SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O diretor do FBI, Kash Patel, disse nesta terça-feira (16) que não há “informações confiáveis” nos arquivos da Polícia Federal dos Estados Unidos que indiquem tráfico de mulheres por Jeffrey Epstein, empresário condenado por abuso sexual de menores de 18 anos.
“Não há informações confiáveis, nenhuma”, afirmou o funcionário durante uma audiência do Comitê Judiciário do Senado. Se houvesse, continuou, ele teria “apresentado o caso ontem”, e apontado “que ele traficava para outros indivíduos”.
As declarações ocorrem no momento em que apoiadores do presidente Donald Trump, muitos deles obcecados pelo caso há anos, criticam o governo. Isso porque aliados radicais do republicano, incluindo Patel, descumpriram a promessa de divulgar uma suposta lista de clientes do empresário caso chegassem ao poder.
Essa promessa gerou uma expectativa de que Trump iria expor crimes sórdidos cometidos por pessoas notórias. Por isso, quando o governo mudou abruptamente de rumo, em julho, e afirmou que a tal lista não existia, muitos apoiadores interpretaram a nova posição como um acobertamento, uma vez que o republicano teve uma amizade de anos com Epstein.
Agora, até mesmo os democratas adotaram essa bandeira e exigem transparência sobre os supostos “arquivos do Epstein”. O empresário se suicidou em uma cela da prisão de Nova York há seis anos, enquanto aguardava julgamento por tráfico de menores.
Durante a audiência desta terça, Patel tentou desviar a culpa para uma investigação federal sobre Epstein conduzida na Flórida a partir de 2004, dizendo que o procurador dos EUA encarregado dessa investigação restringiu indevidamente seu escopo explicação que não foi mencionada no memorando do Departamento de Justiça de julho que encerrou o caso.
Ainda no Senado, Patel defendeu seu mandato ao responder perguntas, inclusive de aliados de Trump, sobre a investigação do assassinato do ativista conservador Charlie Kirk.
“Acho repugnante qualquer pessoa descartar os 31 anos de experiência combinados que agora estão no comando do FBI”, disse Patel, referindo-se a si mesmo e a Dan Bongino, um agente do Serviço Secreto dos EUA que se tornou podcaster e agora atua como diretor adjunto do FBI. “Não vou a lugar nenhum.”
Patel atraiu críticas por publicar incorretamente nas redes sociais na última quarta (10) que o responsável pelo tiro que matou Kirk estava sob custódia. O FBI posteriormente esclareceu que, naquele momento, duas pessoas haviam sido interrogadas e liberadas. O verdadeiro suspeito, Tyler Robinson, 22, só foi preso um dia depois, na noite de quinta (11).
“Patel estava tão ansioso para levar o crédito por encontrar o assassino de Kirk que violou um dos princípios básicos da aplicação eficaz da lei em uma fase crítica de uma investigação”, disse o senador Dick Durbin, principal democrata no Comitê Judiciário do Senado, no início da audiência. “Patel já causou danos incalculáveis ao FBI, colocando nossa segurança nacional e pública em risco.”
Trump defendeu publicamente a condução da investigação por Patel, um leal apoiador. Com menos experiência que seus antecessores, o funcionário ganhou a admiração do presidente ao acusar o FBI de agir com parcialidade contra o republicano.
Agora, Patel se esforça para alinhar o órgão, que tradicionalmente tenta se isolar de influência política, a Trump e sua agenda. Desde a posse, em janeiro, o FBI realizou uma purga que afetou dezenas de agentes que trabalhavam em casos penais relacionados ao presidente ou que eram percebidos como desleais a ele, incluindo funcionários com profunda experiência no combate a ameaças à segurança nacional.
Na semana passada, três funcionários de alto escalão apresentaram uma ação judicial contra Patel sob a alegação de que foram vítimas de uma “campanha de represálias” devido a uma suposta “incapacidade de demonstrar lealdade política suficiente”.
Segundo o processo, Patel disse em particular que seu trabalho dependia da expulsão de pessoas que estiveram envolvidas em investigações sobre Trump. Publicamente, o diretor diz que que quaisquer funcionários demitidos “não conseguiram atender às necessidades do FBI e cumprir seus deveres constitucionais”.
Além disso, dois agentes recentemente demitidos divulgaram declarações antes da audiência condenando suas remoções.
O ex-agente especial supervisor Christopher Meyer, que diz ter sido demitido após ser incorretamente vinculado à investigação sobre o manuseio de documentos sigilosos por Trump, afirmou em uma declaração que sua lealdade permanece com a Constituição dos EUA. “Os princípios de verdade, justiça e devido processo são fundamentais para esta grande nação e para o trabalho do FBI”, disse ele.