvia e um F-35 holandês foram mobilizados, derrubando um número não divulgado de drones. No sábado passado (13), foi a vez de a Romênia interceptar drones que atravessaram a fronteira durante um ataque à região de Odessa.
A Otan não cravou a intencionalidade dos russos, mas reagiu. Há uma semana, lançou a Operação Sentinela Oriental, de reforço de defesa aérea do flanco leste da aliança. Caças franceses e britânicos foram deslocados para a Polônia num primeiro momento.
A mobilização desta sexta envolveu caças da missão Policiamento Aéreo Báltico, criada após a anexação da Crimeia pelos russos em 2014. Como as três repúblicas bálticas não têm Força Aérea digna de nota, passaram a ser protegidas por aviões de países aliados, em regime de rotação -daí os F-35 italianos.
Segundo o jornal estoniano Ohtulet, a intrusão ocorreu na altura da pequena ilha de Vaindloo, no golfo da Finlândia. De lá, os MiG-31 voaram em direção à capital do país báltico, Tallinn, e ficaram dando voltas até serem interceptados.
As tensões entre as três nações da região e a Rússia remonta ao fato de que elas foram incorporadas à União Soviética na Segunda Guerra Mundial, e foram berço de alguns dos mais significativos movimentos de independência no ocaso do império comunista.
Em 2004, tornaram-se as primeiras repúblicas ex-soviéticas a integrar a Otan, ainda no primeiro mandato de Putin como presidente. A expansão da aliança ao leste, que foi parada com guerra na Geórgia e na Ucrânia, é um dos principais pontos de atrito entre o Kremlin e o Ocidente.
A invasão desta sexta ressalta também o perigo de algum erro de cálculo no jogo entre os rivais. Um avião derrubado por engano ou um choque acidental, como já ocorreu anteriormente, pode levar a uma escalada imprevisível em um ambiente de alta voltagem militar.
Os olhos da Europa agora se voltam para Donald Trump, o presidente americano que se reaproximou de Putin sob a alegação de que iria acabar com a guerra iniciada pelo russo em 2022 na Ucrânia. Até aqui, fracassou no intento.
Os russos seguem avançando lentamente no leste ucraniano e Trump tem ameaçado sanções mais duras, que atinjam compradores de petróleo de Moscou, como a China. Mas agora ele diz que só entrará em campo se os europeus o fizerem primeiro e se os integrantes da Otan que consomem energia russa pararem de fazê-lo.
Não são poucos que veem nisso apenas tergiversação para não melindrar Putin, mas na prática a posição ambígua dos EUA sob Trump está levando ao rearmamento europeu e ao clima de tensão, em especial nas fronteiras a leste do continente.
A Alemanha, sob forte crise econômica, tem endurecido o discurso e abriu uma base militar na Lituânia, algo que não ocorria desde a Segunda Guerra, visando dissuadir a Rússia.