BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O ex-diretor da Polícia Federal Rodrigo de Melo Teixeira, que atuou na cúpula da corporação no governo Lula (PT), foi preso nesta quarta-feira (17), na operação que mira organização criminosa suspeita de crimes ambientais, corrupção e lavagem de dinheiro em Minas Gerais.

Teixeira era diretor de Polícia Administrativa no início da gestão do diretor-geral da PF Andrei Rodrigues, e deixou o cargo no final do ano passado.

De acordo com as investigações, ele é suspeito de negociar direitos minerários com uma organização criminosa que atuava em Minas Gerais. Um dos interlocutores dele era o lobista Gilberto Henrique Horta de Carvalho, que também foi alvo de mandado de prisão.

A reportagem tenta localizar as defesas de Teixeira e de Carvalho.

Segundo a PF, Teixeira é visto como “peça central” na organização criminosa, participando da gestão de empresas que atuavam na área de mineração, embora não tivesse participação formal nas sociedades.

Em 2018, assumiu a superintendência da PF em Minas Gerais. Ele estava no cargo quando o ex-presidente Jair Bolsonaro levou uma facada durante evento político em Juiz de Fora e comandou a regional mineira durante as investigações do atentado. Ele estava no posto quando houve o desastre de Brumadinho.

Teixeira também foi Secretário Municipal na Secretaria Municipal de Segurança e Prevenção de Belo Horizonte, cidade comandada na época pelo ex-prefeito Alexandre Kalil, então aliado do ministro de Minas e Energia Alexandre Silveira. A chapa do PSD em Minas Gerais em 2022 tinha Kalil como governador.

Teixeira também participou como secretário-adjunto na área ambiental de Defesa Social e foi presidente da Feam na gestão estadual de Fernando Pimentel (PT), de 2015 a 2018.

Há indícios, segundo a PF, de que Teixeira teria ocultado a propriedade de empresas, feito atos de corrupção e de obstrução de Justiça, além de integrar organização criminosa.

“As interceptações telemáticas indicam que ele é administrador de fato da sociedade empresarial Gmais Ambiental Ltda., constituída em mar.2021, quando ocupava o cargo de Secretário Municipal Adjunto na Prefeitura de Belo Horizonte, e dela se vale para perceber frutos da exploração minerária decorrente de outros ilícitos do grupo. Também é administrador de fato da sociedade Brava”, diz a decisão que determinou a prisão.

Teixeira também exerceu influência, segundo as investigações, dentro da Polícia Federal na condução de inquéritos relacionados a mineração.

A Polícia Federal cita um diálogo do começo de 2023, interceptado em quebra de sigilo, no qual o lobista Gilberto Horta Carvalho e o ex-deputado estadual João Alberto Lages conversaram sobre Teixeira estar “mandando e desmandando lá na PF” ao assumir o cargo de diretor. Lages também foi preso nesta quarta.

Eles falam, então, sobre a possibilidade de Teixeira ter um nome para assumir a Superintendência da PF em Minas, de forma a “não complicar a vida da mineração”.

A PF então relata que os dois se encontraram com o delegado em um restaurante em Belo Horizonte e depois trocaram informações sobre exploração mineral na cidade de Ouro Preto, por meio de uma empresa chamada Topazio Imperial. A Gmais entraria no negócio posteriormente para receber parte do lucro da exploração, diz a PF.

A preocupação de Lages e de Carvalho era com possíveis entraves relacionados a assumir danos da barragem localizada na área, que tinha risco de rompimento e era alvo de ação do Ministério Público Federal.

De acordo com as interceptações, os três ainda marcaram outras reuniões para discutir o tema e discutiram interceder junto à Secretaria de Meio Ambiente da gestão Romeu Zema (Novo) a respeito do assunto.

Entre os alvos de prisão desta quarta também está o diretor da ANM (Agência Nacional de Mineração), Caio Mário Trivellato Seabra Filho.

O grupo teria obtido lucro de R$ 1,5 bilhão, além de ter projetos em andamento com potencial econômico superior a R$ 18 bilhões. A Operação Rejeito tem o apoio do Ministério Público Federal e da Receita Federal.

Segundo informações da Polícia Federal, são cumpridos 79 mandados de busca e apreensão, 22 de prisão preventiva e afastamento de servidores públicos, além do bloqueio de R$ 1,5 milhão e suspensão de atividades de pessoas jurídicas envolvidas nos crimes.

O grupo investigado teria corrompido servidores públicos em diversos órgãos estaduais e federais de fiscalização e controle na área ambiental e de mineração. O objetivo seria o de conseguir autorizações e licenças ambientais fraudulentas.

Fazem parte da lista servidores de órgãos como Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), ANM, FEAM (Fundação Estadual do Meio Ambiente de Minas Gerais) e Semad (Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de Minas Gerais).