BUENOS AIRES, ARGENTINA (FOLHAPRESS) – A Justiça concedeu um pedido da secretária-geral da Presidência da Argentina, Karina Milei, e retirou a proibição que impedia que jornalistas divulgassem áudios em que ela teria sido gravada sem autorização.
A irmã de Javier Milei havia dito em seu pedido, nesta terça-feira (16), que não queria censurar os jornalistas, mas proteger seus direitos, já que os áudios teriam sido obtidos ilegalmente, manipulados e editados com a intenção de prejudicá-la.
Ela criticou o argumento de que a liberdade de imprensa pode justificar a divulgação de informações obtidas de maneira ilícita, afirmando que isso é um ataque à democracia.
Karina pediu que a proibição fosse retirada, afirmando que os áudios já haviam sido divulgados em meios de comunicação estrangeiros e que a sua divulgação não comprometeria a segurança dela, de terceiros ou a segurança nacional. Ela considerou que a medida de precaução tornou-se irrelevante.
A decisão foi tomada pelo juiz Alejandro Maraniello.
O episódio é parte de um escândalo que abalou o governo Milei nas últimas semanas, quando outras gravações, atribuídas ao ex-diretor da Andis (Agência Nacional para Pessoas com Deficiência) Diego Spagnuolo, relatam um suposto esquema de corrupção na compra de medicamentos pelo Estado.
O esquema, que envolveria a drogaria Suizo-Argentina (responsável pela distribuição dos medicamentos), beneficiaria Karina com propinas de 3% do valor desembolsado.
As gravações foram divulgadas dias antes das eleições legislativas na província de Buenos Aires, no último dia 7 de setembro, e rapidamente ganharam a opinião pública. O governo avalia que o escândalo prejudicou seu desempenho nas urnas o grupo político de Milei ficou quase 14 pontos atrás dos peronistas.
Após a divulgação dos áudios de Spagnuolo, o canal de streaming Carnaval publicou gravações que seriam de Karina Milei e teriam ocorrido sem autorização em uma reunião na Casa Rosada ou na Câmara de Deputados.
Como o conteúdo não era comprometedor, opositores passaram a acusar o governo de tentar impedir a divulgação para distrair a opinião pública e não ter de falar sobre o caso Spagnuolo, que continua sendo investigado.
Em 1º de setembro, um juiz havia autorizado a proibição da divulgação após um pedido do governo, que argumentou que os áudios faziam parte de uma operação de inteligência ilegal. A atuação governamental foi respaldada pelo Ministério da Segurança, sob a liderança de Patricia Bullrich.
A denúncia apontava que houve uma sequência de espionagem ilegal e edição clandestina de gravações destinadas a influenciar a opinião pública antes das eleições, e que essas gravações poderiam ter sido feitas dentro da Casa Rosada.
Bullrich chegou a dizer, sem apresentar provas, que os áudios eram parte de uma operação de ex-agentes secretos russos e venezuelanos. A Embaixada da Rússia negou participação no ocorrido.
O canal Carnaval foi identificado como o principal responsável pela divulgação inicial dos áudios, tendo o jornalista Mauro Federico afirmado possuir mais de 50 minutos de gravações de Karina que seriam expostos aos poucos.
O governo também apontou como responsáveis pela divulgação pessoas ligadas ao kirchnerismo, como o empresário Pablo Toviggino e o apresentador de TV Jorge Rial.
Um outro pedido do governo foi feito em conjunto, para que a Justiça fizesse buscas nas casas dos jornalistas que divulgaram o conteúdo, o que foi negado. Com a proibição da exibição na Argentina, que os opositores a Milei chamaram de “censura prévia”, uma rádio do Uruguai chegou a divulgar um outro trecho de áudio de Karina.
Nos próximos dias, a Justiça deve retirar o sigilo para que a defesa possa acessar as provas no caso Spagnuolo. A partir disso, o ex-diretor da Andis, que era advogado pessoal de Javier Milei, poderia se apresentar como colaborador, o que preocupa o governo.