BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Um grupo de produtores de laranja do Rio Grande do Sul apresentou um pedido emergencial ao governo federal para a compra de R$ 30 milhões de sua produção, para evitar o colapso da safra no estado.
O valor seria destinado à aquisição da produção das cooperativas filiadas à Unicafes RS (União das Cooperativas da Agricultura Familiar e Economia Solidária do Rio Grande do Sul), com até R$ 6 milhões gastos com cada entidade, para evitar a perda de milhares de toneladas da fruta.
O governo, no entanto, declarou às cooperativas que não tem o recurso em caixa e disse que está avaliando possíveis medidas para reduzir o impacto econômico.
No pedido enviado ao MDA (Ministério do Desenvolvimento Agrário), por meio de um documento que a Folha teve acesso, a Unicafes RS afirma que a crise com seus produtores começou após os Estados Unidos anunciarem, em julho, a possibilidade de impor tarifas de até 50% sobre produtos brasileiros.
Embora o suco de laranja tenha ficado de fora da taxação maior, sendo incluído em uma alíquota de 10%, a simples expectativa teria derrubado o mercado.
“O estrago já estava feito e em decorrência disso, faz mais de 45 dias que os negócios envolvendo a fruta laranja estão sem qualquer sinalização de comercialização, inclusive junto ao mercado europeu”, afirmou o presidente da Unicafes, Gervásio Plucinski, no ofício enviado ao governo.
Além da questão comercial, o setor afirma que foi atingido por condições climáticas adversas. Geadas e frios intensos no inverno gaúcho provocaram a queda precoce de frutas, ampliando os prejuízos.
Segundo estimativas da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Rio Grande do Sul, a safra 2025 teria alcançado um aumento de 30% na produtividade, com cerca de 180 milhões de toneladas produzidas no norte do estado.
Sem compradores, os pomares acumulam perdas. “As indústrias não sinalizam preços que cubram os custos, nem expectativa para compra dessa fruta”, afirmou a entidade.
Em resposta às cooperativas, a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), órgão federal que atua como um regulador do mercado nacional, reconheceu o problema, mas informou não ter orçamento para atender o pleito por meio do PAA (Programa de Aquisição de Alimentos).
“Neste momento, a Conab não dispõe de qualquer montante orçamentário que permita atender o pleito dessa organização”, disse o presidente da estatal, João Edegar Pretto.
A Conab sugeriu que a demanda fosse tratada pelos ministérios do Desenvolvimento Agrário e do Desenvolvimento e Assistência Social, responsáveis pelos recursos do programa.
O MDA reconheceu oficialmente os impactos da crise e, em nota técnica sobre o assunto, sugeriu alternativas aos produtores, como apoio à compra institucional feita por meio de chamadas públicas de órgãos federais, como Forças Armadas, universidades e hospitais.
Na semana passada, a Coordenação Geral de Aquisição e Distribuição de Alimentos do MDA afirmou que “pode se comprometer a mediar e articular diálogos com órgãos públicos federais”.
A divisão do ministério disse que “acolhe a demanda e se solidariza com a difícil realidade que vem sendo enfrentada pelas cooperativas produtoras de laranja do norte do Rio Grande do Sul”, mas explicou que “a viabilização destas aquisições não depende somente do esforço do MDA, mas fundamentalmente, dos órgãos a serem acionados”.
O fato é que, apesar de reconhecer a existência do problema, nenhuma solução financeira imediata foi garantida. A Unicafes alertou que a demora pode comprometer a sobrevivência da citricultura familiar no estado.
“A não intervenção neste momento pode comprometer a vida no campo de milhares de famílias que vivem da produção de citros, levando à dizimação dos pomares existentes em substituição a culturas de commodities, diminuindo a diversidade produtiva, e aumentando a monocultura”, declarou a organização.
A reportagem questionou o MDA e o Ministério do Desenvolvimento Social sobre o assunto. Não houve resposta até a publicação desta reportagem. A Conab declarou que “acompanha atentamente a situação da produção de laranja no Alto Uruguai, RS, e estuda a utilização da Política de Garantia de Preços Mínimos para solucionar a demanda”.
A instituição reafirmou que não tem orçamento próprio e que segue mediando o tema com os ministérios executores orçamentários. “Ressaltamos a necessidade de termos disponibilidade orçamentária para tanto”, declarou.