SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O assassinato de Ruy Ferraz, ex-delegado-geral da Polícia Civil, repete o padrão de outros atentados ocorridos em São Paulo nos últimos anos, afirmam especialistas em segurança pública ouvidos pela reportagem.
O crime ocorreu nesta segunda-feira (15), em Praia Grande, no litoral paulista. Ruy sofreu tiros de fuzil no meio de uma avenida. Depois, os suspeitos abandonaram o veículo utilizado no homicídio.
“É um padrão de organização e confiança observado em outros casos recentes”, diz Leonardo Carvalho, pesquisador Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Ele cita as mortes de Antônio Vinícius Lopes Gritzbach, empresário que tinha delatado integrantes do PCC (Primeiro Comando da Capital) e de Wagner Ferreira da Silva, conhecido como Cabelo Duro, líder da facção que virou desafeto por suposto envolvimento no assassinato de dois membros.
Gritzbach foi morto em dezembro de 2024 ao sair no desembarque do aeroporto de Guarulhos (SP). Cabelo Duro foi morto em 2018, em frente a um hotel no Jardim Anália Franco, zona leste da capital.
Entre as semelhanças com o atentado contra Ruy estão o uso de fuzil e a forma de manusear o armamento, algo classificado como profissional por especialistas. Além disso, a “despreocupação do crime organizado em manter a discrição e até uma vontade de demonstrar poder”, analisa Leonardo Carvalho.
Apesar de considerar ainda ser cedo para qualquer conclusão, Rafael Alcadipani, professor da FGV (Fundação Getulio Vargas) também observa um modus operandi similar nos assassinatos citados pelo colega. Para o especialista, o ataque contra Ruy ilustra, acima de tudo, o descontrole do crime organizado em São Paulo. “Você vê criminosos atuando livremente com armas de grosso calibre. Isso mostra que a segurança pública do estado precisa melhorar muito.”
A investigação sobre o assassinato do ex-delegado apura se a morte foi uma represália ao trabalho que ele vinha fazendo à frente da Secretaria de Administração de Praia Grande, na Baixada Santista cargo que ocupava desde janeiro de 2023.
A força-tarefa criada para investigar a morte do ex-delegado tem como foco o seu atual trabalho, não a atuação dele como delegado o primeiro a investigar o PCC. A fiscalização de atividades na cidade litorânea, principalmente na região da orla, pode ter gerado inimigos, que buscavam tirá-lo do caminho, segundo a polícia.
Iniciada logo após o assassinato, a investigação vê indícios parecidos com os identificados na morte de Gritzbach. No caso do delator, a Polícia Civil concluiu que houve participação de facção e de policiais militares.
“Como se deu o crime, os meios empregos e as táticas e técnicas utilizadas, além da trajetória pregressa da vítima no enfrentamento do crime organizado, indicam que se está diante de uma execução praticada por uma facção”, opina Eduardo Panizato, mestre em direito, ex-secretário de segurança pública de Canoas (RS) e membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
Para ele, o homicídio parece uma estratégia para demonstração de força de algum grupo.