BELÉM, PA (FOLHAPRESS) – Mariah Carey brilhou e reluziu em cima de um palco flutuante -uma plataforma em formato de vitória-régia- em cima do rio Guamá, em Belém. A cantora americana gravou um programa de TV promovido pelos festivais Rock in Rio e The Town na noite desta quarta.
Ela apresentou 11 músicas acompanhada de sua banda, entre luzes que mudavam de cor e tendo a Amazônia como moldura. No palco, ela soltou o vozeirão em meio à iluminação que coloriu tanto sua plataforma flutuante quanto as árvores ao seu redor, as águas escuras e a breu da noite na capital paraense.
O show foi transmitido pelo Multishow e exibido na programação da TV aberta, na Globo. Aconteceu minutos depois de uma apresentação com quatro divas paraenses -Dona Onete, Joelma, Gaby Amarantos e Zaynara.
Como disse mais cedo Roberta Medina, empresária e cabeça por trás dos festivais que promoveram o especial de TV, o evento aconteceu para jogar holofotes sobre a preservação da Amazônia. Segundo ela, foi uma tentativa da organização dos festivais de trazer importância global a essa pauta às vésperas da COP30, a Conferência da Organização das Nações Unidas sobre mudanças climáticas, que acontecerá em Belém.
O evento recebeu por volta de 300 convidados –incluindo atores da Globo, celebridades e influenciadores– sentados em cadeiras dispostas numa balsa. Havia uma espécie de antessala em que as pessoas eram servidas com quitutes assinados pela Casa do Saulo, um dos mais conceituados restaurantes de Belém, e chopes. No barco a caminho da balsa, receberam repelentes e leques -o segundo acabou sendo mais necessário que o primeiro.
Mariah surgiu cantando “My All” e “Sugar Sweet” para o delírio de um grupo de fãs barulhentos, que aparentavam estar vivendo os melhores momentos de suas vidas na primeira fila de cadeiras da balsa. Ela não demorou a dar o papo sobre o conceito do show -a floresta de pé.
Disse que a apresentação servia para “trazer consciência à preservação da floresta”, então “vamos fazer algo com sabor tropical”, puxando um medley de “Honey” e “Heartbreaker”. Mostrou que seu vocal segue arrebatador, com “Emotions”, canção dos anos 1990 que ainda hoje soa poderosa na sua interpretação.
A americana não se alongou nas interações com os convidados na balsa nem fez grandes discursos em defesa da floresta. Também se mexeu bem pouco, como foi no The Town, nesta semana, e no Rock in Rio, no ano passado. É como se economizasse a energia para a voz, que soou límpida, precisa e muito afinada.
Foi curioso ver Mariah cantando seu repertório de músicas repletas de jogo de sedução e sensualidade para defender uma causa tão cara a uma região do Brasil. Foi assim na nova “Type Dangerous” e no hit dos anos 2000 “Touch My Body” -esta, uma canção sobre sexo em meio à apreensão de ser gravada e ter o vídeo vazado no YouTube.
O final teve uma carga emotiva maior, com “Don’t Forget About Us”, We Belong Together” e o hit “My Hero”, sendo que essa última é uma das tantas canções românticas de Mariah que ganhou versão brasileira ao longo dos anos. Ela distribuiu “eu te amo”, em português mesmo, à plateia na balsa, a quem dedicou a canção derradeira.
É difícil saber se o show –transmitido para o mundo todo no Globoplay– vai ter o efeito propalado por Roberta Medina, de criar uma imagem que propague a consciência sobre a preservação da Amazônia ao redor do planeta. De qualquer forma, pelo menos para quem estava no rio Guamá nesta quarta, e pelo menos por motivos estéticos, foi um cenário impactante.
Dona Onete foi a mais celebrada no show que reuniu quatro gerações de divas paraenses –Joelma, Gaby Amarantos e Zaynara, além da veterana– antes da apresentação de Mariah Carey. O show foi atrapalhado pela chuva, mas contou com uma plateia bastante animada na balsa. As pessoas ficaram de pé e chegaram a afastar as cadeiras dos espaços para pular e dançar.
Começou por volta de 16h30, com as quatro cantando clássicos do carimbó. Em seguida, Joelma assumiu o palco para uma sequência de sucessos do Calypso nos anos 2000 –entre eles “Temporal”, “Passe de Mágica” e “Tchau pra Você”. Ela distribuiu os agudos que são sua marca registrada e entregou uma performance teatral em “Esqueça Meu Coração”, música de traição que é a cara do brega paraense.
A chuva começou a cair em “Voando pro Pará”, maior hit mais recente de Joelma, que soou ainda mais adequada sendo tocada em Belém. Foi a última do repertório da ex-vocalista da banda Calypso, que deu lugar a uma elétrica Gaby Amarantos.
A cantora aproveitou a plateia já acesa para emendar “Ex Mai Love”, o sucesso do tecnobrega “Me Libera” e “Foguinho”, de seu novo álbum, “Rock Doido”. A essa altura, a chuva caía forte, e Amarantos gritou que, em Belém, “chuva é bênção”.
Enquanto o público botava as capas de chuva, e a água caía mais forte, Amarantos teve de parar a apresentação. O show ficou alguns minutos paralisado, até a chuva cessar, e foi retomado em seguida.
Amarantos cantou novamente algumas músicas que havia apresentado debaixo de chuva -desta vez, com os convidados na balsa mais tranquilos. Ela emendou “Mulher da Amazônia”, com participação de Zaynara, e a mais jovem das paraenses assumiu o palco em seguida.
A apresentação da caçula da turma contou com “Aquele Alguém”, incrementada por Joelma -das outras três presentes no palco flutuante, é da ex-Calypso que ela pega maior inspiração estética. Zaynara emendou “Sou do Norte”, outra canção que exalta o orgulho local, “Sou da Bôta” e seu maior hit da curta carreira, “Quem Manda em Mim”.
Mas quem roubou mesmo a cena foi Dona Onete. Aos 86 anos, a ícone do carimbó e da música paraense fez a performance mais pesada e vigorosa entre as quatro divas -mesmo em cima de uma cadeira de rodas.
Ela cantou três músicas relacionadas à cultura local, incluindo “No Meio do Pitiú” e o encerramento com “Banzeiro”, com a plateia na balsa pulando e abrindo rodas no meio das cadeiras. Mas talvez o momento mais representativo tenha sido “Jamburana”, com Onete cantando sobre a tremedeira do jambu e as outras três parceiras de palco batendo o cabelo simultaneamente em reverência à veterana.