SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Morreu na madrugada desta terça-feira o ator e diretor Robert Redford, um dos grandes nomes do cinema dos Estados Unidos. A morte foi confirmada Cindi Berger, diretora da empresa de relações públicas Rogers & Cowan PMK, que trabalhou com Redford ao longo de sua carreira. Ela não informou o motivo da morte.
Como cineasta, Redford ficou conhecido por comandar o drama vencedor do Oscar de melhor filme “Gente como a Gente”, de 1980. Com o longa, ganhou a estatueta de melhor diretor.
De frente para as câmeras, trabalhou no filme de faroeste “Butch Cassidy and the Sundance Kid”, de 1969, que marcou um ponto de virada na sua carreira de ator, dando a ele projeção internacional. Quatro anos depois, fez “Golpe de Mestre”, pelo qual recebeu indicação ao Oscar de melhor ator pelo papel de um jovem golpista. A obra é considerada um clássico dos filmes de crime.
Em ambos os títulos, Redford contracenou com o ator Paul Newman, no que se tornou uma das duplas mais emblemáticas do cinema de faroeste. Newman, já mais experiente à época, ajudou a fazer de Redford uma estrela em Hollywood. A crítica elogiava a química dos dois em tela, apontando balanço entre humor e charme.
Nos bastidores da indústria, Redford foi um importante ativista ambiental, tendo defendido diversas campanhas ecológicas. Era progressista no âmbito político. Ele pedia pela conservação e ampliação dos parques nacionais nos EUA, advogou por iniciativas do uso de energia solar e eólica e falava publicamente sobre os perigos do aquecimento global.
Em 2005, fundou a instituição The Redford Center, que promove documentários sobre temas ambientais.
Seu interesse pelo ativismo aumentou com o filme “Todos os Homens do Presidente”, de 1976, no qual interpreta um jornalista que investiga o esquema de corrupção que tomava a Casa Branca na época do mandato de Richard Nixon. O escândalo, depois chamado de Watergate, levou à renúncia do Presidente.
Encarnar o repórter neste filme que é considerado até hoje um dos principais thrillers sobre o universo do jornalismo fez Redford querer se engajar mais em debates sociais.
Tanto é que cinco anos depois o cineasta ele criou o Sundance Institute, instituto de apoio a cineastas novatos, que deu origem ao Festival de Sundance, em Utah. O evento se tornou um importante reduto do cinema independente nos EUA. O festival foi nomeado em homenagem ao personagem de Redford em “Butch Cassidy and the Sundance Kid”.
Ali ganharam projeção nomes importantes da indústria, como Quentin Tarantino, que fisgou a atenção da crítica ao lançar “Cães de Aluguel” no festival em 1992, dois anos antes de explodir com “Pulp Fiction: Tempo de Violência”.
O Sundance ajudou também a catapultar as carreiras de Steven Soderbergh, Alexander Payne e, mais recentemente, da diretora Chloé Zhao, que venceu o Oscar por “Nomadland”, também exibido no festival.
Com sua pegada experimental, o Sundance servia como um braço do ativismo de Redford, que via no apoio a cineastas inexperientes uma forma de promover o diálogo e de reoxigenar a cultura americana.
Elegante e com cara de simpático, Redford foi considerado um dos maiores galãs da sua época. Ganhou esse status de forma definitiva com o filme “Nosso Amor de Ontem”, de 1973, em que vive um romance com a atriz Barbra Streisand.
Antes ele fez par com Jane Fonda em “Descalços no Parque”, de 1967, e na década seguinte viveu uma paixão com Meryl Streep no longa “Entre Dois Amores” (1985).
Nos anos 1990, Redford enveredou pelo caminho da direção e da produção. Fez o drama “Nada É para Sempre”, que concorreu a três Oscar, e depois “Quiz Show – A Verdade dos Bastidores”. Em 2007, dirigiu e atuou em “Leões e Cordeiros”, repetindo a parceria com Meryl Streep. Três anos mais tarde lançou “Conspiração Americana”, com James McAvoy no elenco.
Redford se afastou gradativamente das câmeras para se dedicar às palestras e ao festival que fundou. Entre seus últimos trabalhos estão “The Old Man and the Gun”, lançado há sete anos, sobre um criminoso aposentado. Redford disse que se aposentaria depois do longa.
Mas não resistiu à tentação e gravou uma breve participação na terceira temporada da série “Dark Winds”. Na cena, Redford encena uma partida de xadrez com o escritor George R.R. Martin, autor de “As Crônicas de Gelo e Fogo”, saga que inspirou “Game of Thrones”.
Redford foi casado com a historiadora Lola Van Wagenen, com quem teve quatro filhos. Um deles, Scott, morreu com aos meses de idade, vítima de síndrome da morte súbita infantil. O cineasta perdeu também outro filho, James, que morreu aos 58 anos por causa de um câncer.
Redford e Wagenen se separaram em 1985. Décadas mais tarde, em 2009, ele se casou mais uma vez, com a pintora Sibylle Szaggars, com quem ficou junto até a morte. Redford deixa a mulher e dois filhos.