SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Nesta “Superquarta”, com decisões de juros nos Estados Unidos e no Brasil, o Copom (Comitê de Política Monetária) deve manter a Selic (taxa básica de juros) em 15% ao ano, enquanto o Fed (Federal Reserve, o banco central americano) deve anunciar retomada do ciclo de queda dos juros dos EUA, realizando um corte de 0,25 ponto percentual nas taxas americanas.
A previsão é praticamente unânime no mercado financeiro. Todas as 36 instituições ouvidas pela Bloomberg sobre a Selic esperam manutenção da taxa. Nos EUA, segundo a ferramenta FedWatch, do CME Group, os investidores veem uma chance de 96% de um corte de 0,25 ponto nas taxas do Fed. Entre analistas consultados pela Bloomberg, 99 dos 101 entrevistados apostam numa redução dessa magnitude.
Nesta terça (16), o dólar fechou em queda de 0,43%, a R$ 5,298, menor patamar desde junho de 2024, e a Bolsa subiu 0,35% e renovou seu recorde de fechamento, atingindo os 144.061 pontos, com o otimismo do mercado sobre um corte nos juros americanos.
Com uma decisão sem surpresas, investidores ficarão atentos principalmente às novas projeções dos comitês. Nos EUA, há também expectativa sobre a entrevista do presidente da instituição, Jerome Powell, após a divulgação das taxas.
A inflação nos Estados Unidos ainda permanece resiliente, chegando a 2,9% em agosto, no ritmo mais rápido desde o início de 2025. Por outro lado, o crescimento mensal de empregos desacelerou, com empresas freando contratações e uma queda acentuada na oferta de trabalhadores após as restrições de imigração promovidas por Trump.
Com isso, o mercado de trabalho deve ser o principal fator analisado pelo Fed, como já antecipou Powell no mês passado.
“Esta situação incomum [de inflação acelerada e trabalho menos aquecido] sugere que os riscos de queda no emprego estão aumentando. E se esses riscos se materializarem, podem fazê-lo rapidamente na forma de demissões acentuadamente maiores e aumento do desemprego”, disse ele no Simpósio de Jackson Hole, em agosto.
O corte seria a primeira redução nas taxas em quase nove meses. A última baixa ocorreu em 19 de dezembro do ano passado, quando o Fed reduziu os juros americanos para a faixa entre 4,25% e 4,50%.
O banco manteve intacto o nível dos juros do país desde então e adotou uma postura cautelosa em relação à política monetária –despertando a ira do presidente Donald Trump, que iniciou uma escalada de ataques sem precedentes contra a instituição.
Neste ano, Trump fez diversas declarações públicas contra o presidente Powell, chegando a dizer que o mandatário estaria “fora do banco em breve”. As falas causaram temores no mercado sobre uma possível interferência do Executivo americano no Fed, o que minaria a independência da autoridade monetária.
No início desta semana, aliás, Trump voltou a pressionar a instituição ao pedir que o presidente do Fed promova um corte maior nas taxas. “‘Tarde demais’ [apelido em referência a Powell] deve cortar as taxas de juros, agora, e mais do que ele tinha em mente. O setor imobiliário vai disparar!!!”, escreveu Trump na Truth Social.
Powell, no entanto, manteve a postura de cautela, evitando se comprometer com um corte.
O presidente americano também iniciou uma campanha para tentar destituir Lisa Cook, única diretora negra no Fed, do cargo, acusando-a de uma suposta fraude na documentação de uma hipoteca. Apesar da ofensiva, um tribunal rejeitou a demissão.
Na segunda-feira (15), no entanto, Trump teve uma vitória: seu indicado ao conselho de diretores do Fed, Stephen Miran, foi aprovado pelo Senado por 48 votos a 47.
Miran substitui Adriana Kugler, que antecipou sua saída do cargo em agosto. Na ocasião, Trump afirmou que Powell deveria seguir o exemplo da diretora e também pedir demissão.
Agora, o republicano conta com três indicados por ele no conselho de política monetária. Os diretores Christopher Waller e Michelle Bowman, os únicos votos contrários à manutenção dos juros na última reunião do Fed, também foram conduzidos ao cargo por Trump.
Isso significa que, caso tenha sucesso em sua tentativa de demitir Lisa Cook, Trump poderia indicar outro diretor para cumprir seu mandato, que termina em janeiro de 2038, e teria maior influência sobre as decisões de juros no país, com 4 dos 7 membros fixos do Fomc. Nas decisões de juros, há, ainda, a participação em regime de rodízio de outros 5 diretores regionais.
No Brasil, o Copom deve suavizar o tom do seu discurso depois de uma evolução favorável do cenário econômico nas últimas semanas.
No encontro anterior, em julho, o colegiado do Banco Central interrompeu a sequência de altas de juros com a Selic no maior nível desde 2006 e adotou uma linguagem cautelosa ao falar dos próximos passos, prevendo uma “continuação na interrupção do ciclo” em setembro.
A expectativa dos economistas ouvidos pela Folha é que, dessa vez, o Copom demonstre mais convicção de que a estratégia de manter os juros estáveis no atual patamar por “período bastante prolongado” será suficiente para levar a inflação de volta à meta.