PEQUIM, CHINA (FOLHAPRESS) – O líder do regime chinês Xi Jinping e o presidente dos Estados Unidos Donald Trump fizeram um telefonema nesta sexta-feira (19) para discutir as tensões que envolvem os países, como a guerra comercial e o acordo para manter o TikTok funcionando nos EUA.

A conversa foi confirmada por diferentes veículos estatais chineses, mas o conteúdo ainda não foi divulgado. Segundo o jornal China Daily, o diálogo foi “pragmático, positivo e construtivo”.

É esperado que os mandatários aprovem o que foi divulgado por autoridades dos países após rodadas de negociação nesta semana, definindo assim o destino dos 170 milhões de usuários do aplicativo nos EUA.

A guerra comercial e um possível encontro entre os líderes durante a cúpula da Apec (Cooperação Econômica Ásia-Pacífico, em português) na Coreia do Sul também eram temas esperados para a ligação.

A conversa ocorreu após negociadores americanos e chineses liderados pelo secretário do Tesouro americano, Scott Bessent, e pelo vice-primeiro-ministro da China, He Lifeng, se reunirem em Madri no início desta semana para discutir as tensões entre os países, em especial o prazo para venda do TikTok, que terminava nesta quarta-feira (17).

Os representantes chegaram a um consenso para manter a plataforma operando nos EUA, e a Casa Branca estendeu o prazo de venda para 16 de dezembro, dando ao TikTok mais 90 dias para finalizar as transações.

O plano desenhado prevê que os ativos americanos do aplicativo sejam transferidos para uma propriedade controlada pelos EUA. Segundo o Wall Street Journal, as operações americanas seriam controladas por um consórcio de investidores que deteria cerca de 80% da entidade, enquanto chineses ficariam com o restante.

O acordo exigiria que os usuários migrassem para um novo aplicativo que já estaria em fase de testes, segundo o jornal.

Um dos pontos principais que ainda está em jogo é se o algoritmo a empresa chinesa ByteDance será licenciado, como disse Pequim em coletiva de imprensa, ou se será necessário o desenvolvimento de um novo, o que deixa analistas céticos a respeito da eficácia e retenção de uma suposta versão americana.

Em caso de licenciamento, o algoritmo permaneceria em controle chinês, levantando preocupações de parlamentares e de outras autoridades preocupadas com a segurança nacional americana sobre a possibilidade de influência de Pequim na nova plataforma.

O grupo teme que Pequim use o app para disseminar propaganda comunista e conteúdo polarizador ou favorável à China.

“Com base nos relatos iniciais, estou preocupado que o acordo de licenciamento relatado possa envolver a dependência contínua do novo TikTok em um algoritmo e aplicativo da ByteDance, o que poderia permitir o controle ou a influência contínua do PCC”, disse o deputado americano John Moolenaar em um comunicado.

As exigências americanas de que o aplicativo tenha controle nos EUA se respaldam em lei aprovada pelo Congresso em 2024 e sancionada pelo democrata Joe Biden, exigindo a venda do aplicativo em nove meses ou o banimento em território americano. As justificativas dos parlamentares que apoiaram legislação se sustentam na ideia de que os dados de cidadãos dos EUA estavam sendo compartilhados com o governo chinês

Embora a lei exigisse que a ByteDance vendesse ativos americanos ou fosse banida, o governo Trump recuou diversas vezes na aplicação e estendeu o prazo quatro vezes, o que tem sido visto como um forma de evitar desgaste com a população e sua própria base eleitoral.

A tensão entre o país e a empresa chinesa, porém, começou anos atrás, quando Trump emitiu decretos e realizou uma série de movimentos para banir ou inviabilizar a operação da empresa nos EUA. As ações do presidente americano, porém, tiveram pouco efeito devido a decisões judiciais.