RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – Rondônia tem o maior percentual de trabalhadores por conta própria do Brasil, de acordo com dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

No segundo trimestre de 2025, o estado da região Norte somava 283 mil autônomos, o equivalente a 35,3% da população ocupada com algum tipo de atividade formal ou informal (802 mil).

Ou seja, em torno de um terço da mão de obra recorria ao trabalho por conta própria. No Brasil, o percentual foi de 25,2% (10,1 pontos percentuais a menos).

Os autônomos superavam 30% em outras duas unidades da federação: Maranhão (31,8%) e Amazonas (30,4%). As menores proporções, por outro lado, foram verificadas no Distrito Federal (18,6%) e no Tocantins (20,4%).

No caso de Rondônia, o trabalho por conta própria ajuda o estado a ter a segunda menor taxa de desemprego do Brasil, estimada em 2,3% de abril a junho.

Apenas Santa Catarina mostrou um índice mais baixo (2,2%). Os dados integram a Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua).

O trabalho autônomo está bastante associado à informalidade, que inclui os populares bicos, embora o país tenha experimentado um avanço no registro de MEIs (microempreendedores individuais).

Em Rondônia, do total de 283 mil trabalhadores por conta própria, 235 mil não tinham CNPJ no segundo trimestre. Isso significa que 83% eram informais –8 em cada 10. No Brasil, a proporção foi de 73,1%.

Parte do contexto estadual pode refletir gargalos na área de educação, de acordo com William Kratochwill, analista da pesquisa do IBGE.

O percentual de pessoas de 14 anos ou mais sem instrução ou com menos de um ano de estudo foi de 5,7% em Rondônia, acima do Brasil (4,2%), indica a Pnad. Já a proporção de habitantes da mesma faixa etária com superior completo foi de 13,6% no estado, menor do que no país (18%).

Esse quadro, conforme Kratochwill, pode dificultar a inserção no mercado e levar profissionais para a informalidade e o trabalho por conta própria.

O pesquisador destaca ainda que Rondônia tem 19,2% da população ocupada inserida nas atividades de agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura. É mais que o dobro da média brasileira (7,5%).

“Esse cenário sugere que muitos trabalham por conta própria como uma alternativa às vagas formais escassas, sem estrutura empresarial formal. A alta participação dos setores primários e informais pode incentivar o trabalho por conta própria”, diz.

PERCENTUAL AVANÇA APÓS PANDEMIA

A Pnad mostra que a participação dos autônomos em Rondônia aumentou após a pandemia.

Eles chegaram a representar 37,8% da população ocupada no segundo trimestre de 2023 –recorde da série iniciada em 2012. O percentual estava em 29,1% antes da crise, no quarto trimestre de 2019.

“A pandemia gerou desemprego. Pessoas que foram demitidas montaram seus próprios negócios”, afirma Otacílio Moreira de Carvalho, professor da Unir (Universidade Federal de Rondônia) e vice-presidente do Corecon (Conselho Regional de Economia) no estado.

Conforme o economista, pessoas com menos estudo tendem a atuar de maneira autônoma por dificuldade de inserção no mercado ou porque enxergam a chance de obter uma renda maior.

No segundo trimestre, o rendimento médio habitualmente recebido pelos trabalhadores por conta própria formalizados, com CNPJ, foi de R$ 3.973 por mês em Rondônia, aponta o IBGE.

O valor desse grupo, que é minoria, superou com folga a renda média dos empregados do setor privado com carteira assinada (R$ 2.606) e dos trabalhadores por conta própria informais, sem CNPJ (R$ 2.410).

O cenário é semelhante no Brasil. O rendimento dos trabalhadores por conta própria com CNPJ no país (R$ 4.934) também superou, na média, os ganhos dos empregados com carteira (R$ 3.151) e dos autônomos sem CNPJ (R$ 2.126).

O economista Avenilson Trindade, que foi secretário-adjunto de Desenvolvimento Econômico de Rondônia até julho, avalia que apostar em um negócio próprio é a saída para profissionais que encontram obstáculos devido à baixa escolaridade, mas também decorre de uma oportunidade de mercado em muitos casos.

“O desafio é mostrar que a formalização [dos empreendedores] não é custo. É investimento em seguridade social”, afirma Trindade, que é conselheiro do Corecon no estado.

Na visão de Carvalho, a liberdade de horários é outra possível explicação para o avanço do trabalho autônomo, assim como a chance de complementação da renda familiar.

Na Pnad, Rondônia é o estado com o maior percentual de ocupados por conta própria, de forma consecutiva, desde o terceiro trimestre de 2022.

O QUE EXPLICA O DESEMPREGO BAIXO?

A taxa de desemprego local no segundo trimestre de 2025 (2,3%) ficou próxima da mínima da série histórica (2,1%), registrada no terceiro trimestre do ano passado.

Kratochwill, do IBGE, reforça que a baixa desocupação é acompanhada por altos níveis de informalidade, indicando que muitos profissionais encontram trabalho, ainda que sem CNPJ ou carteira.

No segundo trimestre, a taxa de informalidade de Rondônia ficou em 47,7%. É a nona maior entre as unidades da Federação e está acima da média nacional à época (37,8%). O indicador mostra o percentual de ocupados sem CNPJ ou carteira em relação ao total.

O pesquisador do IBGE também chama a atenção para a participação do setor público em Rondônia. No segundo trimestre, 20% da população ocupada no estado estava no grupamento de atividades que inclui a administração pública, ante 18,4% no Brasil.

“Ou seja, 1/5 dos trabalhadores pode apresentar mais estabilidade, garantindo o consumo de bens e serviços que podem ser atendidos pelos trabalhadores por conta própria, mesmo que informalmente.”

Além da informalidade e do peso do setor público, Carvalho, da Unir, cita a “boa distribuição” geográfica da produção agroindustrial do estado. Isso, segundo ele, contribui para reduzir o desemprego, gerando vagas de trabalho fora da capital Porto Velho.

Trindade, por sua vez, avalia que o emprego vem respondendo a fatores como a alta na abertura de empresas, o aumento nas exportações e o aquecimento de serviços e comércio. Há, segundo o economista, escassez de mão de obra em profissões básicas, como jardineiros, babás e empregados domésticos.

A reportagem pediu posicionamento para o Governo de Rondônia sobre os dados, mas não recebeu retorno. Em agosto, quando o IBGE publicou os números da Pnad, uma nota da administração estadual associou a queda do desemprego a políticas públicas e ao ambiente de negócios local.