(UOL/FOLHAPRESS) – Se você foi à praia nas férias e tomou um daqueles inevitáveis “caldos”, provavelmente sentiu nos olhos e na garganta a força do sal da água do mar. Mas por que os oceanos são salgados, se os rios que deságuam neles carregam água doce?

A resposta exige uma viagem de volta no tempo, até cerca de 4 bilhões de anos atrás. No início da formação da Terra, enormes quantidades de vapor de água eram lançadas pelos vulcões e se acumulavam em uma atmosfera primitiva.

Quando a temperatura do planeta caiu, esse vapor se condensou, e a superfície terrestre foi castigada por longos períodos de chuva. Esse dilúvio lavou o planeta: minerais e sais das rochas foram dissolvidos e arrastados até as depressões mais profundas, onde se acumularam com a água. O resultado foi o nascimento dos primeiros oceanos —já carregados de sais minerais.

QUANTO SAL TEM O MAR?

Estimar o volume exato é complicado, mas cientistas do U.S. Geological Survey, centro de pesquisas ligado ao governo norte-americano, indicam que os oceanos contêm algo em torno de 50 trilhões de toneladas de sal. Se fosse possível espalhar tudo isso sobre os continentes, a camada teria cerca de 150 metros de altura. Ou seja: é muito sal.

Em média, cada litro de água do mar carrega 35 gramas de sal, embora a concentração varie de acordo com a região. Perto dos polos, a salinidade diminui por causa do derretimento das geleiras e das chuvas frequentes.

Já no Mar Morto, a concentração chega a incríveis 300 gramas por litro —quase dez vezes mais que o oceano. O motivo está no isolamento: trata-se de um mar fechado, alimentado pelo Rio Jordão, cuja vazão de água doce foi drasticamente reduzida pelo uso humano. Menos água entrando significa menor volume e mais sais acumulados.

Como cerca de 97% da água do planeta está nos oceanos, dá para concluir que os rios e as chuvas não são suficientes para alterar a salinidade. Além disso, apesar de todo esse sal, vale lembrar que ele não evapora com a água. Por isso a chuva é “doce”, mesmo que tenha se formado a partir da evaporação dos mares.

DO QUE É FEITO O SAL DO MAR?

A maior parte —cerca de 85% —é cloreto de sódio, o mesmo sal que usamos na cozinha. Nos rios, no entanto, esse percentual é muito menor, em torno de 16%.

Já elementos como cálcio, bicarbonato e sílica aparecem em maior quantidade nos rios do que nos oceanos. Isso acontece, em parte, porque incontáveis criaturas marinhas, ao longo de bilhões de anos, extraíram esses minerais da água para construir conchas, esqueletos e recifes, alterando o “cardápio” químico dos oceanos.

POR QUE NÃO BEBEMOS ÁGUA DO MAR?

Com tanta abundância, parece tentador transformar a água do mar em potável. O problema é que a dessalinização ainda é um processo caro, lento e cheio de entraves. A tecnologia mais moderna, chamada osmose reversa, funciona em usinas espalhadas por países do Oriente Médio. Mas o balanço não é animador: são necessários dois litros de salmoura (líquido cheio de sal) para gerar apenas um litro de água doce.

O resíduo gerado é um desafio por si só. Em cidades gigantes como São Paulo, a quantidade seria tão grande que o descarte poderia contaminar o solo e outras fontes de água doce. Em outras palavras, enquanto não houver um jeito mais eficiente de separar o sal da água, os oceanos continuarão sendo imensos, azuis e quase intocados como fonte de hidratação.