SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) – Entre as curiosidades do reino animal, poucos híbridos chamam tanta atenção quanto o ligre. Resultado do cruzamento entre um leão-macho (Panthera leo) e uma tigresa (Panthera tigris), esse felino impressiona pelo porte gigantesco e pelas características herdadas de ambas as espécies.
Apesar de ser relativamente raro, o ligre já é reconhecido como o maior felino do mundo, com registros que superam facilmente os 400 quilos e mais de 3 metros de comprimento quando adulto.
GIGANTISMO HÍBRIDO
O tamanho excepcional do ligre não é mero acaso. A explicação está na genética. Nos leões, os genes paternos estimulam o crescimento; nas tigresas, os genes maternos costumam frear esse processo. Quando o cruzamento acontece, a tigresa não transmite o mesmo mecanismo de inibição, permitindo que o filhote cresça por mais tempo e de forma acelerada.
Esse fenômeno é conhecido como gigantismo híbrido, já documentado em estudos de genética de mamíferos. É por isso que os ligres ultrapassam tanto os limites de peso e altura dos seus pais.
Apesar da fama de “crescer para sempre”, a ciência é clara: eles não continuam aumentando de tamanho durante toda a vida. Como qualquer mamífero, chegam a um ponto em que o crescimento desacelera e para, geralmente após alguns anos.
CARACTERÍSTICAS
Fisicamente, o ligre mistura traços marcantes das duas espécies. A pelagem costuma ser de tom dourado como a dos leões, mas com listras tênues herdadas dos tigres.
Alguns desenvolvem juba, embora menos densa que a de um leão. Também apresentam um comportamento curioso: gostam de nadar, hábito típico dos tigres, e ao mesmo tempo podem demonstrar padrões sociais mais próximos dos leões.
BEM-ESTAR E CONSERVAÇÃO
Os ligres não existem na natureza. Eles são frutos de cruzamentos realizados em cativeiro, geralmente em zoológicos ou parques particulares. Esse tipo de reprodução controlada, feita exclusivamente em cativeiro, é o que permite o gigantismo híbrido característica que pode levar a problemas de saúde nos filhotes.
Por isso, especialistas em conservação alertam para os riscos desse tipo de reprodução, que não tem valor para a preservação das espécies e pode trazer desafios de saúde para os animais. Mesmo assim, exemplares como Hercules considerado pelo Guinness World Records o maior felino vivo, com cerca de 418 quilos continuam despertando curiosidade do público e da ciência.
Segundo a PETA (sigla em inglês para People for the Ethical Treatment of Animals), uma das principais organizações de direitos animais do mundo, os ligres frequentemente nascem via cesariana por conta da predisposição ao gigantismo, e muitas vezes não sobrevivem.
“Como todos os grandes felinos híbridos, eles frequentemente sofrem de defeitos neurológicos, esterilidade, câncer, artrite, falência de órgãos e diminuição da expectativa de vida”, explica a PETA. Ainda de acordo com a ONG, animais como o ligre são “criados para sofrer” em nome do lucro daqueles que os expõem.