SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O que começou como a chance para uma experiência de intercâmbio quase virou uma expectativa frustrada para um aluno da rede pública estadual de São Paulo. Aprovado em todas as etapas do processo seletivo, o estudante de 16 anos, diagnosticado com TEA (Transtorno do Espectro Autista) de grau 1, teve sua estadia recusada por dois países antes de ser aprovado no Canadá.

O aluno, cuja família pediu para ter a identidade preservada, foi um dos aprovados pelo programa Prontos Pro Mundo, do Governo de São Paulo. A iniciativa seleciona alunos da rede pública estadual e custeia os estudos de inglês por três meses em países parceiros, como Austrália, Canadá, Nova Zelândia e Reino Unido. Para 2026, foi incluída a Irlanda.

O estudante, aluno de uma escola em Santo André, na Grande São Paulo, havia chegado em casa animado com a ideia de estudar fora, conta a irmã Cris, 32. Após ter uma boa pontuação no Provão Paulista de 2023, ele havia conquistado uma bolsa para estudar inglês. Na prova final, ele ficou entre os cem primeiros do estado e havia sido aprovado para fazer o intercâmbio no Reino Unido.

Com o contato da escola em fevereiro deste ano, a família começou a se animar, apesar da apreensão sobre o tempo fora do país. Conforme o processo seletivo caminhava, a família apresentou um laudo de 2024 do estudante, que recomendava terapia ocupacional e com fonoaudiólogo e psicólogo.

Em maio, disse Cris, a escola solicitou à família um novo laudo. “Quando foi em maio, mandaram um comunicado à minha mãe dizendo que precisava de um atestado caso o aluno tivesse ansiedade, depressão ou algo relacionado.” A psicóloga do SUS em Santo André que atende o estudante, então, fez uma avaliação e o liberou para a viagem.

O convívio social do adolescente, segundo a irmã, é normal. “Ele é tímido, mas não tem um comprometimento social. Ele sai, frequenta festas de família e conversa, não é isolado.”

Em junho, a família pegou o passaporte do estudante. O processo, então, seguiu com uma reunião de pré-embarque com os alunos em 8 de julho, na qual foram explicados os detalhes para a viagem.

Três dias depois, a mãe do estudante foi informada que o Reino Unido havia recusado a matrícula, contou Cris à reportagem. Procurado por meio da Embaixada Britânica, o país afirmou que teve conhecimento do caso por meio da imprensa. “O governo do Reino Unido não está envolvido nas decisões relativas a alunos deste programa.”

A família reclamou de falta de informações oficiais sobre os motivos da recusa e pressionou a escola por informações. Foi então que souberam que o governo também tinha tentado a matrícula do jovem na Austrália, mas com um novo indeferimento.

Segundo a pasta da Educação do governo Tarcísio de Freitas (Republicanos), a participação dos estudantes no programa está condicionada à aceitação e matrícula nos países de destino.

“Ambas as negativas foram fundamentadas na análise dos laudos apresentados pela família, que indicam a necessidade de acompanhamento interdisciplinar contínuo -incluindo psicologia, fonoaudiologia e terapia ocupacional-, além do uso de medicação controlada, o que, segundo as instituições, inviabiliza o acolhimento adequado do estudante nas estruturas educacionais oferecidas.”

A secretaria disse, também, que “seis estudantes com laudos de inclusão foram aprovados e embarcaram para experiências internacionais: cinco alunos com TEA, sendo dois destinados ao Canadá, dois ao Reino Unido e um à Nova Zelândia; e um aluno com deficiência intelectual, também encaminhado à Nova Zelândia”.

Procurado, o Departamento de Educação do Governo do Estado de South Austrália afirmou que não recebeu atestado médico indicando que o estudante estava apto a participar do programa. “Dadas as circunstâncias, o departamento indeferiu a solicitação, uma vez que uma família anfitriã de curta duração não teria condições de oferecer o nível adequado de suporte médico e de bem-estar necessário.”

O tempo corria enquanto a família tentava comprovar que o estudante estava apto a viajar e passar três meses fora do país para fazer o intercâmbio. A turma da qual ele deveria fazer parte faria os embarques neste mês.

Enquanto isso, continuavam os contatos com a escola. Foi em 22 de agosto que a família recebeu uma novidade sobre a seleção para o Canadá. “Por volta das 11 horas, meu irmão me ligou numa chamada de vídeo junto com a supervisora [da escola] e estava muito feliz. Aí falaram que o Canadá tinha dado uma resposta”, relata Cris.

A resposta, segundo a irmã do estudante, era a notícia de que ele havia sido aprovado. O estudante viaja em janeiro. Entre as aspirações do jovem, “ele gosta muito da área de tecnologia, de programação de jogos, então ele quer algo voltado para isso mesmo”, diz a irmã.