RECIFE, PE (FOLHAPRESS) – Vereadores de direita têm liderado oposição digital sistemática ao prefeito do Recife, João Campos (PSB), no segundo mandato. O contraponto ao chefe do Executivo acontece sobretudo nas redes sociais, área que é um dos principais focos da comunicação do gestor.

Ao longo do primeiro mandato, João Campos despontou como um dos políticos mais seguidos do Brasil nas plataformas digitais. No Instagram, por exemplo, o prefeito possui 2,9 milhões de seguidores. O amplo potencial de comunicação contribuiu para expandir a sua popularidade na cidade.

De 2021 a 2024, a oposição a João Campos também tinha perfil à direita. Entretanto, os vereadores não tinham alcance expressivo nas redes sociais. Desde janeiro de 2025, três parlamentares -eleitos pela primeira vez no ano anterior- assumiram o protagonismo na oposição digital ao prefeito: Eduardo Moura (Novo), Gilson Machado Filho (PL) e Thiago Medina (PL).

Para Gilson Filho, a oposição não teve apenas uma mudança de vereadores, mas também da forma de se comunicar com a população.

“O líder da oposição no mandato anterior [Alcides Cardoso] era um vereador muito técnico, um dos que mais acionaram a prefeitura do Recife. Mas ele não sabia divulgar o que fazia nem chegar nas redes sociais. Então, a população acabava recebendo as informações que o prefeito difundia. Agora, temos uma oposição na mesma bolha que o prefeito nadava sozinho”, diz.

Eduardo Moura (Novo) é jornalista e ex-apresentador de programas policiais na televisão. O vereador tem mais de 326 mil seguidores e faz fiscalizações periódicas para apontar lacunas da gestão do Recife, como falhas em atendimentos em unidades de saúde e atrasos em obras.

Esse é o primeiro mandato eletivo de Eduardo Moura. Aliados de João Campos detectaram que a atuação do parlamentar alcança, inclusive, eleitores do prefeito, o que acendeu o alerta no PSB quanto ao alcance do político do Novo.

Uma das fiscalizações de Moura gerou polêmica em março, quando o parlamentar foi até uma policlínica do Recife para denunciar demora no atendimento de pacientes. Na gravação, pessoas apareciam insatisfeitas com a espera nos atendimentos. O vereador foi até o local, entrou na unidade de saúde e questionou a demora na prestação dos serviços. Um dos vídeos gravados na ocasião superou 1,5 milhão de visualizações.

Na ocasião, o Ministério Público de Pernambuco expediu uma recomendação para que os vereadores não entrassem em unidades de saúde sem comunicação prévia.

“Foi importante ter acontecido isso, fui até o MP-PE, conversei com as promotoras sobre o que posso fazer. Não entro com consultório, em salas vermelhas, o que eu nunca fiz. Acho que a saúde é o grande calo da cidade do Recife”, diz o vereador.

Eduardo Moura diz que não se considera bolsonarista. Contudo, afirma preferir o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) ao atual presidente Lula (PT). “Sou de direita, mas não sou bolsonarista. Bolsonaro não é meu ídolo. Meu ídolo é Jesus.”

A oposição de direita, no Recife, porém, não tem vinculação política com a governadora Raquel Lyra (PSD), principal adversária política de João Campos. O prefeito deverá deixar o atual cargo em abril para disputar a eleição para o Governo de Pernambuco no próximo ano.

A ausência de envolvimento de Raquel na articulação do enfrentamento a João Campos é criticada por parlamentares da direita. O partido da governadora tem dois vereadores na cidade.

“Estou fazendo basicamente o serviço dela [da governadora]. O que mina a imagem do prefeito não sou eu, é a realidade do Recife. Só que ela deveria ter uma conversa com os vereadores para entender como funciona a Câmara. Não é conversa de oferecer vantagens”, diz Moura. “Falta muito essa articulação do governo Raquel. Entre ela e João, fico com ela mil vezes”, afirma Gilson.

Com 147 mil seguidores no Instagram, Gilson Machado Filho tem 27 anos e é filho do ex-ministro do Turismo do governo Bolsonaro Gilson Machado (PL).

A atuação de Gilson Filho também inclui a ida a ruas sem pavimentação na periferia do Recife e a prédios públicos da prefeitura para fazer questionamentos. A gravação de vídeos durante essas visitas é praxe.

A defesa de Bolsonaro é outro elemento central dos discursos de Gilson Filho durante discursos. O parlamentar costuma tecer críticas ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal.

Para 2026, os três vereadores podem ser candidatos a outros cargos. Eduardo Moura foi incluído pela primeira vez em uma pesquisa da Quaest para governador. No levantamento, divulgado no dia 22 de agosto, ele aparece com 4% das intenções de voto. Apesar disso, ele descarta disputar um cargo majoritário no próximo ano.

“Não pretendo me candidatar a cargo nenhum. Quem manda é o partido. O Novo tem cláusula de barreira para superar. Pode ser que tentem me colocar como candidato a deputado federal”, diz. “A chance é zero [de disputar para governador ou senador].”

Gilson Filho é cotado no PL para ser candidato a deputado federal. Ele e o pai, que é pré-candidato ao Senado, têm relação próxima com a família do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Outro nome da tropa de choque da oposição digital é o vereador Thiago Medina tem conteúdo nas redes sociais mais voltado para a produção de vídeos virais, apesar de também fazer críticas a João Campos e ao presidente Lula (PT).

Medina, de 22 anos de idade, tem perfil semelhante de atuação ao deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG), de quem teve apoio nas eleições para vereador em 2024. Ele, que possui 77 mil seguidores, é cotado para ser candidato a deputado estadual no próximo ano.

Nos bastidores, o entorno do prefeito João Campos admite que os vereadores de oposição atualmente têm um alcance expressivo nas redes sociais, mas que isso não abala o alcance do prefeito no campo digital. Outra aposta é que, com o tempo, esses parlamentares perderão força nas plataformas e poderão, inclusive, cair em contradições nos discursos ao longo da trajetória política.