RIO DE JANEIRO, RJ (UOL/FOLHAPRESS) – Marco Vinício Petreluzzi, quando foi secretário da Segurança Pública de São Paulo, entre 1999 e 2002, encontrou Ruy Ferraz Fontes como delegado divisionário na Delegacia de Roubo a Bancos. As referências foram as melhores possíveis: um policial técnico. O que, segundo o ex-chefe, se confirmaram com o tempo.

Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, era ladrão de bancos antes de ser apontado como principal chefe do PCC (Primeiro Comando da Capital). Fontes investigou e prendeu Marcola. Segundo o ex-secretário, a relação entre os dois sempre foi respeitosa, “de policial contra ladrão, sem esculacho”.

Em entrevista ao UOL, Petreluzzi afirmou que, na história do crime organizado no Brasil, revides ocorrem, em geral, por questões pessoais. “Existia uma certa ‘ética’ entre polícia e bandido. Se via na história que o bandido que reagia era contra quem esculachava o bandido. O Ruy nunca foi disso, ao contrário, sempre foi muito equilibrado. Ele nunca esculachou Marcola, nem ninguém. Ele sempre foi muito técnico”, disse.

“Tudo pode ser, né? A investigação tem que ser a mais ampla possível, mas me custa crer que isso foi uma coisa ordenada em razão de coisas muito antigas, apesar de não poder excluir hipóteses”, disse Marco Vinício Petreluzzi, ex-secretário da SSP.

São duas as primeiras suspeitas da polícia sobre o homicídio de Ruy Ferraz, ocorrido na última segunda-feira (15). A primeira é a de que ele foi executado a mando dos chefes do PCC. A segunda, de uma retaliação por sua atuação como secretário de Administração de Praia Grande. “É uma lástima, porque é uma perda muito importante”, diz Petreluzzi.

Investigações identificaram que o ex-delegado-geral era ameaçado pelo PCC desde o início dos anos 2000. Em 2019, o MP (Ministério Público) afirmou que Marcola havia ordenado, de dentro da cadeia, mais uma vez, a execução do delegado o quanto antes.

Ele foi alvo de ações de criminosos pelo menos cinco vezes. Em 2010, dois homens foram descobertos e presos com um fuzil enquanto estavam de tocaia para executá-lo; em 2012, trocou tiros com dois homens que o abordaram na via Anchieta; em 2020, baleou um criminoso que o abordou no bairro do Ipiranga; em 2022, sofreu uma tentativa de assalto na avenida do Estado; e, em 2023, ele e a mulher tiveram itens roubados quando deixavam um restaurante em Praia Grande.

Petreluzzi relembrou à reportagem uma investigação feita por Ruy Ferraz sobre centrais telefônicas criadas pelo PCC. “A equipe desbaratou uma série de centrais telefônicas que eles usavam. Era chamado de ‘centrais telefônicas do PCC’, de onde os criminosos falavam com todas as cadeias e faziam esses golpes que fazem até nesta quarta-feira (17), ligando de dentro da cadeia”.

O ex-secretário também reforçou que o delegado não atuou apenas contra o PCC. “Na questão de roubo a bancos, ele é, sem dúvida, um policial que merece todos os reconhecimentos. Não era de fazer correria, bagunça. Ele era, sempre foi e será um delegado muito reconhecido do ponto de vista da excelência profissional, disso não tenho dúvida nenhuma.”

“Ruy era o grande delegado da área de crime contra o patrimônio. Você dava o serviço e ele cumpria”, disse Marco Vinício Petreluzzi, ex-secretário da SSP.