(FOLHAPRESS) – Juros caem nos Estados Unidos, mas Jerome Powell continua tentando controlar barracos dentro e fora do Federal Reserve; BC mantém a Selic nas alturas, os esforços de Jensen Huang na China são bomba na água e o que importa do mercado nesta quinta-feira (18).
**POWELL CEDEU?
A pergunta que não quer calar: Jerome Powell cedeu às ameaças de Donald Trump? Se sim, foi bem pouquinho.
O Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA) decidiu ontem diminuir a taxa de juros do país para entre 4% e 4,25% ao ano, no primeiro corte da taxa básica americana em 2025 -de apenas 0,25 ponto percentual.
Os juros permaneciam entre 4,25% e 4,50% desde 18 de dezembro de 2024, quando o Fed também aprovou um corte de 0,25 ponto percentual. Foram cinco reuniões neste ano em que os diretores optaram pela manutenção da taxa.
O RACHA
A decisão teve uma única dissidência. Stephen Miran, diretor indicado por Trump e cuja nomeação foi aprovada pelo Senado nesta semana, votou por uma redução de 0,50 ponto percentual.
As informações adicionais da reunião mostram um Federal Reserve dividido.
No gráfico de pontos do Fed, que reúne as projeções dos membros do comitê, a maioria das autoridades do banco central americano prevê cortes de 0,25 ponto percentual nas reuniões de outubro e dezembro.
Ainda assim, 7 dos 19 diretores indicaram um ritmo menor de cortes, o que sinaliza que o Federal Reserve continuará tendo dissidências internas.
PRESSÃO ALTA
A decisão de juros é a primeira desde que Donald Trump elevou o nível da intimidação contra o banco central ao pedir a demissão de uma das diretoras da autarquia, Lisa Cook, acusando-a de fraude hipotecária.
O republicano já disse cogitar nomear a si mesmo para dirigir o órgão, que a taxa poderia estar dois ou três pontos percentuais abaixo e que Jerome Powell, presidente do Fed, é “burro” e “idiota” por manter os juros nesse nível.
O QUE O CHEFE DISSE
No curto prazo, os riscos para a inflação estão inclinados para cima e os riscos para o emprego para o lado negativo, uma situação desafiadora para os formuladores de política monetária, declarou Powell.
Em linhas gerais, isso significa que dois dos principais vetores analisados para determinar o aquecimento da atividade econômica estão crescendo para lados opostos -o cenário contribui para que os diretores do Fed continuem discordando entre si, já que não há um caminho claro de ação.
**SEM NOVIDADES**
A taxa básica de juros do Brasil continua desafiando a gravidade, voando alto no patamar de 15% ao ano.
Ontem, o Copom (Comitê de Política Monetária), do Banco Central, manteve a taxa Selic intacta. No comunicado em que anuncia a decisão, a autarquia deixou avisado: manterá os juros assim por um tempo bastante prolongado.
Vamos a alguns pontos que chamaram a atenção na mensagem do Copom.
SEM RISADINHA
Economistas apontaram o tom mais duro do comunicado em relação ao divulgado na reunião de julho. O comitê apontou que a inflação continua longe de convergir com a meta, o que elimina o espaço para cortes na Selic.
A autarquia escreve: o conjunto dos indicadores de atividade econômica tem apresentado, conforme esperado, certa moderação no crescimento, mas o mercado de trabalho ainda mostra dinamismo.
O economista-chefe da G5 Partners, Luis Otávio Leal, destaca que o banco não vê no recuo de indicadores um motivo para baixar a guarda.
O conforme o esperado freia o otimismo com os resultados que mostram a perda de fôlego da atividade econômica no Brasil. Da mesma forma, ao falar do mercado de trabalho, o BC indica que ainda tem trabalho a fazer, disse o especialista.
CENÁRIO EXTERNO INCERTO
Como já falamos, o Fed reduziu a taxa básica de juros nos EUA. Ainda que a mudança possa servir de incentivo para cortes aqui, o comitê ainda lê a situação macroeconômica como instável.
Não é para menos. Ou o leitor já esqueceu que o Brasil está sob o efeito de uma sobretaxa de 50% para a maioria de suas exportações para os americanos? A tarifa entrou em vigor há pouco mais de um mês -o que significa que ainda não dá para avaliar o efeito que ela exerce na economia brasileira.
Além disso, há a expectativa de que mais sanções contra o país sejam anunciadas pelo governo Donald Trump, que se mostrou descontente com a condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro pela trama golpista no STF (Supremo Tribunal Federal).
Olhando para isso, o BC parece tomar uma posição cautelosa: não tomar decisões importantes antes que o clima internacional se acalme.
**NADOU, NADOU E MORREU NA PRAIA**
Na edição de ontem desta newsletter, falamos sobre o cerco que o governo chinês armou ao redor das empresas de tecnologia do país por muitos anos.
A pressão parecia estar arrefecendo, mas Pequim voltou a arrochar a indústria para se desenvolver sem a ajuda de ninguém.
EUA NA MIRA
O órgão regulador da internet na China proibiu as maiores companhias de tecnologia do país de comprar chips de inteligência artificial da Nvidia.
O objetivo da atitude é claro: não fortalecer empresas americanas e pressionar os players locais a desenvolverem soluções próprias para a ausência do produto do país rival.
Dá para dizer que a China é boa nisso: DeepSeek, Alibaba e BYD são alguns exemplos que floresceram para suprir o mercado doméstico de serviços que, majoritariamente, vinham do exterior.
MALHA FINA
A divisão governamental disse a empresas como ByteDance e Alibaba que interrompessem os testes e pedidos do semicondutor de inteligência artificial RTX Pro 6000D, segundo relataram fontes ao jornal britânico Financial Times.
O RTX Pro 600D é um dos produtos desenvolvidos pela Nvidia pensando no mercado chinês, assim como o chip H20. Eles tentam atender tanto às necessidades do setor tecnológico do país quanto às restrições de exportação impostas pelos Estados Unidos à China.
Várias companhias indicaram que fariam pedidos de dezenas de milhares do processador e começaram os testes e verificações com servidores da big tech.
ACABOU COM A FESTA
Reguladores chineses convocaram fabricantes de semicondutores locais como Huawei e Cambricon, além de Alibaba e Baidu, para dizer como seus produtos se comparam aos chips da Nvidia voltados para os chineses, segundo uma das fontes.
O órgão disse que a proibição foi decidida depois das autoridades concluírem que chips nacionais atingiram desempenho comparável aos modelos da Nvidia usados no país.
A nação pretende triplicar a produção própria de processadores de IA em 2026.
“O consenso no alto escalão agora é que haverá fornecimento doméstico suficiente para atender à demanda sem precisar comprar chips da Nvidia”, disse um especialista do setor.
A CEREJA DO BOLO
As próprias compradoras dos semicondutores criados pela empresa americana para a China não chegaram a um consenso sobre o chip. Algumas fizeram grandes encomendas, como já contamos; outras consideram que a companhia gerou mais expectativa do que resultados.
Algumas big techs do país asiático não viram custo-benefício no RTX Pro 600D, segundo reportagem apurada pela Reuters. Além disso, algumas se ofenderam com a ideia de estarem comprando um produto possivelmente menos eficaz do que os vendidos nos EUA.
MORREU NA PRAIA
Jensen Huang, CEO da Nvidia, está em uma cruzada para vender seus produtos na China. Afinal, o país é um dos únicos com um mercado extenso para absorver a oferta de chips com tecnologia de ponta.
Sem vender na China, a Nvidia fica sem possibilidades de crescer o tanto quanto gostaria nos próximos anos.
O executivo negociou muito com o presidente americano para que ele liberasse a exportação de semicondutores de IA para compradores chineses e só conseguiu depois de fabricar modelos que atendessem às restrições dos EUA.
Conseguiu o sonhado ok de Trump, desenvolveu produtos especialmente para o mercado chinês, lançou os itens em eventos em Pequim e viu os itens que comercializa serem barrados pelo governo chinês.
É provável que tenhamos contribuído mais para o mercado chinês do que para muitos outros países. Estou decepcionado com o que vejo, disse Huang sobre a proibição.
**O QUE MAIS VOCÊ PRECISA SABER**
OLHOS DA CARA
A Meta anunciou óculos inteligentes com tela integrada ao WhatsApp e Instagram. O lançamento é uma parceria com a marca Ray-Ban.
TÁ CARO
O senado aprovou uma medida provisória que estabelece a tarifa social de energia. O texto vai à sanção de Lula.
QUENTINHO
O Cade aprovou compra da marca de pães Wickbold pela Bimbo, mas impôs que a companhia venda os rótulos Nutrella e Tá Pronto.
INEFICIENTES?
25% dos municípios não geram receita suficiente para custear prefeitura e vereadores. Entenda melhor essa história.