BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Às vésperas de uma Assembleia-Geral da ONU que pode aprofundar seu isolamento diplomático, Israel vê sua antecipada operação de ocupação da Cidade de Gaza ser alvo de nova onda de pressão internacional contra o país.
Nesta terça-feira (16) o Exército israelense anunciou o início da invasão terrestre sobre a cidade, até então alvo de bombardeios e de operações de demolição em áreas ao seu redor. À agência Reuters, uma autoridade israelense diz que a operação pode durar até dois meses.
Tel Aviv estima que 400 mil pessoas, 40% da população que estava na cidade até agosto, já fugiram dali, principalmente pela estrada Salah al-Din, que corta o território de norte a sul. O escritório de imprensa do Hamas fala em 190 mil que se deslocaram ao sul, e 350 mil que se mudaram para porções centrais e a oeste da cidade.
Relatório de comissão de inquérito contratada pela ONU concluiu, também nesta terça, que Israel cometeu genocídio em Gaza; Tel Aviv rejeitou o documento e chamou as acusações de falsas, mas alguns países reagiram condenando as ações israelenses.
Nesta quarta, a Comissão Europeia, o braço Executivo da União Europeia, propôs suspender um acordo comercial que afeta cerca de 5,8 bilhões (R$ 36,4 bilhões) de exportações israelenses devido à guerra. A medida, no entanto, não tem ainda apoio suficiente entre países da UE para ser aprovada.
A chefe de política externa da UE, Kaja Kallas, também propôs um pacote de sanções contra os ministros extremistas Bezalel Smotrich (Finanças) e Itamar Ben-Gvir (Segurança Nacional), e contra colonos israelenses. Kallas também pediu sanções a 10 integrantes do Hamas.
Nesta quarta, Smotrich afirmou que Gaza está se transformando em um “paraíso imobiliário”. O ministro extremista disse ainda que tratativas com os EUA para um plano de negócios para o território palestino já estariam em andamento.
Segundo a agência de notícias AFP, o governo da Espanha cancelou um contrato de quase 700 milhões (cerca de R$ 4,41 bilhões) para a compra de lançadores de foguetes de design israelense.
O primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, anunciou na semana passada medidas para “deter o genocídio em Gaza”, entre elas um embargo de armas a Israel e a proibição de que navios e aeronaves carregando armamentos com destino ao país utilizem portos e espaço aéreo espanhóis.
O governo do Canadá chamou a ofensiva terrestre na Cidade de Gaza de “horrível” e disse que ela piora a crise humanitária no território e compromete o retorno dos reféns. “O governo de Israel precisa aderir à legislação internacional”, disse o Ministério das Relações Exteriores do país.
O plano de controlar o maior centro urbano da Faixa de Gaza fora anunciado no início de agosto, pouco após novos movimentos diplomáticos de países próximos ou aliados para reconhecer um Estado palestino, casos de França, Reino Unido, Austrália, Bélgica, Finlândia e Canadá.
“O reconhecimento não é simbólico. É algo muito importante, porque envia um recado claro aos israelenses sobre a ilusão de querer perpetuar a ocupação para sempre”, afirmou a ministra das Relações Exteriores da Autoridade Nacional Palestina, Varsen Aghabekian Shahin.
Na ocasião, as críticas envolviam principalmente a distribuição de ajuda humanitária no território conflagrado. ONU e outras organizações civis diziam que Israel dificultava esse trabalho enquanto operava paralelamente com a ajuda de uma entidade obscura com sede nos Estados Unidos país que segue como fiador das ações israelenses.
No último dia 12, Israel fechou a passagem de Zikim, no norte de Gaza, e recebeu críticas da ONU e de outras organizações.
“Há sérias preocupações sobre o esgotamento dos estoques de combustível e alimentos em questão de dias, já que não há pontos de entrada direta de ajuda no norte de Gaza e o reabastecimento do sul para o norte está cada vez mais desafiador devido ao crescente congestionamento nas estradas e à insegurança”, disse o escritório humanitário da ONU (Ocha), em um comunicado.
Há, no entanto, algumas notáveis exceções na pressão internacional recente contra Israel, além dos EUA.
“Nós não acreditamos no reconhecimento de um Estado palestino até haver um Estado palestino para reconhecer. Hoje, este Estado não existe”, disse o embaixador da Itália em Israel, Luca Ferrari, por exemplo, posição que já havia sido externada pela primeira-ministra Giorgia Meloni, em julho.
A Alemanha também não deve reconhecer um Estado palestino, embora tenha aumentado suas críticas às ações de Israel. Na semana passada, Berlim afirmou que irá apoiar uma resolução da Assembleia-Geral da ONU em favor da solução de dois Estados no Oriente Médio mas sem reconhecer, por enquanto, um Estado palestino.