SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Brasília, Florianópolis, Curitiba, Vitória e Fortaleza são as capitais com os melhores resultados de saúde pública, segundo levantamento da Umane, que analisou os índices do DataSUS de mortalidade infantil de crianças menores de um ano, mortalidade materna e mortes prematuras (de 30 a 69 anos) por doenças crônicas não transmissíveis. No outro extremo estão Salvador, Recife, João Pessoa, Teresina e Manaus, com os indicadores desfavoráveis.

Evelyn Santos, gerente de investimento e impacto social da Umane (associação civil que auxilia iniciativas voltadas à promoção da saúde), explica que os indicadores analisados refletem a qualidade dos serviços prestados em cada cidade pelo SUS (Sistema Único de Saúde), que completa 35 anos nesta sexta-feira (19).

Segundo ela, a mortalidade infantil e materna apontam vulnerabilidades em momentos críticos, como gestação e primeiros anos de vida, e estão associadas a fatores socioeconômicos e ao acesso a serviços de saúde. Já a mortalidade prematura é um indicador frequentemente negligenciado, mas que evidencia impactos de doenças silenciosas, como hipertensão, diabetes tipo 2 e problemas cardiovasculares, sobre a qualidade de vida e os custos para o sistema de saúde.

As prefeituras de Salvador, Teresina e João Pessoa não se manifestaram até a publicação desta reportagem. A Secretaria de Saúde do Distrito Federal também não comentou os resultados positivos de Brasília, nem o 7º lugar em mortalidade infantil e o 12º lugar na materna, apesar de o DF ter o maior PIB per capita entre as capitais.

Para chegar ao top 5, as 27 capitais foram avaliadas segundo cada indicador. A Umane considerou as 13 primeiras posições de cada ranking —que correspondem à metade superior, com os menores índices em cada categoria. Esse grupo, chamado de top 13, reúne os municípios com os melhores resultados em 2023, última data de atualização disponível no Observatório da Saúde Pública da Umane.

Ao cruzar os três indicadores de mortalidade, é possível identificar um grupo restrito de capitais que se mantém bem posicionado em todos eles: Brasília, Florianópolis, Curitiba, Vitória e Fortaleza, cidades que aparecem simultaneamente no top 13 de mortalidade infantil, materna e prematura, o que mostra consistência nos resultados de saúde pública.

Para melhorar os resultados na redução da mortalidade materna e infantil, a Prefeitura de Vitória ampliou o acompanhamento pré-natal, para garantir sete consultas ao longo da gestação. A medida vai além da recomendação mínima de seis consultas, estabelecida pela OMS (Organização Mundial da Saúde) e pelo Ministério da Saúde, para garantir a saúde da mãe e do bebê.

Segundo a secretária de Saúde do município, Magda Lamborghini, seis das 29 UBSs (Unidades Básicas de Saúde) da cidade passaram a funcionar em horário estendido aos sábados, domingos e feriados. A estratégia fortaleceu a vacinação e ampliou a cobertura de serviços básicos, para recuperar índices vacinais e prevenir óbitos por doenças evitáveis.

Florianópolis, apesar dos bons resultados em mortalidade infantil e materna, cai para a décima posição em mortalidade prematura entre as capitais. O secretário de Saúde Cláudio Goulart aponta que isso ocorre principalmente devido ao perfil demográfico da cidade, que conta com 18% da população acima de 60 anos.

“Isso aumenta os riscos de doenças crônicas e mortes prematuras. Fatores como hipertensão, diabetes, obesidade e problemas de saúde mental também influenciam esses índices. Para enfrentar o desafio, a cidade mantém programas de prevenção e diagnóstico precoce, voltados a doenças crônicas e aos tipos mais comuns de câncer.”

Em Curitiba, a redução da mortalidade materna e infantil é conduzida pelo programa Mãe Curitibana, criado em 1999, que oferece assistência integral à mulher e à criança, desde o pré-natal até o puerpério, com telemonitoramento das gestantes e vinculação a maternidades de referência, afirma a secretária de Saúde de Curitiba, Tatiane Filipak.

Apesar do bom desempenho em mortalidade infantil, Curitiba ainda enfrenta dificuldades na redução da mortalidade materna (5º lugar) e prematura por doenças crônicas não transmissíveis (6º lugar). A secretária aponta como principais desafios a adesão ao acompanhamento integral por parte de gestantes imigrantes e de pacientes que começam o pré-natal na rede privada e migram para o sistema público durante a gestação.

A gerente de investimento e impacto social da Umane destaca que o PIB per capita do município ajuda a qualificar os indicadores ao mostrar que nem sempre as capitais com maior riqueza apresentam os melhores resultados em saúde.

“O exemplo de Fortaleza ilustra isso: apesar de ter um PIB per capita relativamente baixo, a cidade consegue resultados positivos nos três indicadores. Por outro lado, Brasília, com um PIB per capita alto, apresenta mortalidade infantil e materna piores que Florianópolis, que tem metade do PIB per capita, embora sua mortalidade prematura esteja melhor.”

A secretária municipal de saúde de Fortaleza, Riane Azevedo, diz que o município consegue aplicar recursos de forma estratégica em áreas de maior vulnerabilidade. Entre as ações destacadas estão a humanização do parto, o fortalecimento do pré-natal, a criação de centros de atenção a hipertensos e diabéticos, a informatização da rede hospitalar e programas voltados à alimentação e à prevenção na adolescência.

A Prefeitura do Recife afirma que adota uma série de políticas públicas voltadas à redução da mortalidade materno-infantil e por doenças não transmissíveis, como cânceres, diabetes e hipertensão. Entre os programas de destaque estão o Mãe Coruja e o Compaz, “ambos reconhecidos internacionalmente pelo trabalho de prevenção, promoção da saúde e melhoria da qualidade de vida da população”.

O município ressalta que as ações intersetoriais vêm contribuindo para a redução de indicadores como mortalidade materna e infantil, conforme os dados atualizados pela gestão municipal no SIM (Sistema de Mortalidade), que mostram tendência de queda nos últimos anos.

A Prefeitura de Manaus afirma que oferta atendimento pré-natal em todas as USF (Unidades de Saúde da Família), com atenção integral às gestantes de risco habitual e intermediário. Também diz acompanhar gestantes de alto risco em parceria com ambulatórios estaduais e utiliza telessaúde para evitar desfechos desfavoráveis.

O projeto Saúde Pública tem apoio da Umane, associação civil que tem como objetivo auxiliar iniciativas voltadas à promoção da saúde