SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Enquanto o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) se dedicou às articulações em Brasília pela anistia a Jair Bolsonaro (PL), dois de seus principais aliados em São Paulo travaram na última semana uma disputa por espaço na máquina pública paulista, com reflexos eleitorais.

Gilberto Kassab, presidente do PSD e secretário de Governo, demitiu de sua pasta na semana passada um aliado do presidente da Alesp (Assembleia Legislativa de São Paulo), André do Prado (PL), apesar de um pedido feito diretamente por André ao governador para que a medida não fosse tomada.

O demitido é Rogério Rossini de Lima, 44, conhecido no Vale do Ribeira como Rogério Pio. Ele era diretor regional da Subsecretaria de Convênios com os Municípios e Entidades Não Governamentais da pasta de Kassab e estava no governo desde 2019.

Sua função era articular a liberação de emendas parlamentares a prefeituras e convênios da região. Ao saber que Kassab havia mantido a decisão, André o nomeou assistente parlamentar em sua equipe -a nomeação foi publicada nesta segunda-feira (15).

Rogério Pio disse que foi pego pela demissão de surpresa. “Não foi só o André que pediu para que eu ficasse” disse o assessor à Folha de S.Paulo. Entre os que intercederam, está também Renato Bolsonaro, irmão do ex-presidente. “Mas o Kassab decidiu demitir mesmo assim.”

A decisão gerou reação negativa entre prefeitos da região e membros da base de Tarcísio na Alesp. O episódio ocorre em um momento de fragilidade de Kassab com aliados bolsonaristas do governador.

Enquanto Tarcísio esteve em Brasília defendendo a anistia aos condenados pela tentativa de golpe -após um discurso inflamado contra Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), que lhe atraiu críticas –, o PSD liberou seus deputados na Câmara para votar como preferissem.

Segundo relatos de uma série de aliados, Kassab tem interesse em disputar o governo de São Paulo. Seu plano seria garantir indicado a vice caso Tarcísio buscasse a reeleição.

Com a candidatura presidencial do governador ganhando força entre dirigentes de outras legendas, diante da possibilidade de que Bolsonaro, condenado, o apoie como substituto, Kassab tem sido pressionado a rever o plano.

André, por sua vez, é visto por deputados estaduais e até por auxiliares de Tarcísio no Palácio dos Bandeirantes como um dos nomes mais bem colocados para disputar o governo em 2026. Além de já estar no PL, partido de Bolsonaro, e ter Valdemar Costa Neto como padrinho político, mantém boa relação com prefeitos e dirigentes da centro-direita.

O presidente da Alesp confirmou à Folha ter solicitado ao governador que seu aliado permanecesse no cargo, mas negou atrito direto com Kassab.

“O Pio não era indicação minha, mas sempre ajudou. É um excelente profissional, com muito conhecimento técnico, tanto que o admiti no meu gabinete assim que soube da exoneração”, disse.

Kassab, por sua vez, não comentou o conflito. “Trata-se de uma mudança de rotina. Diante de readequação administrativa realizada nas secretarias, foram feitos alguns ajustes nas equipes da Secretaria de Governo e Relações Institucionais”, afirmou, por meio de sua assessoria.

Apesar das especulações sobre sua candidatura à Presidência, Tarcísio negou nesta quarta-feira (17), em Araçatuba (interior paulista), que pretende concorrer ao Planalto. “Eu pretendo concorrer à reeleição”, disse.

A reportagem procurou o governador para tratar do atrito entre seus aliados, mas ele não respondeu.