SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Citada por possível envolvimento na morte do ex-delegado geral de São Paulo Ruy Ferraz Fontes na noite desta segunda-feira (15), a facção criminosa PCC (Primeiro Comando Capital) tem histórico de planejar ou matar autoridades desde o início dos anos 2000, cerca de dez anos após ser criada na Casa de Custódia de Taubaté, em 1993.
Além de um juiz, centenas de policiais militares, agentes penitenciários e até uma psicóloga foram assassinados a mando da facção criminosa.
Os ataques são planejados. Integrantes do PCC estudam informações pessoas sobre a vítima e ficam de tocaia antes dos assassinatos.
Relembre alguns casos a seguir:
*
ASSASSINATO DE JUIZ (2003)
Em março de 2003, o juiz Antonio José Machado Dias foi assassinado a tiros após ser vítima de uma emboscada quando saía do fórum onde atuava, em Presidente Prudente. Ele era responsável pela Vara de Execuções Criminais em Presidente Prudente.
Quatro tiros foram disparados. Um deles atingiu a cabeça do magistrado, que morreu ainda no local. Cinco pessoas viriam a ser condenadas pela morte de Dias, entre as quais Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, líder da facção e hoje preso em penitenciária federal.
O assassinato é considerada o primeiro ataque do crime organizado a uma autoridade do Poder Judiciário e veio, disseram autoridades na época, em represália à inauguração do CRP (Centro de Readaptação Penitenciária) em Presidente Bernardes (SP), criado em 2002 para abrigar líderes de facções.
ATAQUES DE MAIO (2006)
Mais tarde, em maio 2006, a decisão do Governo de São Paulo de transferir mais de 700 presos ligados ao PCC a um presídio de segurança máxima no interior paulista desencadeou uma onda de atentados que culminou em 564 pessoas mortas. Ao todo, calcula-se que 505 civis e 59 agentes públicos foram mortos em apenas dez dias. Os ataques de maio, como ficaram conhecidos, causaram também rebeliões em 74 presídios estaduais em São Paulo.
ASSASSINATO DE DIRETOR-GERAL DO CDP (2007)
Em 2007, Wellington Rodrigo Segura, então diretor-geral do CDP (Centro de Detenção Provisória) de Mauá, foi morto por ordem do PCC quando conversava dentro de um carro em frente à casa de uma funcionária do CDP. Ele foi atingido com 22 tiros. A mulher, alvo de quatro disparos, sobreviveu. Segundo investigações, Segura era considerado “linha dura” pela facção, que não gostava da maneira como o diretor trabalhava.
AGENTE DO CRP (2009)
Em 2009, um agente penitenciário do CRP também viria a ser assassinado. Denilson Dantas Jeronimo, a vítima, foi morto a tiros em frente ao portão da própria casa. Ele estava ao lado de sua namorada.
ONDA DE ATENTADOS (2012)
Em 2012, por sua vez, uma onda de ataques do PCC contra policiais militares terminou com mais de 100 agentes da corporação assassinados em São Paulo.
Um deles foi Marco Aurélio de Santi, alvo de seis tiros quando estava dentro de seu carro, uma Saveiro branca, em São Carlos. Ele foi assassinado em setembro daquele ano, mesmo mês em que a facção matou o sargento Adriano Simões da Silva, morto com 17 disparos quando trabalhava como segurança numa rede de supermercados em Araraquara.
A onda de ataques também vitimou a policial militar Marta Umbelina da Silva, morta em novembro de 2012 na frente da própria filha em Brasilândia, na zona norte de São Paulo. O autor do crime, que estava de tocaia, efetuou pelo menos 10 disparos contra a agente.
CAMPO GRANDE (2015)
Há dez anos, em 2015, o agente penitenciário Carlos Augusto Queiroz de Mendonça também foi morto a mando da facção. O assassinato se deu dentro do Estabelecimento Penal de Regime Aberto e Casa do Albergado de Campo Grande (MS).
ASSASSINATOS EM CASCAVEL (2016-2017)
Um ano depois, em 2016, o agente penitenciário federal Alex Belarmino Almeida Silva foi morto em Cascavel (PR), onde atuava num presídio de segurança máxima.
A investigação apontou que a facção chegou a alugar um imóvel ao lado daquela onde Belarmino morava para monitorar os passos do agente. Ele havia acabado de sair de casa para trabalhar quando foi assassinado, atingido por 23 tiros.
Na mesma cidade, no ano seguinte, a psicóloga Melissa de Almeida Araújo foi morta por criminosos que a seguiam desde a saída da penitenciária federal onde trabalhava. Foi alvo de uma emboscada orquestrada pelo PCC quando estava dentro do carro com o marido, o policial civil Rogério Ferrarezi, e o filho de dez meses do casal.
Rogério chegou a ser atingido, mas sobreviveu. O filho saiu ileso. Melissa, porém, acabou morta com dois disparos na cabeça.
CASO GRITZBACH (2024)
Os assassinatos também miram delatores da facção. No ano passado, o corretor Antonio Vinícius Gritzbach foi morto a tiros no aeroporto de Guarulhos, em São Paulo. Ele havia acabado de deixar a área de desembarque do terminal 2 do aeroporto quando homens encapuzados saíram de um veículo e atiraram contra o empresário, delator do PCC.
Gritzbach já havia sofrido um atentado no final de 2023 num imóvel no Tatuapé, na zona leste de São Paulo.
PLANO CONTRA AUTORIDADES
Para além daqueles concretizados, o PCC também chegou a orquestrar ataques a outras autoridades planos que só não foram adiante porque acabaram descobertos antes de serem executados.
O próprio Ruy Ferraz, morto com tiros de fuzis nesta segunda-feira, já havia sido jurado de morte pela facção criminosa.
– Prisão em Campinas, 2025
Em agosto deste ano, o Ministério Público de São Paulo prendeu dois empresários suspeitos de participar de um plano para matar o promotor Amauri Silveira Filho, que atua em Campinas e já coordenou o Gaeco (Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado). A ordem teria partido da cúpula da facção.
– Caso Moro e promotor, 2023
Antes, em 2023, operação da Polícia Federal desmantelou um plano do PCC para assassinar o ex-juiz e hoje senador Sergio Moro (União Brasil), que foi também ministro da Segurança Pública no governo Jair Bolsonaro (PL).
A trama envolvia monitorar Moro e membros de sua família em busca de informações que auxiliassem a facção a assassiná-lo.
Outro alvo do mesmo plano era o promotor Lincoln Gakiya, do Ministério Público de São Paulo, um dos principais nomes no combate ao PCC do país.
Gakiya sofre há anos com ameaças da facção. Em 2019, por exemplo, agentes penitenciários de Presidente Bernardes apreenderam uma carta que ordenava o assassinato do promotor. “A causa é justa e a luta é nobre. Este lixo de promotor da [sic] Gaeco ten q morrer”, diz trecho da mensagem.