SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A Rússia encerrou seu exercício militar junto às fronteiras da Otan em Belarus nesta terça (16) com uma simulação de ataque nuclear que incluiu o novo míssil do arsenal de Vladimir Putin, o Orechnik, que foi testado em combate na Ucrânia em novembro passado.
A demonstração de força estava prevista, sendo pela primeira vez admitida pelos envolvidos. “Estamos praticando de tudo aqui. Eles [os ocidentais] sabem disso também, não estamos escondendo. De armas convencionais a ogivas nucleares, precisamos ser capazes de fazer tudo isso”, disse o ditador belarusso, Aleksandr Lukachenko.
O próprio Putin prestigiou o fim da manobra, vestindo uniforme militar como tem feito com mais frequência desde que invadiu a Ucrânia, em 2022. No campo de Mulino (Rússia), ele repetiu o mantra de que o treino é defensivo e disse que foram envolvidos 50 mil militares russos e 7.000 de Belarus.
Os jogos de guerra começaram na sexta (12) envolvendo forças que se mobilizam anualmente de forma rotativa nos quatro principais distritos militares do país, com participação da ditadura aliada. Foi algo bem menor do que na edição passada, com 200 mil soldados em 2021, devido à Guerra da Ucrânia.
Chamada de Zapad (Ocidente), a manobra foi criticada pela Otan, a aliança militar ocidental que teve de criar uma missão de reforço do espaço aéreo do Leste Europeu após drones russos entrarem na Polônia na semana passada, naquilo que o Kremlin disse ter sido um acidente durante ataque à Ucrânia.
Mas Moscou mordeu e assoprou: convidou pela primeira vez desde a invasão do vizinho militares americanos para observar as manobras. Por óbvio, o que eles podem ver é limitado, mas o gesto simboliza a renovada, ainda que tumultuada, relação com os Estados Unidos. Vídeo do Kremlin mostra Putin agradecendo a presença de observadores estrangeiros, mas não é possível ver nenhum americano.
Na parte da mordida está o fecho nuclear das manobras, que nesta terça também incluíram ataque com mísseis convencionais com dois bombardeiros capazes de lançar arma atômicas Tu-160 no mar de Barents (Ártico) e a simulação da repulsa a uma invasão anfíbia não longe dali, perto de Murmansk.
Segundo o Ministério da Defesa de Belarus, o lançamento simulado do Orechnik (aveleira, em russo), um míssil balístico de alcance intermediário armado com ogivas independentes, desenhado para guerras nucleares mas que na Ucrânia foi testado com cargas cinéticas, sem explosivos.
Lukachenko já disse que Putin irá colocar ao menos um regimento da arma, que tem alcance para cobrir com folga toda a Europa e o líder russo chama de “impossível de interceptar”. No ano passado, Moscou também posicionou ogivas nucleares táticas no aliado, aquelas que são teoricamente usadas em combate restrito ao campo de batalha.
Tudo isso gerou alarme nos vizinhos do Báltico e da Polônia. “Mas nós não estamos absolutamente planejando ameaçar ninguém com isso”, disse Lukachenko. Se alguém acredita nele, é outra questão.
O Zapad simula a invasão de Belarus pela Otan, com um contra-ataque russo-belarusso e retomada de território, inclusive com o emprego de armas nucleares táticas. Por óbvio, são escolhidos nomes fictícios para as forças envolvidas.
Ele envolve forças em todo o flanco oeste russo, da Ucrânia até o Ártico, se justapondo à área da Operação Sentinela Oriental, de reforço do espaço aéreo do lado da Otan. Caças franceses já foram enviados à Polônia, e logo chegarão modelos britânicos.
Mas o mais importante é desenvolver sistemas de defesa aérea que possam lidar não só com mísseis e caças, mas com enxames de drones de ataque e seus precursores sem carga bélica, que servem de iscas. Nesta terça, a vulnerável Letônia, ex-república soviética que sempre teme a cobiça de Moscou, disse que a aliança militar não tem recursos prontos para isso ainda.
A Polônia concorda e, apesar de ter interceptado alguns dos 21 drones que violaram seu espaço aéreo no que chamou de teste intencional de Moscou, vai enviar uma equipe a Kiev para aprender as táticas ucranianas para lidar com drones, que evoluem de forma exponencial desde que o conflito começou.