RIO DE JANEIRO, RJ (UOL/FOLHAPRESS) – A corrida com um sorriso largo misturava alegria e certa incredulidade. Pouco antes, Alejandra Renata Lacerda arrumava as coisas para deixar o ginásio, mas foi convencida a esperar o fim da competição. Aguardou e ouviu seu nome como uma das integrantes do pódio. Aos 52 anos, a argentina radicada no Brasil alcançava a terceira colocação em um torneio de crossfit, modalidade que começou a praticar há três anos.

Agora, busca o título no Finals do TCB, maior evento de crossfit do país, que vai ocorrer em Guarujá, entre os dias 25 a 28 de setembro. A curiosidade sobre a modalidade veio após o período de isolamento da pandemia, e o gosto pelas atividades foi aumentando aos poucos.

Eu trabalhava de casa, e ficava muito em casa. Quando tinha uma brecha, buscava correr na rua, de máscara mesmo. Um dia, passei em frente a um box e me interessei, mas era muito caro. Eu tinha vontade, mas estava fora da minha realidade. Um tempo depois, me matriculei em uma grande promoção de três meses. Fiz e amei.

“Entrei cedo na menopausa. Então, sempre tive alguns problemas em relação a cansaço e essas coisas, mas eu falava: ‘poxa, não posso perder o treino nesta quarta-feira (17). Há ali também uma motivação coletiva, o pessoal está te esperando. E se tornou a melhor parte do dia para o meu mental”, completou.

Renata, até então, tinha participado de grandes campeonatos apenas nos torneios em grupo. Na etapa do TCB de Florianópolis —da qual participou após enviar vídeos para a seletiva online— pôde vivenciar a primeira competição individual.

“Quando anunciaram o pódio, eu não acreditei. Realmente, eu não esperava essa conquista neste momento. Eu dava risada e o pessoal brincando: ‘pode chorar’, mas não conseguia expressar todos os sentimentos porque nem sabia como lidar. Eu fui sem muitas pretensões e foi a minha primeira participação no individual. Foi uma sensação inexplicável.

E ela revelou o segredo para afastar o nervosismo: “Recebi a dica de um amigo que era para mascar chiclete. Testei e deu super certo. Adorei. Desde então, faço isso”.

Nascida em Buenos Aires, na Argentina, a gerente de vendas brinca com o sotaque. No Brasil desde meados da adolescência, o português sem arranhões engana quem não conhece sua história. “Isso é engraçado porque falo castelhano, e bem até, mas me adaptei bem ao Brasil”.

Renata é filha de um brasileiro que morou no Uruguai antes de criar raízes na Argentina. Ela conta que a família desembarcou em São Paulo em meio a um período de dificuldades financeiras no país vizinho.

“Meu pai era funileiro e estávamos com bastante dificuldade lá. Parte da nossa família é de São Paulo e falou para virmos que eles conseguiriam ajudar. Viemos com nada. Foi um tempo bem complicado mesmo. Chegamos e, para ajudar, fui buscar emprego. Tinha uns 15 anos e era a mais velha de quatro irmãos, já tinha essa responsabilidade. Entreguei panfleto, ajudei em promoção de supermercado… Aos poucos, fomos nos ajeitando, mobiliando a casa e as coisas foram caminhando”.

O contato com o esporte começou aos 24 anos. Com vontade de aprender a nadar, matriculou-se em uma escolinha. Aquilo mudaria a sua vida, mas não necessariamente por causa das braçadas que aprendeu. “Foi onde eu conheci meu marido. À época, ele era professor de natação e nos conhecemos lá. Depois, ele trocou totalmente de área, mas mantivemos o contato com atividades físicas”.

Renata passou pelas corridas e vôlei antes do crossfit. nesta quarta-feira (17) mãe de uma filha de 22 anos recém-formada em odontologia, também se inspira para, quem sabe, uma nova fase na vida.

“Por causa do trabalho, eu terminei o ensino médio um pouco mais tarde. Até comecei administração, só que a situação financeira era apertada e tive medo de ficar com dívidas. Acabei trancando e nunca terminei, mas ainda quero. Meu sonho é fazer uma faculdade, Minha filha se formou, maior orgulho, e quero fazer a minha também”, avisa.