RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – Casos de mortes por tiro e espancamento, agressões em bares e confusões até em dia de jogo entre clubes pequenos acendeu alerta em autoridades policiais para a escalada de violência entre torcidas organizadas do Rio de Janeiro.
Duas mortes aconteceram em espaço de três dias, e uma organizada do Flamengo foi proibida de entrar nos estádios por atos ocorridos no dia em que comemorava a volta de uma punição.
A Polícia Militar afirma que vai aplicar esquema de policiamento especial para o clássico entre Flamengo e Vasco, no próximo domingo (21), no Maracanã.
São Cristóvão e Bonsucesso jogaram na tarde do último domingo (14), no estádio de São Cristóvão, pela terceira divisão do Campeonato Carioca. Na mesma tarde, a 16 km do local da partida, Matheus Casemiro dos Santos foi morto após ter sido agredido com socos, pontapés e pauladas. Ele era membro da Torcida Jovem do Olaria.
O Olaria não estava envolvido na partida, mas a pequena torcida organizada do clube é aliada do Bonsucesso. Torcidas de Olaria e Bonsucesso, por sua vez, são rivais da organizada do São Cristóvão. Daí a briga, ocorrida nos arredores do estádio Nilton Santos, onde nem sequer havia jogo.
A morte é investigada pela DHC (Delegacia de Homicídios da Capital).
O São Cristóvão disse que não possui vínculo com organizadas e que “não compactua, tampouco tolera, qualquer ato de violência entre torcidas”. O Bonsucesso e o Olaria também publicaram notas de repúdio.
Dois dias antes da morte de Matheus Casemiro, um torcedor do Vasco, Rodrigo José Santana, morreu baleado na cabeça durante uma briga entre organizadas que terminou com tiros. Outro homem ficou ferido. A briga ocorreu em Oswaldo Cruz, a 7 km do estádio Nilton Santos, onde ocorreu o clássico entre Botafogo e Vasco.
Organizadas do Vasco e Botafogo possuem relação amistosa, e a Força Jovem do Vasco, principal torcida do clube, atribui o ataque a uma organizada do Flamengo. É a mesma linha investigada pela polícia.
“Ressaltamos que nem sequer havia jogo deles no dia, e mesmo assim surgiram armados, prontos para matar, de forma criminosa e premeditada”, afirmou a Força Jovem do Vasco nas redes sociais.
A Torcida Jovem do Flamengo, uma das mais antigas do clube rubro-negro, foi proibida de frequentar eventos esportivos pelos próximos dois anos, em decisão desta terça-feira (16) do Juizado Especial do Torcedor e dos Grandes Eventos, do Tribunal de Justiça fluminense.
Em nota publicada nas redes sociais, a Jovem disse reconhecer “a importância de que eventos esportivos sejam seguros”, mas afirmou que “a suspensão penaliza um coletivo de milhares de torcedores que atuam de forma responsável”. Afirmou também que vai recorrer.
O afastamento foi um pedido da Promotoria do Rio de Janeiro, que entendeu ter havido uma série de crimes cometidos no dia 31 de agosto, data que marcou a volta da Jovem aos estádios.
A Jovem acumula suspensões desde 2015 -a última fora em 2021. Um TAC (Termo de Ajustamento de Conduta) assinado neste ano entre a diretoria da organizada e o Ministério Público liberava a volta, mediante regras.
Na tarde do retorno ao Maracanã, segundo relatórios da Polícia Militar, membros com o uniforme da torcida pularam as roletas de estações de trem e caminharam pela linha férrea. Em Niterói e Cidade de Deus, supostos membros da Jovem viajaram no teto dos ônibus, no chamado “surfe rodoviário”.
Vídeos anexados a um processo no Tribunal de Justiça mostram os relatos da polícia.
À noite, membros com a camisa da Jovem do Flamengo agrediram torcedores do Vasco que viam televisão em um bar de Copacabana. Um dos autores da agressão arremessou cadeiras e mesas em um homem.
“A violência não mais está restrita aos estádios, tendo se alastrado para bairros distantes dos locais das partidas, como Copacabana, onde ocorreu a agressão aos torcedores no interior de um bar”, escreveu a juíza Renata Guarino Martins, na decisão que deixa de homologar o TAC entre a Jovem do Flamengo e o Ministério Público.
“Resta evidenciado que o contribuinte, pelo pagamento de seus impostos, acaba sendo onerado, na medida em que a Polícia Militar tem sido cada vez mais acionada para conter as condutas, muitas vezes criminosas, praticadas por integrantes das torcidas organizadas, que se vê forçada a deslocar seu efetivo para conter esse tipo de distúrbio nos dias de jogos de futebol.”
Supostas mensagens atribuídas a núcleos de torcidas do Vasco foram disparadas nas redes sociais nesta terça. Os textos falam em represália a quem circular com roupas e acessórios de torcidas do Flamengo em bairros da zona norte e cidades da Baixada. O caso é investigado.