BOGOTÁ, COLÔMBIA (FOLHAPRESS) – Entre festivais internacionais no país, caso do Tomorrowland, e artistas que tocam em grandes eventos afora, como Mochakk -recém-anunciado para o Coachella 2026-, a música eletrônica brasileira tem ganhado espaço no mundo.
Prova disso é também o Bogotá Music Market, evento que ocorreu na última semana na capital colombiana e teve o Brasil como maior delegação de artistas internacionais da música eletrônica.
O festival ocorre há 14 anos e essa foi a primeira vez que ele teve parte da programação dedicada a DJs. Ao todo, o BOmm 2025 contou com quatro nomes brasileiros de diferentes correntes da música eletrônica. Trepanado levou o house animado da festa Selvagem; Zopelar levou o techno desconstruído da festa ODD; Badsista se apresentou no histórico clube Videoclube; e a paranaense Djeizza estreou em solo internacional.
“Acredito que o eletrônico brasileiro tem se destacado porque não tem no Brasil uma pessoa que não tenha uma conexão com música, e existem referências diversas que vão da MPB ao funk, que hoje é uma base muito forte da música eletrônica”, diz a artista, que foi selecionada para integrar o line-up do festival após fazer parte do projeto Sônicas, série de oficinas de capacitação para DJs e produtoras realizada em São Paulo e Salvador.
Nascida no Paraná, a artista levou um set variado com faixas que exploram o funk na estrutura de música de pista e outras sonoridades eletrônicas latino-americanas. “Vejo que o mundo tem um foco muito grande na América Latina quando se pensa em música eletrônica, com amigos e pessoas que conheço, como Caio Prince, Alírio, e o próprio Badsista, tocando em outros países.”
A música eletrônica é, hoje, um grande filão da indústria do entretenimento na América Latina -e o Brasil tem importante parcela nisso. Segundo relatório publicado pela organização International Music Summit em parceria com a empresa Midia Research, Brasil e México têm cerca de 30 milhões de ouvintes mensais desse megagênero. Os países estão entre os sete maiores mercados do mundo no quesito.
Enquanto nomes comerciais como Alok dominam as paradas, coletivos e artistas alternativos giram cenas diversas pelo país e pela região. Essas organizações, a maioria de pequeno e médio porte, por vezes enfrentam dificuldades em níveis locais quanto a gestão de recursos e uso do som em espaços públicos. O processo não impede, porém, que cresça o contato entre Brasil e América Latina -o que estimula marcas de maior peso.
“Apesar da barreira da língua e da distância, temos uma energia em comum que aproxima artistas, coletivos e festivais”, diz Fernando Nascii, DJ e organizador da festa paulista Gop Tun, que esteve no evento. “É muito proveitoso descobrir talentos locais e trocar ideias com organizadores da região, o que fortalece a música eletrônica independente e cria novas pontes culturais entre Brasil, Colômbia e outros países latino-americanos.”
Para Violeta Parra de Moya, diretora do BOmm e membro da Câmara de Comércio de Bogotá, a abertura para a música eletrônica brasileira é uma via de mão dupla. “Somos um mercado mediano em relação ao brasileiro, então é importante seguir investindo nessas relações comerciais”, diz ela.
O evento também teve outros brasileiros no palco -Priscila Santana, curadora do festival americano Summerstage, e a cantora e baterista Thaissa, que se apresentou no Teatro Colón, tradicional casa de espetáculos da capital colombiana. “O Brasil tem um mercado musical interno muito forte, mas pode abrir um pouco mais a porta e apostar também na música colombiana porque os sons dos países são familiares”, diz Moya.