SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A Venezuela iniciou nesta quarta-feira (17) uma série de exercícios militares na ilha La Orchila, no norte do país, em reação ao envio de navios de guerra dos Estados Unidos à região do Caribe. O anúncio foi feito pelo ministro da Defesa, Vladimir Padrino López, que classificou a medida de resposta à “voz ameaçadora e vulgar” de Washington.

Segundo López, as manobras incluem o deslocamento de sistemas de defesa aérea com drones armados, drones de vigilância e submarinos não tripulados, além da implementação de ações de guerra eletrônica.

A televisão estatal transmitiu imagens de embarcações anfíbias, equipamentos de artilharia de fabricação russa e navios de guerra em La Orchila, onde está localizada uma base estratégica da Marinha do país. O vice-almirante Irwin Raúl Pucci informou que as manobras terão duração de três dias e contam com a participação de 12 navios militares, 22 aeronaves e 20 integrantes da chamada “Milícia Especial Naval”.

O anúncio ocorreu um dia depois de Donald Trump ter anunciado a destruição de três barcos supostamente venezuelanos carregados com drogas nas águas do Caribe.

La Orchila, uma ilha de 43 quilômetros quadrados, ainda foi cenário da interceptação de uma embarcação de pesca venezuelana por forças americanas. Para Padrino López, os exercícios representam um esforço para “elevar a prontidão operacional” da Venezuela diante da escalada de tensões no Caribe.

Um primeiro ataque dos EUA contra uma lancha supostamente de narcotraficantes causou, segundo Trump, 11 mortes em 2 de setembro no mar do Caribe, onde os EUA mantêm forças militares.

Na segunda-feira (15), Trump anunciou em sua plataforma Truth Social outro ataque “na área de responsabilidade do Southcom”, o comando militar dos EUA para a América do Sul e o Caribe.

Essa ação matou três “narcoterroristas venezuelanos”, afirmou o presidente, em uma mensagem acompanhada de um vídeo que mostra uma lancha imóvel, com pessoas a bordo, explodindo em alto-mar.

As ações geraram debate dentro e fora dos EUA. Trump justificou a operação com o argumento de que o narcotráfico representa uma ameaça à saúde pública e à segurança nacional. O secretário de Estado, Marco Rubio, reforçou a posição ao afirmar que a Casa Branca pretende “declarar guerra” a grupos criminosos, não apenas perseguindo pequenas embarcações rápidas, mas ampliando a ofensiva.

Os ataques, no entanto, foram criticados por especialistas em direitos humanos. Três integrantes do Conselho de Direitos Humanos da ONU, em Genebra, divulgaram comunicado lembrando que “o direito internacional não permite que governos simplesmente assassinem supostos traficantes de drogas” e que tais crimes devem ser investigados e julgados dentro do Estado de Direito, com cooperação internacional.

Os EUA acusam Maduro de liderar uma rede de tráfico de drogas, o Cartel de los Soles, cuja existência é negada por especialistas. Washington oferece uma recompensa de US$ 50 milhões (R$ 273 milhões) pela captura do venezuelano.