SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O Itamaraty pediu, nesta quinta-feira (19), que Israel respeite “todas as normas de direito internacional e direito humanitário vigentes” e garanta a segurança dos barcos da Global Sumud Flotilha, que tentam furar o bloqueio imposto por Tel Aviv à Faixa de Gaza.

“O Brasil insta as autoridades israelenses a respeitarem todas as normas de direito internacional e direito humanitário vigentes, assegurando a incolumidade dos civis e das embarcações de caráter estritamente pacífico e humanitário”, afirmou o Ministério das Relações Exteriores. “O Brasil sublinha, ademais, a importância de que a liberdade de navegação seja garantida, exortando todos a se absterem de atos ilegais ou violentos contra a referida Flotilha.”

Os barcos, que levam ao menos 13 brasileiros, incluindo o ativista Thiago Ávila, detido por Israel na empreitada anterior do grupo em maio, e a vereadora Mariana Conti (PSOL), de Campinas, estão perto da ilha de Sicília, no sul da Itália. Segundo a organização, 80 barcos de 44 países, com cerca de 700 pessoas, deveriam participar da missão. A chegada a Gaza estava prevista para 13 de setembro, o que não ocorreu.

As últimas tentativas de abrir um corredor humanitário simbólico por mar foram frustradas pelas forças militares israelenses. Renderam, porém, ações midiáticas e visibilidade ao movimento contra o bloqueio.

Em maio, por exemplo, a embarcação Conscience, organizada pelo grupo Freedom Flotilla, foi atingida por dois drones em águas internacionais perto da ilha de Malta, às vésperas de levar 80 integrantes e insumos ao território. Na época, funcionários do governo israelense acusaram o movimento de transportar armamentos ao grupo terrorista Hamas, o que foi contestado por uma inspeção maltesa.

A operação atual foi batizada de Global Sumud -“sumud” pode ser traduzido como “resiliência”. A ação foi organizada conjuntamente pelos coletivos Global March to Gaza, Sumud Convoy, Sumud Nusantara e a coalizão Freedom Flotilla. Eles afirmaram ter arrecadado mais de EUR 90 mil (R$ 570 mil) em doações para a iniciativa.

O bloqueio israelense que o território palestino enfrenta há anos foi intensificado desde o início da guerra, em outubro de 2023. Entre março e maio deste ano, por exemplo, Gaza chegou a ficar 11 semanas sem receber nenhuma ajuda, o que levou os habitantes a encarar uma catástrofe humanitária.

Em quase dois anos, pelo menos 65 mil pessoas morreram em Gaza, de acordo com dados do Ministério da Saúde de Gaza controlado pelo Hamas, que a ONU considera confiáveis. Isso corresponde a 3% dos 2 milhões de habitantes do território antes do início da guerra.

Na semana passada, o ex-comandante do Exército de Israel Herzi Halevi afirmou que mais de 200 mil palestinos foram mortos ou feridos desde o início do conflito. A estimativa corresponde a cerca de 10% da população do território.

Além disso, a grande maioria dos habitantes de Gaza foi deslocada pelo menos uma vez, e mais deslocamentos em massa estão ocorrendo à medida que Israel intensifica sua ofensiva para tomar o controle da Cidade de Gaza, onde a ONU declarou estado de fome.