BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Os suplentes de três ministros de partidos do centrão que fazem parte do governo Lula (PT) votaram a favor da urgência da proposta de anistia na Câmara dos Deputados, contrariando orientação do Palácio do Planalto, na noite de quarta-feira (17).
Os suplentes dos ministros André Fufuca (Esporte), Celso Sabino (Turismo) e Silvio Costa Filho (Portos e Aeroportos) votaram a favor da urgência -os três são deputados federais licenciados pelo PP, União Brasil e Republicanos, respectivamente. Os suplentes favoráveis à urgência são os deputados em exercício Allan Garcês (PP-MA), Pastor Cláudio Mariano (União Brasil-PA) e Ossesio Silva (Republicanos-PE).
Garcês é bolsonarista assumido nas redes sociais e já estaria rompido com Fufuca, segundo relatos de aliados do ministro. Os outros dois são da bancada evangélica e costumam publicar fotos ao lado dos ministros.
A urgência, que acelera a tramitação do texto, teve 311 votos favoráveis e 163 contrários. Partidos que comandam ministérios do governo foram responsáveis por 58% dos votos que levaram à aprovação do requerimento de urgência.
Integrantes do Palácio do Planalto atuavam desde a semana passada para evitar o avanço dessa pauta. A ministra Gleisi Hoffmann (Secretaria de Relações Institucionais) se reuniu ao menos duas vezes nos últimos dias com colegas da Esplanada que integram a ala política do governo para debater estratégias para frear a anistia no Congresso.
Nos dois encontros, cobrou empenho dos ministros e atuação deles junto aos líderes e às bancadas partidárias para rejeitar a proposta. Na reunião desta semana, Costa Filho e Fufuca ponderaram a Gleisi que o governo não poderia errar na estratégia no combate à anistia e argumentaram que o envolvimento do governo pode gerar um desgaste desnecessário com parlamentares. Além disso, falaram que havia possibilidade de derrota do Planalto nessa votação.
Também foi citada como estratégia do governo nesses encontros a possibilidade de que os ministros que têm mandatos de deputados voltassem à Câmara para apoiar o governo nas votações. Um auxiliar de Lula diz que diante da falta de clareza sobre qual texto seria votado ou até mesmo se a cúpula da Câmara levaria de fato o tema ao plenário, os ministros não foram acionados para reassumir os mandatos.
Ele pondera, no entanto, que houve sinalização de que os três suplentes votariam com o governo -o que não ocorreu. Agora, a tendência é que os ministros sejam convocados e voltem à Câmara para votar no mérito da proposta, quando o texto for pautado.
Costa Filho diz à Folha de S.Paulo que seu suplente havia prometido que ajudaria o governo na votação, mas não cumpriu o acordo. “Ele tinha me prometido que não iria votar e votou. Mas na discussão do mérito da matéria eu vou me licenciar para votar. Se estivesse exercendo o mandato, votaria contra a urgência”, afirma.
Fufuca foi procurado, mas disse que não comentaria. Sabino não respondeu. Os dois ministros integram a federação do União Brasil e PP, que anunciou rompimento com o governo Lula no começo do mês. Pelo que as legendas decidiram, eles terão que deixar a Esplanada até o próximo dia 30.
De acordo com relatos, integrantes do governo conversaram com os ministros ainda na noite de quarta. Fufuca justificou a votação do suplente dizendo que ele não mantém mais relação política com ele e teria ressaltado que atuou junto a outros deputados, citando a votação da deputada Amanda Gentil (PP-MA), que foi uma das poucas do PP a seguir a orientação do governo.
Além dos ministros do centrão, outros seis deputados federais estão na Esplanada, mas todos são de partidos da esquerda: Gleisi, Alexandre Padilha, Paulo Teixeira, Luiz Marinho (todos do PT), Marina Silva (da Rede) e Sônia Guajajara (do PSOL). Os suplentes de todos votaram conforme orientação do governo.
O PSD de Minas Gerais, ligado ao ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, teve quatro votos a favor da urgência e apenas um contrário. O ministro, porém, foi indicado pela bancada do partido no Senado, por influência do senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG), ex-presidente da Casa Alta.
Liderado pelo ministro das Cidades, Jader Filho, e pelo seu irmão, o governador Helder Barbalho, o MDB do Pará, que possui nove deputados federais, entregou quatro votos contrários à urgência e teve três deputados ausentes, o que interessava ao governo. Dois parlamentares emedebistas paraenses votaram a favor da urgência.
Os dois parlamentares do MDB de Alagoas, ligados ao ministro Renan Filho (Transportes), votaram contra a urgência, incluindo o líder da bancada, Isnaldo Bulhões Júnior, que levou uma advertência do partido no estado devido ao voto favorável à PEC da Blindagem na terça-feira (16).