SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A investigação sobre o assassinato do ex-delegado-geral de São Paulo, Ruy Ferraz Fontes, 64, apura se a morte foi uma represália ao trabalho que ele vinha fazendo à frente da Secretaria de Administração de Praia Grande, na Baixada Santista —cargo que ocupava desde janeiro de 2023.

Ruy foi morto a tiros após ser perseguido por criminosos depois de deixar a prefeitura, na noite desta segunda-feira (15).

A força-tarefa criada para investigar a morte do ex-delegado tem como foco o seu atual trabalho, não a atuação dele como delegado —o primeiro a investigar o PCC (Primeiro Comando da Capital).

A fiscalização de atividades na cidade litorânea, principalmente na região da orla, pode ter gerado inimigos, que buscavam tirá-lo do caminho, segundo fontes ouvidas pela Folha de S.Paulo.

A investigação, que teve início logo após o assassinato, tem certeza da participação do crime organizado na ação, e vê indícios parecidos com os identificados na morte do empresário e delator do PCC Antônio Vinícius Gritzbach, em novembro de 2024, na área de desembarque do aeroporto de Guarulhos, na Grande São Paulo

Entre as semelhanças estão o uso de fuzil e a forma de manusear o armamento, algo classificado como profissional por quem investiga o crime. No caso de Gritzbach, a Polícia Civil concluiu que houve participação do crime organizado e de policiais militares.

Já se sabe que os criminosos que mataram Ruy usaram dois tipos de fuzil, com calibres 556 e 7,62 mm.

A polícia analisa as imagens obtidas no local do crime. Foram coletados também material biológico no interior e exterior dos carros abandonados pelos assassinos.

Ambos os veículos —um Toyota Hilux e um Jeep Renegade— foram furtados na capital paulista em março e junho. A investigação apura se os carros estavam escondidos durante esse tempo. Placas foram encontradas no interior de um deles, o que pode indicar troca constante de identificação dos carros.

A reportagem apurou que em um dos carros foi encontrada uma pistola 9 mm. No Renegade foram apreendidos um óculos, um boné e carregadores de fuzil 556 e 7,62. No mesmo automóvel, com uso de swab, uma espécie de cotonete, foram coletados material genético, que possibilitou identificar um suspeito de envolvimento no ataque.

Ruy Ferraz Fontes era considerado um dos maiores especialistas no PCC. Quando chefiava a 5ª Delegacia de Polícia de Investigações sobre Furtos e Roubos a Bancos do Deic (Departamento Estadual de Investigações Criminais), ele se tornou o primeiro delegado a investigar a atuação da organização criminosa no estado.

Ele atuou por 40 anos na Polícia Civil, tendo iniciado a carreira como delegado titular da delegacia do município de Taguaí, a 350 km da capital paulista, em 1988. Ao longo dos anos, foi delegado assistente do DHPP (Divisão de Homicídios do Departamento Estadual de Homicídios e de Proteção à Pessoa), delegado titular da 1ª DP da Divisão de Investigações Sobre Entorpecentes do Denarc (Departamento Estadual de Repressão ao Narcotráfico), além da sua gestão à frente da 5ª DP de Investigações sobre Furtos e Roubos a Bancos do Deic e de outras delegacias e divisões na capital.

Na gestão do governador João Doria, ele assumiu o maior posto da Polícia Civil do estado, como delegado-geral, de janeiro de 2019 a abril de 2022.