SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A lacuna entre longevidade e vida saudável é um dos maiores desafios da saúde no século 21, aponta relatório inédito do IESS (Instituto de Estudos de Saúde Suplementar).

O documento reúne os dados mais recentes publicados que relacionam o intervalo entre o tempo total de vida e o período vivido sem doenças incapacitantes e aponta que, caso não haja mudanças estruturais, a disparidade colocará em risco a sustentabilidade dos sistemas de saúde.

O instituto aponta que, no cenário global, essa lacuna já é de 9,6 anos e pode chegar a 16 anos até 2035, de acordo com dados publicados na revista Jama Network Open em 2024. Quanto maior esse intervalo de tempo, maior é o prejuízo à sustentabilidade do setor.

O levantamento revela que a obesidade, hoje responsável por quase 10% dos gastos na saúde suplementar, poderá atingir 46% dos beneficiários em 2030. O custo médio por beneficiário, de R$ 2.200 em 2020, deve crescer para R$ 3.100 em 2030, uma alta de 42% em uma década. Para comparação, o PIB per capita tem o crescimento estimado em apenas 7,7% no período.

Segundo José Cechin, superintendente executivo do IESS, as doenças crônicas e em especial a obesidade -por ser fator de risco para outras doenças– são essenciais na discussão, por serem preveníveis.

Por isso, completa Felipe Delpino, pesquisador do IESS e responsável pelo estudo, a implementação de uma medicina preventiva é a chave para virar esse jogo. Além disso, a inclusão de elementos como telessaúde e a reorganização de ambientes urbanos e de novas políticas regulatórias são destaques do estudo.

Os planos de saúde passaram, nos últimos anos, por uma crise no atendimento. Entre 2018 e 2023, as reclamações contra o setor saltaram 263%, de 97.336 para 353.784, segundo levantamento feito pela agência a pedido da Folha no ano passado.

Hoje, diz Cechin, a ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar) estuda o plano de saúde simplificado, ideia pensada para as operadoras cobrirem consultas e exames, mas não internações.

Em maio de 2025, o MPF (Ministério Público Federal), por meio da Comissão de Saúde da Câmara do Consumidor e da Ordem Econômica, publicou uma nota técnica com críticas à proposta da ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar) de criação do novo modelo.

Na época, a comissão do MPF apontou que não há estudos para dimensionar o impacto dos planos populares para aqueles que já têm planos de saúde tradicionais. É possível, segundo o órgão, que algumas pessoas migrem dos convênios completos para os restritos, sobrecarregando ainda mais o SUS (Sistema Único de Saúde) em casos de necessidade de atendimento mais complexo.

O cenário, no entanto, não impede que as operadoras deixem de ofertar planos completos com cobertura hospitalar, na opinião do superintendente do IESS. “Haverá sempre demanda plena e operadoras que vão oferecer”, afirma.

O levantamento também sugere que o predomínio da remuneração por procedimento perpetua fragmentação e altos custos no manejo das doenças crônicas.

Contra isso, o estudo sugere a implementação de modelos de remuneração baseado em valor, em que modelos visam realinhar os incentivos econômicos com os objetivos de saúde populacional. O foco, portanto, seriam os desfechos em saúde, em vez de apenas a quantidade de procedimentos.

“A gente sabe que uma doença crônica teoricamente não tem cura, mas ela pode ser controlada A gente consegue fazer com que a população em processo de envelhecimento não desenvolva doenças tão cedo”, diz Felipe.