SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Pelo menos 142 ativistas foram mortos e quatro desapareceram em todo o mundo no ano passado defendendo suas terras, comunidades ou o meio ambiente. Desde 2012, o número de defensores mortos ou desaparecidos chega a pelo menos 2.253.

Os dados são do relatório anual da ONG internacional Global Witness e foram divulgados nesta quarta-feira (17). Mais uma vez, os povos indígenas foram vítimas de cerca de um terço dos ataques letais, apesar de constituírem cerca de 6% da população global.

A América Latina segue sendo o lugar mais perigoso para defensores ambientais, com 117 assassinatos em 2024 —o que equivale a oito em cada dez mortes ao redor do globo.

A Colômbia liderou o ranking mundial pelo terceiro ano consecutivo, com 48 assassinatos. Em seguida vem a Guatemala, onde 20 defensores foram mortos no último ano, um aumento expressivo em relação às quatro mortes em 2023.

Ao menos 18 defensores foram mortos no México e 12 no Brasil. As Filipinas registraram sete assassinatos, enquanto Honduras e Indonésia tiveram cinco mortes cada.

Quatro defensores desapareceram em 2024 e não foram encontrados: um no Chile, um em Honduras, um no México e um nas Filipinas.

Os números do ano passado representam uma melhora significativa dos índices brasileiros: em 2023, tinham sido registrados 25 assassinatos de defensores ambientais e o país ocupava o segundo lugar no ranking mundial.

Metade dos mortos em 2024 no Brasil eram pequenos agricultores. Quatro indígenas foram assassinados, assim como um defensor afrodescendente.

A organização destaca, porém, que apesar da redução no número de homicídios, ataques não letais continuam generalizados em todo o país, chamando atenção para os números da Comissão Pastoral da Terra, que registrou 481 casos de tentativa de homicídio, 44% dos quais contra povos indígenas e 27% contra quilombolas.

“Com laços mais estreitos com as terras em que vivemos, nossas práticas tradicionais resultam em um mundo mais sustentável. Ao nos conceder direitos à terra, nosso planeta fica melhor”, afirma em comunicado a ativista Selma dos Santos Dealdina Mbaye, coordenadora política na Conaq (Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas).

“Mas precisamos de mais do que direitos à terra. Muitas vezes, somos vítimas de uma violência indizível. Pelo menos 413 defensores da terra e do meio ambiente foram mortos ou desapareceram no Brasil desde 2012 —36 dos quais eram afrodescendentes”, ressalta ela.

Ainda que o relatório não detalhe a motivação das agressões, o documento aponta a constante impunidade como um dos motivadores para os crimes.

O documento também afirma que o setor da mineração é o mais letal, com 29 casos registrados em 2024, seguido de extração de madeira, com oito casos, e agronegócio, com quatro. Obras de infraestrutura, caça ilegal e o setor hidrelétrico também motivaram ataques letais.

Crime organizado, agentes governamentais, milícias, corporações, proprietários de terra e seguranças privados estão entre os atores apontados como perpetradores da violência.

“Defender-se contra a injustiça nunca deveria ser uma sentença de morte”, afirma a autora principal do relatório, Laura Furones, em comunicado. “É fundamental que governos e empresas mudem o rumo para defender os direitos dos defensores e protegê-los em vez de persegui-los. Precisamos desesperadamente de defensores para manter nosso planeta seguro. Se virarmos as costas para eles, renunciamos ao nosso futuro.”