SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O Brasil negocia a aquisição de modelos mais antigos de seu novo caça, o sueco Saab Gripen, como forma de evitar um apagão em parte do sistema de defesa do país.

A falta de verbas e altos custos já atrasaram em oito anos a entrega do último avião, e os aditivos do contrato já custaram o equivalente a seis aparelhos a mais, segundo a FAB (Força Aérea Brasileira).

Nesta semana, o comandante da Força, brigadeiro Marcelo Damasceno, esteve em Estocolmo para discutir com o ministro da Defesa sueco, Pal Jonson, os termos atuais da cooperação militar com o país nórdico.

Foi assinada uma declaração conjunta sucinta, na qual a principal informação foi a confirmação da aquisição já anunciada de quatro aviões de transporte Embraer KC-390 pela Suécia. Menos destacada estava a negociação, revelada pela Folha de S.Paulo em 2023, para a aquisição de mais Gripen para o Brasil.

Até aí, o negócio casado era conhecido, mas o que não está escrito é que está à mesa a opção para que o Brasil não só amplie sua frota do modelo mais recente do Gripen, o E/F, mas também compre unidades usadas da geração anterior do caça, a C/D.

Não há nenhuma decisão tomada. A FAB e o governo sueco resumiram seus comentários ao documento publicado. Já a fabricante sueca Saab não se manifestou.

Segundo pessoas com conhecimento do assunto, a FAB inclusive não abandonou a análise de uma proposta para comprar um lote usado de caças americanos F-16, o que representaria um revés enorme de imagem para os suecos.

Essa negociação surgiu no começo do ano passado, e foi vista no mercado como uma forma de impulsionar a compra casada de novos Gripen e a venda do KC-390 para a Suécia. Deu certo.

O problema é que o Brasil quer ampliar de 36 para até 50 aviões a frota do novo caça, modelo E/F, cuja primeira unidade feita no interior de São Paulo deve ser apresentada nesta semestre. Para tanto, é preciso fazer um aditivo máximo de 25% no contrato original de 2014, algo na casa dos R$ 5 bilhões.

Isso é visto como inviável na totalidade, então uma solução mista, com talvez 6 Gripen novos e 12 usados pudesse ser adotada. O problema, que se aplica a uma eventual aquisição de prateleira de F-16, é novamente a falta de dinheiro para a compra direta.

O arranjo em si não seria algo inédito: de 2006 a 2013, 12 Mirage-2000 comprados da França seguraram as pontas da defesa aérea do Brasil central, até caducarem.

O principal temor da FAB é com a frota do AMX, que é um avião ítalo-brasileiro de ataque a solo, baseado em Santa Maria (RS). Os 30 aparelhos do tipo, sem considerar quantos estão operacionais, vão ser aposentados em breve.

Tudo, contudo, passa por dinheiro. Na semana passada, o chefe do Estado-Maior da FAB, brigadeiro Walcyr Josué de Castilho Araújo, forneceu um quadro sombrio a senadores da Comissão de Relações Exteriores e Defesa.

Ele disse que os atrasos orçamentários ao longo dos anos, como é sabido, atrasaram o programa do Gripen. Pela programação de 2014, o último caça deveria estar entregue em 2024. Até aqui, dez aviões estão no Brasil, e o primeiro feito no Brasil pode voar neste ano.

Já no cronograma atual, irrealista, uma enxurrada de aviões chegaria ao país até 2027 e o contrato estaria cumprido. O novo aditivo negociado neste ano já empurrou a entrega para 2032, oito anos depois da previsão inicial.

O gasto com esses aditivos, 12 até aqui segundo o brigadeiro, encareceram ao longo dos anos o programa em 13,43%, valor que equivaleria a seis aviões adicionais segundo os termos acertados em 2014.

Há também o custo do desenvolvimento, com transferência tecnológica ao Brasil. A terceira geração do caça, o Gripen E/F é essencialmente uma aeronave nova. A FAB não inclui essa queixa em público, mas ela é amplamente compartilhada por oficiais.

Além disso, e esse é um óbice para a eventual compra dos modelos usados, a mais recente membro da aliança Otan Suécia está na linha de frente da renovada reação da Europa contra a Rússia, na esteira da Guerra da Ucrânia.

Com 96 Gripen C/D e uma encomenda de 60 E/F, o país desistiu de dar caças velhos para Kiev por temer por sua segurança. Usualmente, menos de 70 dos 96 Gripen da Suécia estão operacionais, então perder 12 unidades tem um impacto significativo nas capacidades de Estocolmo.