SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A avenida Vereador Abel Ferreira, com cerca de 4 km de extensão, entre outros, corta os bairros Anália Franco e Tatuapé, na zona leste da capital paulista. No seu caminho há veículos estacionados no entrono de shopping center, universidade, hospital, restaurantes e comércios diversos. A via é a preferida dos ladrões de carro na região metropolitana de São Paulo.
Somente nos seis primeiros meses do ano, 74 automóveis foram furtados ou roubados na avenida, que também já havia liderado esse ranking de criminalidade no primeiro semestre de 2024 (com 69 casos).
Das dez vias com mais queixas de roubo e furto de carros, as seis primeiras ficam na zona leste paulistana. Não há nenhum bairro da região central no topo desse ranking.
Os dados fazem parte de um levantamento feito pela empresa de rastreamento Ituran Brasil, com base em boletins de ocorrência registrados na Polícia Civil. A pesquisa contabiliza veículos de passeio.
Fernando Correia, gerente de operações da empresa e um dos responsáveis pela análise das informações, afirma que nos bairros cruzados pela Vereador Abel Ferreira há uma diversidade de automóveis estacionados e em circulação, desde os mais populares aos de luxo.
A uma quadra da via, por exemplo, fica um shopping center, cujo estacionamento custa R$ 20 pelo período de três horas, o que leva motoristas a se exporem ao risco ao deixarem seus veículos na rua para economizar.
“Quando a polícia intensifica a fiscalização no Tatuapé, as ocorrências migram para o Jardim Anália Franco e vice-versa”, diz.
Com 818 queixas no período, Vila Matilde e Tatuapé são os bairros campeões de furtos e roubos de veículos de passeio na região metropolitana.
Correia lembra que há desmanches clandestinos nesta região da cidade, principalmente nos extremos da zona leste. “Os ladrões não querem se expor rodando muito com o carro. Desmontam logo em um matagal e levam as peças a esses desmanches”, afirma.
Houve queda tanto de roubo quanto de furto entre os dois semestres comparados. Em 2024 foram 27.535 ocorrências, dos dois tipos de crimes, contra 24.801 de 2025, queda de 10%.
A cidade de São Paulo registrou o mesmo percentual de redução no número de carros furtados ou roubados no período, passando de 17.590 para 15.902 queixas.
A SSP (Secretaria da Segurança Pública) diz não comentar estudos cuja metodologia desconhece. Mas reforça os números em queda. Pelas suas estatísticas, a cidade de São Paulo registrou recuo de 16,1% nos roubos de veículos (não apenas os de passeio, como mostra o levantamento), na comparação anual. Entre janeiro e julho, foram 6.023 casos -o menor número em 25 anos, segundo a pasta.
Os furtos, afirma, seguiram a mesma tendência. Neste ano houve 23.055 registros do crime, uma redução de 5,7% em relação aos sete primeiros meses de 2024, quando forram 24.459.
Na pesquisa deste ano da Ituran, os furtos representam 84% de todas as ocorrências na região metropolitana, contra 79,5% nos primeiros seis meses de 2024.
Rafael Alcadipani, professor da FGV (Fundação Getulio Vargas) e integrante do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, afirma que o furto oferece menos riscos ao ladrão, que não precisa portar arma de fogo no momento do crime e, se for pego, tem pena menor que nos casos de roubo.
O especialista diz que os bairros mais afastados são menos guarnecidos de equipamentos de segurança pública, como policiais e câmeras com leitores para identificação de placas.
“Também são áreas com mais área para fuga, principalmente rodovias. São lugares com circulação de carros mais velhos e onde se tem demanda maior por peças.”
De acordo com Alcadipani, somente ações contra desmanches clandestinos vão reduzir furtos de veículos.
Conforme a SSP, as forças de segurança atuam em conjunto na elaboração de políticas públicas para coibir toda a cadeia de crimes patrimoniais envolvendo veículos, incluindo a ação de quadrilhas de receptadores.
Em uma ação da 3ª Divecar (Divisão de Investigações sobre Crimes contra o Patrimônio), em agosto passado, por exemplo, cinco pessoas que faziam parte de um esquema de desmanches ilegais, receptação de veículos e comércio de peças automotivas de origem ilícita acabaram presos.
Na lista dos dez veículos mais visados, segundo o levantamento da Ituran, os nove primeiros são carros populares, sendo que desses, quatro saíram de linha, ou seja, não são mais fabricados.
Assim como no ano passado, o Hyundai HB20 foi o preferido dos ladrões, com 1.295 queixas de roubo e furto na região. Se pode haver uma boa notícia, foram levados 148 carros a menos do modelo, na comparação com 2024.
Conforme o estudo, quatro em cada dez veículos levados têm mais de dez anos de idade, o que reforça a tese de que estão sendo levados para abastecer o mercado clandestino de peças.
Ao contrário das motos, mais procuradas pela criminalidade nos fins de semana, no caso dos carros, eles desaparecem mais das ruas em dias úteis, com exceção das segundas-feiras. “De terça a sexta é quando há movimento no trânsito”, afirma Correia.
É à noite que os ladrões agem mais -30% das ocorrências ocorreram no período noturno.