SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Promotores do Ministério Público de São Paulo ofereceram denúncia contra três policiais militares pela tentativa de homicídio contra Evandro Alves da Silva, motoboy ferido durante a Operação Escudo, em 2023.

A acusação afirma que o motoboy estava desarmado no momento em que os três PMs atiraram contra ele. Imagens das câmeras corporais mostraram que eles tomam a iniciativa no ataque, e que há indícios de que a arma foi colocada na cena pelos próprios policiais.

“Versão apresentada pelos oficiais trazia que a vítima se encontrava armada dentro do imóvel, o que foi desmentido pela análise das câmeras operacionais portáteis que usavam”, disse a Promotoria, em nota. “Com ela, ficou provado que o homem não possuía nenhuma arma de fogo no momento da chegada dos policiais.”

Evandro é um dos três únicos sobreviventes de ataques da Operação Escudo, e é o único que fala publicamente sobre o que ocorreu. Nos outros dois casos, há um homem preso e outro que responde em liberdade, mas perdeu a voz por causa dos ferimentos.

O motoboy escapou da morte no dia 30 de agosto de 2023, após ser atingido por ao menos dois tiros, perder o baço e a ponta do dedo mínimo da mão esquerda e quebrar oito costelas.

Os três PMs denunciados participaram diretamente do ataque. A justificativa dos PMs, apresentada na delegacia, é a de que eles estavam patrulhando o morro José Menino quando avistaram um grupo de suspeitos dispersando ao ver o carro de polícia.

Eles alegaram que perderam os suspeitos de vista, mas ao entrar numa viela encontraram Evandro armado dentro da sala, e que o soldado Daniel Pereira Noda atirou após ele desobedecer a ordem para largar a arma.

Os vídeos gravados pelas câmeras corporais não trazem qualquer registro do grupo de suspeitos que, na versão dos policiais, teriam se dispersado. Além disso, deixam claro que Noda atirou primeiro e gritou depois para que largasse a arma —o que desrespeita as normas operacionais da própria PM.

Evandro não aparece armado em nenhum momento nas gravações. Uma das principais evidências a favor dele, no entanto, está numa outra imagem que dura menos de um segundo. Ela mostra o sofá e uma cama à beira da janela no momento em que o sargento Thiago Freitas entra pela primeira vez na sala.

Sobre o colchão da cama, a imagem mostra apenas um agasalho escuro. Menos de dois minutos depois, aparece ali uma pistola Taurus calibre 765 que seria coletada pelos próprios PMs e apresentada na delegacia como a arma que o motoboy supostamente estaria portando.

Essa pistola, porém, estava no lado oposto e a alguns metros de distância da posição onde estava Evandro quando atingido. A perícia técnico-científica encontrou marcas de sangue no banheiro, por onde o motoboy escapou, mas nenhum vestígio próximo ao lado onde a pistola foi encontrada.

Além disso, uma gravação também mostra que, após o sargento sair do quarto pela primeira vez, o soldado Noda se agacha próximo à janela e sua câmera capta o ruído de um objeto caindo, possivelmente a pistola encontrada pouco depois sobre o colchão.

Noda era o único dos três PMs envolvidos diretamente na ocorrência que carregava uma bolsa.