RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – Oito homens armados invadiram o centro cirúrgico de um hospital público no Rio de Janeiro para tentar capturar um paciente que estava internado, na madrugada desta quinta-feira (18). O grupo era formado por milicianos que tinham um rival como alvo, segundo relatos colhidos pela polícia.
A ação aconteceu na madrugada, às 2h30, no hospital municipal Pedro 2°, em Santa Cruz, zona oeste do Rio.
Câmeras de segurança de diferentes pontos do hospital mostram que homens entraram pela cancela da garagem, onde havia um vigilante e um agente de saúde. Um deles, encapuzado e armado com um fuzil, desembarcou e rendeu os funcionários.
A cancela foi levantada e dois carros passaram. Dentro da unidade de saúde, os suspeitos caminharam até o centro cirúrgico, onde procuravam por Lucas Fernandes de Souza, que foi baleado na tarde de quarta e passava por cirurgia.
O paciente, contudo, já havia sido transferido para o setor de enfermaria quando os suspeitos chegaram.
A intenção do grupo, segundo a polícia, era matar Lucas dentro do hospital. O secretário de Polícia Civil, Felipe Curi, disse que o alvo, preso em 2019 por extorsão, tem histórico de envolvimento com a milícia e havia passado recentemente para o Comando Vermelho.
O tiro que o atingiu foi disparado por um suposto miliciano que horas mais tarde foi ao hospital para concluir o assassinato. A polícia disse que identificou o responsável pelo tiro, que também é apontado como o líder da invasão ao hospital.
“Toda a região de Bangu, Santa Cruz e Campo Grande tem uma movimentação grande por disputa territorial entre Comando Vermelho e milicianos. Temos conseguido segurar essa expansão territorial do CV”, afirmou o secretário de Polícia Civil, Felipe Curi.
A Polícia Militar fez uma operação na comunidade do Gouveia, em Santa Cruz, de onde teria vindo o grupo armado, segundo dados de inteligência.
Pelo menos um dos suspeitos usava um uniforme da Draco (Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas), divisão da Polícia Civil. Investigadores tentam descobrir se o uniforme era falso.
Segundo a secretaria municipal de Saúde, a Polícia Militar foi acionada imediatamente e reforçou a escolta após o caso, a pedido da direção. Segundo a corporação, havia um PM de prontidão no hospital, que acionou viaturas.
O paciente foi transferido para o hospital municipal Miguel Couto, na Gávea, zona sul, durante a manhã.
“A prefeitura vai ter sempre uma estrutura de segurança básica para proteger seus hospitais, mas nunca vamos ter segurança para nos prevenir de ataques com homens fortemente armados”, disse o prefeito Eduardo Paes (PSD).
As duas unidades de saúde Pedro 2° e Miguel Couto têm reforço na segurança nesta quinta.
O episódio gerou atrito entre a prefeitura e o governo estadual. A secretaria municipal de Saúde, comandada pelo deputado federal licenciado Daniel Soranz (PSD), divulgou pela manhã que unidades de atenção primária suspenderam atendimento por questões de segurança 516 vezes de janeiro a julho deste ano.
O dado foi contestado pelo secretário estadual de Segurança Pública, Victor dos Santos, que chamou Soranz de mentiroso.
“Isso não condiz com a verdade, não existe esse número de ocorrências. Não tem nem 20% de ocorrências registradas. O secretário tem meu telefone, tem o telefone de outros secretários e não fez uma ligação para pedir esse tipo de apoio. Essa declaração gera insegurança e medo. Existe um PM em cada unidade hospitalar do estado.”
Em nova nota, Soranz disse que sua pasta mandou nesta quinta “relatório atualizado com o dia e a hora em que cada unidade de saúde foi obrigada a interromper o atendimento por motivos de segurança”.
“A população tem direito à informação e à proteção. E nós não vamos nos calar diante da omissão de quem deveria garantir segurança e ordem”, escreveu ele.
Paes fez cobranças ao governo Cláudio Castro (PL).
“A gente precisa que haja um comando claro do governo do estado, de autoridade. Essa gente tem que saber que não pode fazer o que fizeram.”
O Pedro 2° fica em Santa Cruz, bairro do Rio em que há comunidades dominadas pela milícia. O hospital fica a 200 metros de uma unidade do Exército, o 1° Batalhão de Engenharia de Combate, e a 1,8 km da Base Aérea de Santa Cruz, da FAB (Força Aérea Brasileira).