SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) – As forças de segurança do Paraná encontraram nesta sexta-feira (19) os corpos dos homens que desapareceram na área rural de Icaraíma (PR), no dia 5 de agosto, após serem contratados para cobrar uma dívida de R$ 255 mil. Além deles, o responsável por contratar o serviço do trio também estava sumido.
Trio saiu de São José do Rio Preto (SP) com destino ao Paraná no dia 4 de agosto. Ao chegarem em Icaraíma, os amigos Robishley Hirnani De Oliveira, 53, Rafael Juliano Marascalchi, 43, e Diego Henrique Afonso, 39, encontraram o contratante, identificado como Alencar Gonçalves de Souza, 36, que também auxiliaria na cobrança da dívida.
Os amigos ganhavam dinheiro cobrando dívidas havia 13 anos. O serviço era ofertado para credores que estavam com dificuldade de receber um determinado valor, como era o caso de Alencar. Segundo a polícia, o contratante realizou a venda de um imóvel em Icaraíma por R$ 255 mil, mas o comprador não pagou as dez notas promissórias de R$ 25,5 mil. Esse homem não teve o nome divulgado pelas autoridades.
Polícia acredita que eles foram vítimas de uma emboscada dos devedores. O trio se encontrou com Alencar em Icaraíma e foi até uma propriedade rural, no distrito de Vila Rica, para fazer a cobrança da dívida. “Eles fazem um primeiro contato com o devedor e, nessa primeira conversa, fica combinado de dar um retorno para o dia seguinte, no dia 5 de agosto”, explicou Gabriel Menezes, delegado que investiga o desaparecimento.
Acompanhados de Alencar, os três amigos foram novamente à propriedade rural no dia 5 de agosto. Desde então, não foram mais vistos. Buscas foram realizadas na região desde então. Primeiro, o veículo dos desaparecidos foi localizado em uma área de mata perto de Icaraíma. Uma carta anônima ajudou a polícia a encontrar o endereço.
O Fiat Toro estava com marcas de tiros e vestígios de sangue. O carro foi retirado de um bunker na madrugada desta quinta-feira (18), segundo informações das forças de segurança do Paraná.
ALENCAR GONÇALVES DE SOUZA
Alencar trabalhava como produtor rural no interior do Paraná. Segundo a família, ele era casado, um homem pacato e o mais novo de três irmãos. Ele vivia com a esposa e o pai, de 67 anos, em uma propriedade rural.
Família do contratante contou à imprensa local que não sabia que ele estava cobrando a dívida. Foram os familiares dele que denunciaram o caso à polícia após Alencar não responder as mensagens. Eles registraram um boletim de ocorrência na Polícia Militar, no dia 5 de agosto.
DIEGO HENRIQUE AFONSO
Há um mês, Fabricia Pellini, 35, convive com a falta de notícias do marido, Diego Henrique Afonso. O casal, junto há 13 anos, vivia em Olímpia, no interior de São Paulo. Eles não têm filhos. “Diego é uma pessoa tranquila, que corre atrás das coisas dele, um menino muito batalhador”, descreveu a esposa à reportagem.
Último contato dela com o marido foi na manhã do dia 5 de agosto. Eles se falaram por ligação e Diego disse que ia fazer de tudo para que a negociação terminasse bem em Icaraíma. À tarde, ela tentou novamente contato com o marido, mas nunca recebeu uma resposta. “A mensagem já não enviou”, disse. No dia anterior, Diego havia dito que um dos homens com quem eles negociavam só andava armado.
RAFAEL JULIANO MARASCALCHI
Rafael era casado e tinha filhos. Ele costumava publicar fotos da família em viagens e na igreja. “Você me ensinou ser uma mulher forte. E eu serei forte por você e pela nossa família. Eu te amo muito. Estou com muita saudade”, escreveu a esposa Meire Souza em uma publicação após mais de um mês sem notícias do marido.
Um dos últimos posts de Rafael é uma homenagem à esposa. “Parabéns, meu amor. Feliz Dia das Mães. Te amo”, escreveu. Ele tirou uma foto com ao lado dos amigos a caminho de Icaraíma.
Ela diz que tem tomado remédio para dormir desde que o carro foi encontrado. “Está sendo uma tortura muito grande isso que a gente está vivendo”, afirmou à TV Globo. Apesar disso, a mulher ainda tem esperança que os amigos sejam encontrados com vida.
Rafael, Diego e Robshley já foram conduzidos à delegacia por desentendimentos no momento dessas cobranças. Mas nunca foram presos por porte de arma de fogo ou por agredirem alguém. Os familiares dizem que o serviço de cobrança de dívida, algo não convencional, não era acompanhado de violência.
ROBISHLEY HIRNANI DE OLIVEIRA
Foi a esposa de Robishley que procurou a polícia de São Paulo para prestar queixa. O caso foi registrado como desaparecimento no plantão da seccional de São José do Rio Preto, mas transferido para a Polícia Civil em Icaraíma, que investiga o caso.
Robishley trabalhava como vendedor e era pai de dois filhos. Ele era casado havia dez anos com Denise Cristina Pereira, que já não tinha esperanças de encontrar o marido vivo.
Ele costumava viajar para realizar o serviço de cobrança de dívida. Além disso, vendia carros, casas, sítios. A esposa sempre teve medo das viagens de Robishley.
Último contato dela com o esposo foi pelo WhatsApp. Robishley perguntou como estava a filha deles, de sete anos, que estava com dor de garganta. Ele diz ainda que estava com dores e que a ida ao Paraná poderia não ter bons resultados. “Não vai virar nada aqui”, afirmou à esposa. Conforme Denise, esse foi o último contato.
Famílias dos desaparecidos se uniram para acompanhar as investigações. “Estou sempre em contato com as outras famílias, tá muito difícil, queremos uma resposta porque o desespero é muito grande. Tem sido um mês muito triste”, lamentou a esposa de Diego.
Elas anunciaram recompensa de R$ 50 mil por informações dos três amigos desaparecidos. Os parentes também prometem pagar R$ 50 mil a quem fornecer notícias sobre o paradeiro dos suspeitos do crime, Antônio Buscariollo, 66, e seu filho Paulo Ricardo Buscariollo, 22. Eles tiveram a prisão preventiva decretada em 8 de agosto, mas seguem foragidos.
Delegado afirmou que a angústia das famílias é compreensível, mas que detalhes da investigação não serão revelados. “No momento oportuno, eles vão compreender que esse sigilo foi necessário”, disse Gabriel. Sobre o pedido de recompensa, ele destacou que não pode comentar, já que é uma iniciativa dos familiares. Procurada, a Polícia Civil do Paraná não forneceu mais detalhes da investigação.
PAI E FILHO SÃO SUSPEITOS DE ENVOLVIMENTO NO CRIME
Os principais suspeitos do desaparecimento são pai e filho. Antônio Buscariollo e Paulo Buscariollo chegaram a ser ouvidos, mas negaram envolvimento no crime e foram liberados.
Eles fugiram de Icaraíma um dia depois de prestar depoimento. Antônio e Paulo se tornaram suspeitos após a polícia voltar ao local onde eles moravam e não encontrar ninguém. “Constatamos que a família inteira havia fugido”, disse o delegado Gabriel Menezes.
No sábado (13), a polícia prendeu um homem e apreendeu um carro. Um Fiat Strada, cor branca, com placas adulteradas, foi apreendido sob suspeita de que o veículo pode pertencem a família Buscariollo. O condutor foi preso em flagrante e negou vínculo com os suspeitos.
Localização dos suspeitos pode ajudar a desvendar o caso. “Pode permitir que a gente encontre os corpos, em caso de homicídio, ou o cativeiro onde esses homens podem estar”, afirmou Gabriel Menezes. Quem tiver informações sobre o paradeiro dos homens pode acionar a Polícia Militar pelo telefone 190.